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>Lendo – Canto dos Malditos

publicado em:12/11/07 10:36 AM por: Kamila Azevedo Uncategorized

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“Basta entrarmos numa ala proibida, onde permanecem confinados e escondidos dos olhos dessa sociedade de normais as vítimas do desleixo profissional, para ver que experiências e abusos indiscriminados causam ao ser humano! Crime não é apenas matar o nosso semelhante. É também deixá-lo inútil, matando sua iniciativa e vontade própria, transformando-o numa besta humana” (Austregésilo Carrano Bueno)

Década de 70. Curitiba. Um grupo de jovens estudantes vive alheio ao regime Militar e se reúne em uma loja de revelação de fotografias para viverem noites de sexo, drogas e rock ‘n roll. Um desses jovens é Austregésilo Carrano Bueno, filho de classe média de uma família curitibana, dono de uma cabeleira e de uma beleza que chamavam a atenção. Carrano cresceu em um lar de pais que não dialogavam com ele e é justamente esta falta de diálogo que o levará a passar pela experiência que modificará a sua vida: uma internação em um hospício, após seu pai descobrir o vício do filho em maconha, para que ele pudesse se livrar das drogas.

“Canto dos Malditos”, livro que ele mesmo escreveu, relata as lembranças de Carrano sobre os mais de três anos em que ficou internado em hospitais psiquiátricos do Paraná e do Rio de Janeiro. Através de suas memórias, o autor denuncia a realidade dos manicômios brasileiros, dos psiquiatras nacionais, que, ao invés de tratarem os pacientes, os entopem de remédios, os deixando completamente paralisados e incapazes de fazer atividades essenciais do dia-a-dia, como as necessidades básicas, por exemplo. Além disso, Carrano revela a experiência mais traumática pela qual passou nos anos de internação: 21 aplicações de eletrochoque, cujos efeitos até hoje ele sente em sua saúde.

O livro escrito por Carrano foi adaptado para o cinema, em 2001, num filme chamado “Bicho de Sete Cabeças”, da diretora Laís Bodansky e do roteirista Luiz Bolognesi. Na época, o filme ficou conhecido como o ponto da virada na carreira do ator Rodrigo Santoro, que conquistou vários prêmios pela sua interpretação de Neto e viu a possibilidade de fazer uma carreira como ator de cinema internacional em Hollywood. No entanto, o filme de Bodansky serve mesmo como um complemento à obra de Carrano. Se o livro “Canto dos Malditos” tem um tom de desabafo, de ódio mesmo de uma pessoa que não consegue perdoar aqueles que tanto prejudicaram sua vida, sua juventude e as oportunidades que ele tinha para crescer naquele momento; o filme “Bicho de Sete Cabeças” aborda tudo isso através de um distanciamento necessário do roteirista e diretor em relação ao personagem Neto. É ele que tem a missão mais difícil: a de contar a história de Carrano, a de fazer com que a denúncia dele seja vista e tenha penetração usando essa capacidade que o cinema tem de atingir a muitas pessoas. E a história que é contada tanto por livro, quanto por filme é uma daquelas que tem que ser conhecida para causar as mudanças que são tão necessárias em nosso país.

Canto dos Malditos (2001)
Autor:
Austregésilo Carrano Bueno
Editora: Rocco

Bicho de Sete Cabeças (Bicho de Sete Cabeças, Brasil, 2001)
Diretor(es):
Laís Bodanzky
Roteirista(s): Luiz Bolognesi
Elenco: Rodrigo Santoro, Othon Bastos, Cássia Kiss, Daniela Nefussi, Jairo Mattos, Altair Lima, Lineu Dias, Caco Ciocler, Gero Camilo, Marcos Cesana, Luis Miranda, Valeria Alencar, Gustavo Machado, Cláudio Carneiro



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