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>O Grande Truque (The Prestige, 2006)

publicado em:7/11/06 11:43 PM por: Kamila Azevedo Uncategorized

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“A platéia quer ser enganada. Eles não estão prestando a devida atenção”. Essa é a última frase do filme “O Grande Truque”, do diretor Christopher Nolan (que foi co-autor do roteiro do filme com o irmão Jonathan Nolan). Esta afirmação também poderia muito bem ser um complemento do monólogo final de Robert Angier (Hugh Jackman), no qual ele faz um longo discurso sobre o fascínio dele em subir noite após noite nos palcos para fazer o seu show de magia. A razão maior por trás de tanta obsessão era não só o olhar da platéia, mas sim a questão de fazê-los entrar em dúvida, num determinado momento, tentando imaginar se o que ela estava vendo era uma ilusão ou uma realidade.

Os dois discursos poderiam muito bem se referir ao cinema, uma arte que – de certa maneira – ilude e transporta o público para uma outra realidade. No entanto, as palavras de Robert Angier e de seu engenheiro Cutter (Michael Caine) se aplicam à magia, que ganha um status de arte no filme de Christopher Nolan. É através da mágica que a trama de “O Grande Truque” se desenrola, que os conflitos surgem e que Nolan mostra a sua mensagem e os seus dois personagens centrais – homens que tentam ultrapassar um ao outro, sem medo de enfrentar o impossível.

Robert Angier e Alfred Borden (Christian Bale) nunca foram aquilo que podemos chamar de amigos. Apesar de terem convivido juntos por boa parte de sua vida, o que se estabeleceu entre eles foi uma rivalidade nada sadia. A princípio, Borden e Angier trabalhavam como assistentes de um famoso mágico e ambos esperavam a sua chance de brilhar sozinhos em um palco. Eventualmente, os dois conseguirão essa chance. Mas, até ela chegar, o abismo, a disputa e a animosidade que existiam entre eles ficam ainda mais profundas.

Isso acontece em decorrência de várias razões. A esposa de Robert, Julia (Piper Perabo), morre em decorrência de um acidente de trabalho – que pode ou não ter sido causado intencionalmente por Alfred. Quando os dois se reencontram, depois de algum tempo, Alfred está casado e com uma filha; enquanto Robert continua sozinho. Quando Alfred se torna um mágico de sucesso, graças ao seu truque do “Homem Transportado”, Robert não hesita em gastar todo o seu dinheiro e em viajar pelo mundo para encontrar uma maneira de superar o truque do “amigo”, numa luta que não chegará ao fim, pois nenhum dos dois nunca estará satisfeito.

De acordo com Cutter, uma mágica é feita de três atos. No primeiro, que tem o nome de “a promessa”, o mágico mostra à platéia uma coisa que é comum, quando, obviamente, ela não o é. No segundo, chamado “a virada”, o mágico transforma sua coisa comum em algo extraordinário. Já no terceiro ato, que se chama “o grande truque”, a platéia presencia algo cheio de mudanças e reviravoltas, em que a vida fica por um fio, e você vê algo chocante e nunca visto antes.

O filme “O Grande Truque”, na realidade, possui todos estes três elementos; o que o faz ser considerado como uma grande mágica. As reviravoltas da trama criada por Christopher e Jonathan Nolan (com base no livro de Christopher Priest), mesmo sendo previsíveis em alguns casos, chegam a surpreender nos momentos mais importantes da trama. Por esta razão, “O Grande Truque” é um filme que merece uma segunda visita, para que as peças do quebra-cabeça montado pelos irmãos Nolan sejam encaixadas de maneira mais clara.

Este é mais um grande trabalho do diretor Christopher Nolan. Aqui, encontramos alguns elementos que são recorrentes em sua curta – e expressiva – obra. Mais uma vez, o diretor e roteirista trabalha com personagens que não têm medo de entrar em contato com seu lado obscuro e de testar os seus limites. Neste sentido, Nolan contou com a extraordinária colaboração de sua dupla de atores centrais. Hugh Jackman e Christian Bale entregam as melhores performances de sua carreira.

Além do trabalho expressivo de roteiro, direção e atuação, vale a pena prestar atenção também na direção de arte, na edição, na fotografia, na trilha sonora original e nos figurinos de “O Grande Truque”, pois eles são primorosos e muito contribuem para essa atmosfera de ilusão e realidade que predominam durante o filme. Ah, e fique de olho na pequena (e ótima) participação do cantor David Bowie como o famoso inventor Nikolas Tesla.

Cotação: 9,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies



Jornalista e Publicitária


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