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>Zuzu Angel (2006)

publicado em:5/08/06 6:51 PM por: Kamila Azevedo Uncategorized

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Atualmente, a moda brasileira (bem como as nossas modelos) vivem um momento especial, de reconhecimento e interesse internacional. Entretanto, esta não foi a primeira vez que esse fenômeno foi notado. Em 1971, a estilista mineira radicada no Rio de Janeiro Zuzu Angel projetou a moda brasileira pelo mundo afora, quando as suas coleções alcançaram sucesso em cidades como Nova York.

A cinebiografia “Zuzu Angel”, do diretor Sergio Rezende (que também co-escreveu o roteiro do filme ao lado de Marcos Bernstein), não retrata este momento em particular da vida da estilista Zuzu Angel, e sim a luta da mãe Zuzu Angel na busca pelo corpo de seu filho Stuart Edgard Angel Jones (Daniel de Oliveira), um militante político em plena época da ditadura militar no Brasil, e que foi preso, torturado e assassinado pelos agentes do Centro de Informações da Aeronáutica – sendo, posteriormente, declarado como desaparecido político.

A ditadura militar não é um território desconhecido pelo diretor Sergio Rezende – tendo em vista que ela já foi tema de um de seus filmes, “Lamarca”, de 1994 (Paulo Betti, inclusive, que interpretou o guerrilheiro neste filme faz uma pequena participação em “Zuzu Angel”). Por esta razão, Rezende toma a decisão acertada de, em “Zuzu Angel”, enfocar somente a batalha pessoal de Zuzu Angel. Tal batalha moveu autoridades políticas nacionais e internacionais e afetou profundamente a vida pessoal e profissional da estilista. Zuzu sempre foi ciente das atividades políticas de seu filho Stuart, mas, assim como a maioria dos brasileiros no período da ditadura militar, ela preferia se manter à margem de tudo o que estava acontecendo. Se o Brasil vivia um período político obscuro, as roupas criadas por Zuzu Angel retratavam as belezas naturais e a vivacidade do país. É somente após o desaparecimento de Stuart que Zuzu acorda para a situação confusa e caótica vivida no Brasil e passa a se manifestar naquilo que ela sabia fazer de melhor: suas roupas, que passam a estampar figuras inocentes, mas que, ao mesmo tempo, contestavam o momento político do país.

“Zuzu Angel” é um filme que tem um eixo emocional muito bem definido e ele é representado pela figura da atriz Patrícia Pillar, que está presente em quase todas as cenas do filme e, em conseqüência disso, interage com quase todos os (excelentes) atores que participam da trama (como Luana Piovani, Alexandre Borges, Othon Bastos, Leandra Leal, Regiane Alves, Ângela Vieira, Ângela Leal, Flávio Bauraqui, Nélson Dantas, Fernanda de Freitas, Antônio Pitanga, Aramis Trindade, Caio Junqueira, dentre outros). Poder interpretar Zuzu Angel – uma personagem difícil, pois sua trajetória de vida é cheia de facetas e de nuances – é a oportunidade da vida de Pillar, que é acostumada a ser uma coadjuvante de luxo nos seus trabalhos na televisão. E a atuação que ela proporciona é, literalmente, de entrega emocional e, se já não era difícil se identificar com a cruzada pessoal de Zuzu Angel, fica ainda mais complicado não se envolver com tudo aquilo que a estilista passou depois de vê-la pelos olhos de Patrícia Pillar.

O filme “Zuzu Angel” se transforma numa importante peça histórica para nos lembrar de que houve um tempo em que as pessoas eram perseguidas simplesmente por defenderem os ideais nos quais acreditavam. A luta de Zuzu Angel foi igual à de muitas outras mães que também perderam os seus filhos nos porões da ditadura militar brasileira; a diferença é que Zuzu tinha os meios – e os contatos – disponíveis para conseguir ser ouvida. É triste perceber que gente como ela e Stuart tiveram que morrer para que nós tivéssemos o direito de nos expressar livremente e defendermos aquilo que achamos ser o mais correto. Nossas crenças são uma arma poderosa e, em ano de eleições, é bom que nós as sigamos para termos um país justo e, quem sabe, mais digno – fazendo com que a luta de Stuart, Zuzu e tantos outros não tenha sido em vão.

Cotação: 9,6

Crédito Foto: Yahoo! Cinema



Jornalista e Publicitária


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