>Crianças Invisíveis (All the Invisible Children, 2005)
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O primeiro episódio de “Crianças Invisíveis” (“Tanza”) é dirigido pelo algeriano Mehdi Charef e fala sobre Tanza, um menino que vive em uma comunidade africana dominada por uma disputa interna. Tanza é somente um dos muitos meninos a serem recrutados para a luta armada em idade tenra, mas o que Charef quer mostrar é que, mesmo portando uma arma, esses meninos possuem sonhos, vontades e ídolos comuns a todas as crianças (num determinado momento do episódio, o close na arma de um dos garotos revela um adesivo de Ronaldo Fenômeno).
O segundo episódio de “Crianças Invisíveis” (“Blue Gipsy”) é dirigido pelo bósnio Emir Kusturica e conta a história de um garoto filho de ciganos ladrões e que se sente mais à vontade e em segurança no reformatório do que nas ruas. O terceiro episódio do filme (“Jesus Children of America”) é dirigido pelo norte-americano Spike Lee e conta a história de Blanca, uma garota filha de pais viciados em drogas e portadores do vírus HIV, que não sabe que ela mesma também porta o vírus e que sofre com as chacotas dos colegas de escola.
O quarto episódio de “Crianças Invisíveis” (“João e Bilú”) é dirigido pela brasileira Kátia Lund (que co-dirigiu “Cidade de Deus”) e que conta a história de um menino e uma menina que sustentam a família catando papelão, latinhas, vidros e metais. Na realidade, esse episódio mostra como o brasileiro sempre arruma um jeitinho para superar as suas adversidades (João e Bilú criam um jogo e começam a ganhar dinheiro com ele numa feira popular). O quinto episódio do filme (“Jonathan”) é dirigido pelos ingleses Ridley e Jordan Scott (pai e filha) e conta a história de um fotógrafo de guerra que tenta apelar para o seu lado criança para encontrar a sua paz interior.
O sexto episódio de “Crianças Invisíveis” (“Ciro”) é dirigido pelo italiano Stefano Veneruso e conta a história de dois amigos que fazem roubos na rua. Esse é mais um episódio que mostra crianças que são frutos de uma família desintegrada e dialoga especialmente com o primeiro episódio do filme (“Tanza”), pois mostra novamente uma criança que, apesar de entrar em contato permanente com a violência, continua a manter uma inocência e os seus sonhos vivos.
O sétimo – e último episódio – de “Crianças Invisíveis” (“Song Song and Little Cat”) foi dirigido pelo chinês John Woo. Neste episódio, duas realidades são colocadas em xeque: a de Song Song, menina rica que tem todas as suas vontades satisfeitas, mas não se contenta com nada; e a de Little Cat, menina que foi abandonada pela mãe e criada por um mendigo. Little Cat pouco tem, mas valoriza o que possui e não se esquece de sonhar com uma realidade melhor para si mesma. Esse episódio é o mais poderoso de todos, pois toca num ponto que todos nós conhecemos: o de que nós só valorizamos aquilo que temos quando o perdemos – ou seja, nós deveríamos valorizar aquilo que temos, pois muitas pessoas dariam tudo para ter o mesmo que nós.
“Crianças Invisíveis” foi um filme feito por uma parceria entre o governo italiano, a UNICEF e o WFF (World Food Programme). É difícil tentar entender as pretensões por trás de um filme como esse, mas fica subentendido que os envolvidos queriam chamar a atenção para as questões relacionadas às crianças do mundo e as infâncias que elas estão vivendo. “Crianças Invisíveis”, infelizmente, não consegue ser bem-sucedido, pois sofre com a irregularidade dos episódios – que ora apelam para a poética (caso do dirigido por Ridley e Jordan Scott), ora para o humor (caso do de Emil Kusturica) e ora para uma verdade ficcionalizada (caso dos episódios de Mehdi Charef, Spike Lee, Kátia Lund, Stefano Veneruso e John Woo). Se for para causar impacto e fazer a diferença, o filme perfeito seria o documentário “Falcão – Meninos do Tráfico” (que foi apresentado no programa “Fantástico”), do rapper MV Bill e de Celso Athayde, que não quer mascarar a verdade e a mostra como ela é.
Cotação : 5,0
Crédito Foto: Yahoo! Cinema