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>Lendo – "Gone, Baby, Gone"

publicado em:22/12/07 7:17 PM por: Kamila Azevedo Uncategorized

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“Não me venha com ‘querida’. Amanda está com medo. Ela está desaparecida. E a vaca da irmã de Lionel, refestelada em minha sala de estar com sua amiga gorducha, fica tomando cerveja e vendo a si mesma na televisão. E quem pensa em Amanda, hein? Quem vai mostrar a essa menina que alguém se importa com a sua vida?”.

É este apelo emocionado de Beatrice McCready, tia da pequena Amanda McCready, de 4 anos e 7 meses, garota que desaparece misteriosamente – e sem deixar qualquer rastro – do apartamento aonde morava com a mãe, Helene McCready, que move toda a trama do livro “Gone, Baby, Gone”, do escritor Dennis Lehane.

Beatrice e seu marido Lionel McCready se importam com sua sobrinha. O pessoal da Brigada de Proteção à Criança (BPC) – representada, no livro, pelo capitão Jack Doyle e pelos detetives Remy Broussard e Nick “Poole” Raftopolous – também. O casal de investigadores particulares Patrick Kenzie e Angie Gennaro idem. A única que pessoa que parece não se preocupar com o desaparecimento de Amanda é a própria mãe dela, a alcoólatra e viciada em drogas, Helene. São a paixão e o comprometimento deles, por um lado, e a negligência da mãe, de outro, os elementos principais de “Gone, Baby, Gone”.

Dennis Lehane situa a história do livro no subúrbio de Boston, mais precisamente em Dorchester, o local aonde ele nasceu e foi criado. Por conhecer cada esquina do local e cada personagem que ali habita, ele domina todos os desdobramentos que sua trama terá. No entanto, ele peca justamente no desenvolvimento daquela que é a personagem mais fascinante dessa história: Helene McCready. Está claro, desde o início, que ela tem tudo a ver com o desaparecimento da filha. A princípio, você vai odiar o egoísmo dela e sua aparente inércia diante de tudo o que está acontecendo. Mas, quando ela finalmente acorda para a vida – e para a gravidade do que está vivendo –, a personagem simplesmente desaparece da trama. E, quando Helene não aparece, a gente sente falta dela, de saber como ela está compreendendo todo o turbilhão de novos sentimentos (medo, arrependimento, vontade de recomeçar tudo) aos quais ela será apresentada na marra.

A leitura de “Gone, Baby, Gone” se revela surpreendente. Como observadores privilegiados de toda a investigação feita pelo casal Patrick Kenzie e Angie Gennaro (o primeiro é protagonista de outros tantos livros de Dennis Lehane), nos deparamos com os mesmos tipos de conflitos vividos pelo casal. Afinal, o que é certo e o que é errado em uma situação como essa? O final pungente do livro só deixa estas questões martelando ainda mais nas nossas cabeças. Será possível que as pessoas passem por transformações profundas – e permanentes? E, principalmente, se estivéssemos no lugar dos dois, teríamos feito a mesma coisa?

O Filme

“Gone, Baby, Gone” é o segundo livro de Dennis Lehane a ser adaptado para o cinema – o primeiro foi “Sobre Meninos e Lobos”, do diretor Clint Eastwood, e o terceiro será “Shutter Island”, que terá a direção de Martin Scorsese e deve estrear somente em 2009.

O ator Ben Affleck (que co-escreveu o roteiro do filme ao lado de Aaron Stockard) estréia na direção e tem a seu favor o fato de que, assim como Dennis Lehane, nasceu e foi criado em Boston; portanto, conhece todos aqueles ambientes e pessoas que estão na história – aliás, todo o filme foi feito em Dorchester e grande parte dos figurantes eram pessoas que moravam no bairro.

Selecionamos a cena abaixo de “Medo da Verdade” (a data de estréia do filme, no Brasil, está prevista para 15 de Fevereiro de 2008). Nela, encontramos Helene McCready (Amy Ryan, que pela performance neste filme venceu a maior parte dos prêmios da crítica e recebeu indicações ao Golden Globes, BFCA e SAG Awards), Remy Broussard (Ed Harris), Poole (John Ashton), Beatrice McCready (Amy Madigan), Patrick Kenzie (Casey Affleck) e Angie Gennaro (Michelle Monaghan). E, na cena, temos a certeza de que existe algo de podre – e bem mais complicado – no desaparecimento de Amanda McCready. O início de que coisas muito piores estão por vir.

P.S. A cena não tem nenhum spoiler.

Para Ler
“Gone, Baby, Gone” (2005)
Autor: Dennis Lehane
Editora: Companhia das Letras



Jornalista e Publicitária


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