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>Filhos da Esperança (Children of Men, 2006)

publicado em:14/01/07 1:16 AM por: Kamila Azevedo Uncategorized

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A trajetória de “Filhos da Esperança”, do diretor mexicano Alfonso Cuarón, nas salas de cinema é muito peculiar. O filme estreou – sem muito alarde – em alguns festivais de cinema, como o de Veneza, aonde foi recebido de modo um tanto frio pela crítica e pelo público. Alguns meses depois, quando o filme veio estrear de maneira definitiva, a situação tinha mudado completamente e não só “Filhos da Esperança” começava a receber um carinho especial da crítica (ganhando alguns prêmios), como também se transformava em um sucesso de público.

O filme se passa em Londres, no ano 2027. O mundo imaginado por Alfonso Cuarón e pelos co-roteiristas Timothy J. Sexton, David Arata, Mark Fergus e Hawk Ostby (com base no livro de P.D. James) é dominado pelo caos e pela completa falta de autoridade, aonde diversos grupos lutam pelo poder e a classe mais frágil é a dos imigrantes ilegais, que são enxotados diariamente para prisões que mais lembram os campos de concentração do regime nazista alemão.

Entretanto, a mudança mais visível que pode ser vista neste mundo futurista é que ele, além de ser um lugar sombrio, está privado do calor, da inocência e da alegria do riso e dos gritos das crianças. Explico: os seres humanos ficaram inférteis. A pessoa mais jovem do mundo, Diego Ricardo (Juan Gabriel Yacuzzi), foi assassinada aos 18 anos. É esse acontecimento que abre “Filhos da Esperança” e dá início a uma série de fatos que só reforçam a visão pessimista do diretor mexicano em relação ao futuro da humanidade.

Clive Owen interpreta Theo Faron, funcionário do Ministério da Energia. Theo já foi um revolucionário, mas perdeu a vontade de lutar após a morte do filho Dylan. A ex-mulher dele, Julian (Julianne Moore), é a líder dos Peixes, o maior grupo de resistência ao poder vigente. É Julian que coloca Theo em uma situação delicada ao pedir que ele consiga documentos para que a imigrante ilegal Kee (a ótima Claire-Hope Ashitey) possa sair da Inglaterra sem nenhum perigo. Como precisa do dinheiro que vai ganhar ao desempenhar essa tarefa, Theo consegue os documentos necessários, mas terá que obrigatoriamente acompanhar a jovem Kee durante a viagem. A missão de Theo se revela ainda mais importante quando ele descobre que Kee está grávida. Dessa forma, não só a fé de Theo – como a de todo o mundo, nem que seja por um mísero instante – será colocada em xeque novamente.

“Filhos da Esperança” consegue sobreviver a alguns furos deixados pela trama (é incrível como cinco roteiristas não conseguem deixar claro em nenhum momento o que é o projeto Humano, o qual move a trama do filme em quase sua totalidade). O filme é deveras pessimista, mas não deixa de ser atual. Apoiado por um belo trabalho do diretor de fotografia – e favorito ao Oscar 2007 – Emmanuel Lubezki, Cuarón mostra através da metáfora da falta da alegria infantil, o que nos espera se continuarmos nesse sentido de autodestruição. Assim como os acontecimentos do roteiro fazem com que a fé de Theo seja testada, o que Cuarón faz com “Filhos da Esperança” é testar a fé de sua platéia. Nos créditos finais, ele coloca somente gritos e choros de várias crianças. Um pouco de vida depois de vermos tanto caos. A pergunta que fica é se a nossa reação será a mesma dos soldados ao verem o choro do nenê de Kee? Depois do encanto, a nossa vida vai seguir? Ou será que podemos fazer algo além disso?

Cotação: 7,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies



Jornalista e Publicitária


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