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>Os Infiltrados (The Departed, 2006)

publicado em:11/11/06 7:00 PM por: Kamila Azevedo Uncategorized

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Nos últimos anos, o diretor Martin Scorsese se dedicou a uma verdadeira obsessão sua: vencer a tão cobiçada estatueta do Oscar. Ao longo de sua aclamada carreira, Scorsese teve várias chances de realizar este sonho, mas, por uma razão ou outra, isso nunca aconteceu. Alguns dizem que seus filmes são muito controversos para o gosto da conservadora Academia. Então, Scorsese modificou o seu jeito de fazer cinema. Foi grandioso – e exagerado – no regular “Gangues de Nova York” e no ótimo “O Aviador” – filmes que nem parece que saíram de suas mãos.

Como a estratégia de se moldar ao gosto da Academia não deu certo, Martin Scorsese volta a uma temática que ele domina – a violência e como ela acaba influenciando nas vidas de grupos que se dedicam à ela – tendo ainda em mente aquele sua velha vontade. No filme “Os Infiltrados”, que é baseado na película “Conflitos Internos” (2002), Scorsese também acaba mudando de ares. Sai de sua habitual Nova York e invade os subúrbios de Boston.

O prólogo de “Os Infiltrados” é longo e necessário. Através dele, ficamos conhecendo os dois pólos opostos que vão mover a trama criada por William Monahan: Collin Sullivan (Matt Damon, ele próprio um garoto do subúrbio de Boston) e Billy Costigan (Leonardo DiCaprio, que emulou direitinho a figura de Robert de Niro, o antigo ator favorito de Scorsese). Apesar de parecer que, por causa de suas criações diferentes (Collin foi criado no subúrbio, enquanto Billy cresceu num bairro mais chique), os dois são muito diferentes, eles guardam muitas semelhanças – que ficarão ainda mais notáveis no desenvolvimento da trama de “Os Infiltrados”.

Billy e Collin são descendentes de irlandeses, inteligentes e tentam uma carreira na polícia estadual de Boston. Collin terá uma ascensão meteórica na organização (sai da Academia direto para o posto de detetive na divisão de investigações especiais da polícia). Já Billy é expulso da Academia antes mesmo de se formar policial, pois deu um soco na cara de um dos instrutores. Além disso, os dois possuem ligação com o crime organizado – Collin é o protegido do mafioso Frank Costello (Jack Nicholson, excelente na interpretação de um personagem que parece com ele mesmo) e Billy tem parentes ligados à máfia de Costello.

Conhecer estes primeiros detalhes será de fundamental importância para a platéia, pois, na trama principal de “Os Infiltrados”, Collin é designado para uma investigação que tem como objetivo descobrir quem é o informante de Frank Costello na polícia – ou seja, ele tem que investigar ele mesmo. Por outro lado, Costello manda que seu protegido descubra para ele quem é o agente da polícia infiltrado em sua organização criminosa. Esta última tarefa será particularmente difícil, pois os únicos que sabem que Billy é o policial infiltrado na gangue de Costello são Dignam (Mark Wahlberg, outro que conhece muito bem os subúrbios de Boston) e Oliver Queenan (Martin Sheen).

O grande eixo da trama de “Os Infiltrados”, com certeza, é a implicação de se viver uma vida dupla, nos casos de Collin Sullivan e Billy Costigan. Como veremos, aos poucos todas as mentiras que eles contam para se proteger e todas as barreiras que eles erguem para evitar um contato maior com outras pessoas vão tomando conta de suas vidas até chegar a um ponto em que eles não têm mais identidade própria. Isso fica ainda mais evidente quando Billy e Collin começam a se envolver com a mesma mulher, a psicóloga da polícia Madolyn (Vera Farmiga).

Desde o início de “Os Infiltrados”, a platéia tem a certeza de que nada disso vai dar certo e que, a qualquer momento, a vida dupla de Billy e Collin será descoberta. Martin Scorsese e William Monahan vão adiando essa situação até o último momento, preferindo – acertadamente – colocar ao máximo os seus infiltrados contra a parede. Essa é a grande sacada desse filme, e por isso que ele é tão bem-sucedido em colocar a platéia dentro de sua ação.

Neste sentido, é muito bom notar que a mão de diretor de Martin Scorsese não andava engessada e no piloto automático – impressão esta dada pelos seus dois últimos filmes. “Os Infiltrados” representa uma injeção de sangue novo em sua carreira e faz totalmente jus à sua filmografia passada – em que a violência era retratada sem máscaras para enfatizar a noção de que ela era somente mais um dos elementos que fazem parte do mundo em que vivemos. A película acerta em quase tudo, especialmente no roteiro, no tom das interpretações de seu excelente elenco (que ainda conta com Ray Winstone, Anthony Anderson e Alec Baldwin, dentre outros), na trilha sonora (que possui músicas de Rolling Stones, John Lennon, Patsy Cline e Van Morrison com Roger Waters, do Pink Floyd), na fotografia de Michael Ballhaus e na edição de Thelma Schoonmaker (uma antiga colaboradora de Scorsese); e termina de maneira metafórica com a imagem de um rato e, no fundo, a Assembléia Legislativa de Boston. Em “Os Infiltrados”, os ratos receberam algum tipo de justiça, mas e quanto aos ratos do mundo real? Aqueles que teimam em continuar impunes?

Resta agora esperar para ver se, sendo fiel a si mesmo, Martin Scorsese vai realizar o seu grande sonho. Está dada a largada para a corrida pelo Oscar!

Cotação: 9,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies



Jornalista e Publicitária


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