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>Lendo – "Na Praia"

publicado em:12/04/08 11:35 PM por: Kamila Azevedo Uncategorized

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“Tinham muitos planos, planos inconseqüentes, amontoados diante deles num futuro enevoado, tão luxuriantes e emaranhados quanto a flora da costa de Dorset no verão, e igualmente belos. Onde e como iriam viver, quem seriam seus amigos mais próximos, o emprego dele na firma do pai dela, a carreira musical que ela teria pela frente, o que fazer com o dinheiro que o pai deles lhe dera, e como não seriam iguais às outras pessoas, pelo menos interiormente. Este ainda era o tempo – que terminaria naquela década célebre – em que ser jovem era um estorvo social, um sinal de irrelevância, uma condição ligeiramente embaraçosa para a qual o casamento era o começo da cura. Quase estranhos, mantinham-se retraidamente juntos, num novo pináculo da existência, jubilosos com a promessa do novo estado civil a alçá-los para fora da juventude infinita – Edward e Florence, enfim livres!” (p. 09)

A Era Vitoriana foi considerada como o grande auge do Império Britânico. Nessa época, além da revolução industrial inglesa ter atingido seu melhor momento, tivemos o surgimento de escritores notáveis, como George Eliot, Charles Dickens, Emily Bronte, Lewis Carroll, entre outros. Mesmo com tanta efervescência cultural, a época foi marcada por uma enorme repressão moral, em que pouco se conversava sobre temas polêmicos, como sexo.

É na transição da era vitoriana para um período em que se houve uma verdadeira revolução sexual e de costumes, na Inglaterra, que se passa o romance “Na Praia”, do escritor Ian McEwan. Os personagens principais da obra – os jovens Edward Mayhew e Florence Ponting – acabam de se casar e se instalam num quarto de hotel na praia de Chesil, junto ao Canal da Mancha, para celebrar a sua noite de núpcias. Um detalhe importante a ser observado é que, desde o primeiro momento em que encontramos os dois, sabemos que o amor entre eles é verdadeiro e abundante.

Se existe algo que falta para Edward e Florence é intimidade. Filhos da era vitoriana, nascidos em famílias de costumes tradicionais, os dois nunca ultrapassaram os beijos em seus momentos a sós. Mais por decisão dela, casaram-se virgens e aguardam o instante em Chesil para atingirem a cumplicidade máxima como casal. No entanto, é justamente a falta de uma familiaridade maior entre os dois que nos dá uma pista de que a lua-de-mel entre o casal – e o casamento, por conseqüência – podem se transformar em uma situação desconfortável se eles não começarem a ser honestos um com o outro.

À primeira vista, “Na Praia” pode parecer um romance muito simples se comparado à profundidade de outras obras de Ian McEwan, como “Reparação”. No entanto, o livro é tão complexo quanto o trabalho mais famoso do escritor. A maneira como McEwan desenha a alternância de pensamentos entre Edward e Florence é sensacional. Os dois personagens foram muito bem construídos em suas respectivas histórias de vida e de aspirações; e o mais interessante para nós, como leitores, é ver como eles são atrapalhados em sua falta de maturidade para começar uma nova etapa de vida. Casamento não é uma coisa fácil e se apóia em coisas simples, como amor, carinho, amizade, respeito e, principalmente, diálogo. São elementos como esses que adquirimos na leitura de “Na Praia”, a qual é uma daquelas obras em que a arte se inspira na vida.

Na Praia (2007)
Autor:
Ian McEwan
Editora: Companhia das Letras



Jornalista e Publicitária


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