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>O Bom Pastor (The Good Shepherd, 2006)

publicado em:3/05/07 12:44 PM por: Kamila Azevedo Uncategorized

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Quando Edward Wilson (Matt Damon) tinha seis anos, o pai dele (Timothy Hutton) lhe contou uma história e o fez um pedido – seu último pedido, na verdade: nunca minta para alguém. Infelizmente, Edward não levou o conselho do seu pai a sério, tendo em vista que ele construiu a sua vida com base nas mentiras e nos segredos que mantinha escondidos dos amigos, da família, dos conhecidos e até mesmo dos colegas de trabalho.

Edward, na realidade, é um cara reservado, de poucas palavras e de ações eficazes. Ou seja, ele é o candidato perfeito para encabeçar a Contra-Inteligência, o coração e a alma da CIA – a Agência de Inteligência dos Estados Unidos – que, por sua vez, são os olhos e os ouvidos da nação norte-americana. E é justamente a criação e consolidação do papel da CIA nos acontecimentos determinantes do mundo em que vivemos o objeto principal de estudo do filme “O Bom Pastor”, de Robert de Niro (que encara a cadeira de diretor pela segunda vez em sua carreira).

O filme se passa nos dias que sucederam o 17 de abril de 1961, após a ação desastrada da CIA, que, durante o governo de John Fitzgerald Kennedy tentou invadir – sem sucesso – Cuba pela Baía dos Porcos. Em meio a uma caça às bruxas dentro da própria Agência, que busca um culpado pelo fracasso da ação, Edward começa a relembrar a sua própria jornada pessoal. O início em uma sociedade secreta na Universidade de Yale, o relacionamento verdadeiro que ele estabeleceu com Laura (a excelente Tammy Blanchard, que, finalmente, é descoberta pelas agências de casting de Hollywood) e que foi interrompido bruscamente quando Edward se casou com Margaret (Angelina Jolie) – a irmã de seu melhor amigo John (Gabriel Macht) –, que estava grávida.

Parece que a expressão “interrupção brusca” é uma constante na vida de Edward. Assim como aconteceu com Laura, antes mesmo de construir uma intimidade com Margaret, Edward – devido o seu trabalho na II Guerra Mundial – passa seis anos afastado de casa. Quando volta, Edward mantém um muro cheio de segredos e de privacidade, que o impede de viver um relacionamento mais pleno com Margaret e o filho Junior (Eddie Redmayne).

O roteiro de Eric Roth enfoca muito a solidão da vida de pessoas como Edward. Ele não pode confiar em ninguém ou se envolver profundamente com as pessoas. Tem uma responsabilidade tremenda no seu emprego. Lida diariamente com as noções de verdade e de mentira. Tem que fazer sacrifícios. É praticamente abdicar de qualquer noção de existência – ou, na melhor das hipóteses, ter uma existência o mais discreta possível.

O material que “O Bom Pastor” aborda é denso e bastante delicado. Por muito tempo, o roteiro do filme foi considerado “um dos melhores ainda não filmados por Hollywood”. Já com Robert de Niro no papel de diretor, “O Bom Pastor” sofreu com a desistência de Leonardo di Caprio (o escolhido para ser Edward) na véspera do início das filmagens. Matt Damon se juntou à equipe em cima da hora e faz um trabalho excelente para quem teve tão pouco tempo para compor seu personagem. De Niro entrega um bom filme sobre como as mentiras podem acabar consumindo um homem a ponto de ele não ver mais saída para os seus próprios conflitos. Edward é um prisioneiro de si mesmo e do mundo que ele criou.

Cotação: 6,2

Crédito Foto: Yahoo! Movies



Jornalista e Publicitária


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