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Entre os Muros da Escola

publicado em:7/04/09 11:41 PM por: Kamila Azevedo Cinema

Se fosse um filme produzido nos Estados Unidos, “Entre os Muros da Escola”, do diretor Laurent Cantet, jogaria o seu protagonista, um professor do Ensino Fundamental em uma escola pública (de preferência num bairro pobre e violento), repleta de alunos desinteressados, vitimizados e quase conformados de que o destino deles, se não for a vida violenta, será restrito a empregos em que eles trabalharão demais e ganharão de menos.

 

Ainda bem que existe aquele “se”, pois “Entre os Muros da Escola” é uma produção francesa que adapta o livro de François Bégaudeau (que, fisicamente, lembra bastante o ator Matthew Rhys, de “Brothers & Sisters”). A obra literária foi baseada na experiência do próprio autor como professor de Literatura numa escola do Ensino Médio localizada em Paris. Na transposição para o cinema, alguns aspectos do livro foram modificados, uma vez que o professor interpretado por Bégaudeau agora ensina Francês num colégio público parisiense para alunos da 7ª série do 1º grau.

 

Um detalhe importante de “Entre os Muros da Escola” é que o filme não é um drama escolar ao estilo de “Ao Mestre com Carinho” e “Mentes Perigosas”. O longa, através da vivência diária do professor François Marin, faz uma análise sobre a França contemporânea, país que atrai imigrantes, não só europeus, como também oriundos das antigas colônias francesas. Os alunos dele são de origens distintas e suas identidades culturais são um resultado do choque entre o país natal deles e aquele que os abrigou.

 

Interessante é perceber que tudo isso se desenrola dentro da instituição que, supostamente, deve nos preparar para a vida. François Marin chega ao novo ano escolar com conhecimento de causa – uma vez que já tinha sido professor da mesma turma no ano letivo anterior – e, curiosamente, ele não é do tipo de querer impor um estilo. Ele tenta inserir os seus alunos, o máximo possível, dentro do processo de ensino-aprendizagem. Porém, sua tarefa é difícil porque os estudantes possuem vontade própria e o enfrentam de igual para igual. No final, “Entre os Muros da Escola” acaba sendo sobre a dificuldade que é encarar vontades, valores, desejos e criações distintas – e esta é justamente a maior riqueza do longa francês, que venceu a Palma de Ouro do Festival de Cinema de Cannes 2008 e foi indicado ao Oscar 2009 de Melhor Filme Estrangeiro.

 

Cotação: 9,5

 

Entre os Muros da Escola (Entre Les Murs, 2008)

Diretor: Laurent Cantet

Roteiro: François Bégaudeau, Robin Campillo e Laurent Cantet (com base no livro de Bégaudeau)

Elenco: François Bégaudeau, Nassin Amrabt, Laura Baquela, Juliette Demaille



Jornalista e Publicitária


Comentários


Em Portugal tem o título de ‘A Turma’. Saíu há pouco em DVD, pelo que espero vê-lo muito em breve.

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Este é o próximo que concorreu a melhor filme estrangeiro que verei.
Já vi três, todos excelentes: Revanche, Valsa com Bashir e Departures.
Beijo!

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Uma obra prima que retrata o confronto geracional, o confronto racial, o confronto sexual e até o civizacional que se vive no mundo actual, de uma forma nua e crua. A abordagem situa-se no documentário de contornos dramáticos. Um bom filme para ser analisado por todos aqueles que têm um papel interventivo na educação dos nossos jovens. Recomendo!

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Oi Kamila!

Assisti ontem a noite esse filme e acabei de postá-lo no blog. Para minha surpresa acessei tua página e percebi que tivemos uma impressão parecida . Gostei muito do clima documental que o diretor deu ao filme. Lembrou-me um pouco de O Ódio, meu filme-fetiche do Kassovitz. Ambos retratam uma juventude problemática formada por imigrantes. A impressão que dá é que os que não viram jogadores de futebol, tornam-se favelados…
abs.

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Otavio, não é para fugir mesmo deste filme. Beijos!

Louis, é um dos melhores filmes desse primeiro semestre, sim! Beijo!

Red Dust, o filme já saiu em DVD por aí??

Ibertson, que sorte, a sua! Eu ainda quero conferir “Departures” e “Valsa com Bashir”. Beijo!

Cleber, que bom!

Filipe, adorei seu comentário. Você foi perfeito em suas colocações!

Charles, o clima documental é muito bom, mas discordo do que você disse ao final do comentário. Não acho que o filme mostra ou passa a sensação de que, quem não vira jogador de futebol, fica favelado… Abraços!

Hugo, espero que goste do filme, quando o assistir! Beijos!

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Achei o filme fascinante e nada clichê levando em consideração as histórias sobre professores e alunos. O melhor do ano até agora. Devo escrever sobre ele logo, logo.

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Adorei o filme também, Kamila. Ah, se você quiser ver uma produção americana boa com o tema escola – como citei no meu texto -, procure Half Nelson, com Ryan Gosling. É genial e eu achei ainda melhor do que este…
Beijoo!

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Olá, Kamila! Tudo bem?

Sempre estou adiando para ver este filme e ele tem tudo para me animar, por gostar deste tipo de premissa. Espero poder vê-lo o mais depressa possível.

Beijos! 😉

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Rafael Carvalho, não considero o filme o melhor do ano até agora, mas concordo com o resto de seu comentário. Aguardo seu texto sobre “Entre os Muros da Escola”.

Ciro, eu quero muito assistir “Half Nelson”, mas acho que este foi um filme que ainda não foi lançado no Brasil. Beijo!

Mayara, tudo bem, obrigada. E com você? Espero que possa assistir ao filme e aguardo seu comentário sobre ele. Beijos!

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Oi Kamila!
Acho que esse filme vai virar motivo de discussão nas Faculdades de Educação de nosso país! Dá pra fazer uma aproximação dele com outro filme aqui do Brasil (Pro dia nascer feliz) do diretor João Jardim, um documentário que retratou muito bem a realidade do sistema educacional brasileiro, e que, assim como o filme francês, levanta questões cruciais para a escola. Uma dessas questões, e que é universal, é a impotência das escolas e seus profissionais em lidar com esse novo perfil de aluno, um aluno provocador, que questiona a relevância dos conteúdos que o professor obriga que ele aprenda.
Para quem não conhece o universo escolar esse filme oferece uma ótima oportunidade para conhecê-lo. Para quem já o conhece bem, como eu, é um filme que mexe com o brio da gente fazendo um convite a reflexão, a repensar como anda o nosso trabalho na escola e o que podemos fazer para mudar a situação que não está nada boa! Abraço.

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Frederico, que comentário mais rico! Obrigada! Não conhecia o filme do João Jardim, mas concordo com muito do seu comentário. E acho que o filme vai mesmo virar ponto de discussão nas faculdades de pedadogia e letras do Brasil. Abraço!

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