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>Shut Up & Sing (2006)

publicado em:3/06/07 8:44 PM por: Kamila Azevedo Uncategorized

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Londres, 10 de Março de 2003. Nesta época, o grupo de música country texano Dixie Chicks – que é formado pela vocalista Natalie Maines, pela violinista Martie Maguire e pela multi-instrumentista Emily Robison – estava no topo do mundo. Um show lotado no Shepherd’s Bush Empire Theatre marcava o início da turnê européia do aclamado CD “Home”. Antes de cantar a belíssima canção “Travelin’ Soldier” (que fala sobre um soldado que participou da Guerra do Vietnã), a vocalista Natalie Maines soltou uma declaração que – nas vésperas da invasão dos Estados Unidos ao Iraque – caiu como uma bomba: “Só para que vocês fiquem sabendo, nós estamos do mesmo lado que vocês. Nós não queremos esta guerra, esta violência, e temos vergonha de que o Presidente dos Estados Unidos seja do Texas”.

A recusa das Dixie Chicks em se desculpar por esta declaração e a coragem de enfrentar aqueles (especialmente a indústria country norte-americana) que lhe viraram as costas rendeu duas obras que são um marco divisor para a carreira delas. A primeira delas, o CD “Taking the Long Way”, que venceu os Grammys 2007 de Melhor Álbum do Ano, Melhor Álbum Country do Ano e Melhor Música e Gravação do Ano para o single “Not Ready to Make Nice”. A segunda foi o documentário “Shut Up & Sing”, que foi dirigido por Barbara Kopple e Cecilia Peck (filha do ator Gregory Peck), e que funciona quase como um complemento para os temas tocados pelas Chicks no álbum.

O documentário se passa em dois momentos distintos e que fazem parte desse marco divisor da carreira das Dixie Chicks. Em 2003, Barbara Kopple e Cecilia Peck mostram os desdobramentos do acontecimento no Shepherd’s Bush Empire Theatre. Enquanto as Chicks continuavam fazendo a sua turnê européia, nos Estados Unidos a situação pegava fogo. As pessoas não perdoavam o fato de que Natalie Maines, Martie Maguire e Emily Robison – o grupo feminino que mais vendeu discos na história da música – tivessem virado as costas para o seu país e, pior, tivessem feito o seu protesto contra as decisões do Presidente George W. Bush num show em um país estrangeiro.

O público altamente conservador que ama a música country nos Estados Unidos – e que forma a grande maioria dos eleitores de Bush – começou a fazer uma série de protestos contra as Dixie Chicks. CDs foram queimados, rádios ameaçadas. Quando voltaram aos Estados Unidos, as Chicks e seu empresário começaram uma espécie de operação para mostrarem ao grande público que elas não eram contra os Estados Unidos. Ou seja, as Dixie Chicks saíram do limitado universo country e viraram ícones da cultura pop – nesta época, elas chegaram a aparecer nuas em uma capa de revista e foram entrevistadas pelos grandes nomes do jornalismo norte-americano, como Barbara Walters e Diane Sawyer. O resultado: as Dixie Chicks continuaram sendo ignoradas pelas rádios country, mas venderam todos os ingressos de sua turnê no país.

A segunda linha de tempo de “Shut Up & Sing” se passa em 2006, quando as Dixie Chicks estavam em Los Angeles gravando o CD “Taking the Long Way”, sob a produção de Rick Rubin (que já trabalhou com artistas do porte de Johnny Cash e Red Hot Chili Peppers). Na indústria musical, as Chicks são conhecidas por quebrarem tendências da música country e por terem levado, pela primeira vez, o tradicionalismo do estilo a um diálogo mais aprofundado com a música pop. Elas gostam de inovar – o CD “Home”, por exemplo, trouxe à moda novamente estilos como o bluegrass – e, com “Taking the Long Way”, pela primeira vez, escreveram todas as músicas do álbum e dialogaram com estilos diversos como blues, rock, folk, gospel, pop – sem esquecer, é claro, do country.

O mais interessante é que Barbara Kopple e Cecilia Peck mostram que, nestes três anos, pouca coisa mudou para as Dixie Chicks no que diz respeito à indústria country. Elas continuam sendo ignoradas pelas rádios, pelo público do gênero e pelos shows de premiações da categoria. No entanto, mantiveram o sucesso de vendas (o álbum ficou em primeiro lugar na parada da Billboard na semana de seu lançamento) e, apesar do fato de que o grupo teve uma turnê complicada (com shows cancelados e vendas maiores de ingressos em países estrangeiros), elas se viram diante um novo público – mais adulto e consciente.

“Shut Up & Sing” é um documentário que leva o público além na relação com o ídolo. Quem gosta das Dixie Chicks, as verá no seu momento mais vulnerável, em que as incertezas eram uma constante e em que o medo em relação ao futuro era atenuado por todo um processo de amadurecimento pessoal que as deixou muito mais próximas e fortes e que se reflete, hoje, na maneira em que elas fazem negócios. Quem não gosta das Dixie Chicks, pode ver o documentário como um exemplo de como a liberdade de expressão é um conceito mal utilizado – será que ela existe de verdade? No entanto, o ponto mais positivo de “Shut Up & Sing”, com certeza, é o fato de que, no filme, a controvérsia é o assunto principal, mas é a música das Dixie Chicks que fala por si – e é este o verdadeiro legado delas.

Cotação: 9,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies



Jornalista e Publicitária


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