No dia 12 de Maio de 2006, data em que era comemorado o Dia das Mães, aconteceu, em São Paulo, aquele que pode ser considerado como um dos maiores atos de violência já vistos na história do Brasil. Sob a liderança do PCC (Primeiro Comando da Capital), a maior cidade do Brasil, São Paulo, ficou completamente sitiada e à mercê dos bandidos. Presídios foram tomados; ônibus, agências bancárias e lojas foram incendiadas e depredadas; agentes penitenciários e policiais civis e militares foram mortos, além dos bandidos que ficaram no meio do caminho em retaliação também a tudo o que estava ocorrendo. A situação só foi solucionada quando o governo paulista (no mandato de Cláudio Lembo) sentou para negociar com os baderneiros. 

As cenas que relatam o que ocorreu neste período são o clímax de “Salve Geral!”, filme do diretor Sergio Rezende. A história nos é contada do ponto de vista de uma mãe. A professora de piano Lúcia (Andréa Beltrão, no seu segundo papel dramático do ano) já teve uma vida bastante confortável, mas hoje mora num bairro pobre e não consegue se firmar profissionalmente, de forma que ela possa assumir o seu papel de chefe de família. Tudo isso irá se agravar quando ela se vê sozinha, com o filho único (Lee Thalor) na cadeia e se devota por completo à vontade de conseguir atenuar a pena de Rafa – que foi preso em flagrante por assassinar uma jovem durante a participação em um pega – e ele possa ir para o regime semi-aberto. 

Neste sentido, boa parte de “Salve Geral!” enfoca o relacionamento que se estabelece entre Lúcia e Ruiva (Denise Weinberg, a melhor coisa do filme), a qual é uma espécie de advogada faz-tudo do PCC, dona de uma estrutura que servia de suporte para todas as ações do grupo. Com a justificativa de que quer ajudar o filho, Lúcia (de acordo ou fingindo não saber) começa a fazer uma série de pequenos trabalhos para o “Partido” – com a inocência e a ingenuidade de acreditar que seu filho nunca tomará conhecimento de seus atos ou nunca também fará parte de tal estrutura. 

Representante do Brasil na próxima disputa por uma vaga na categoria de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2010, “Salve Geral!” é um filme que pega carona em obras do tipo “Cidade de Deus”, “Tropa de Elite” e “Última Parada 174” e fala sobre a violência, problema que, atualmente, não está restrito somente às grandes metrópoles, e sim chegou também às cidades de pequeno e médio porte. No entanto, ao invés de ser um filme como os dirigidos por Fernando Meirelles e José Padilha, “Salve Geral!” tem muito da falta de coragem do longa de Bruno Barreto. Em nenhum momento, através da história de Lúcia, o diretor consegue nos passar o por quê deste acontecimento em particular ter sido tão urgente, tão importante. Neste caso, é melhor ficar com as imagens da cobertura jornalística da época. Elas, sim, funcionam como o registro de uma época, como um retrato da sociedade brasileira e dos seus problemas. 

Cotação: 4,0

Salve Geral! (2009)
Diretor: Sergio Rezende
Roteiro: Patrícia Andrade e Sergio Rezende
Elenco: Andréa Beltrão, Denise Weinberg, Lee Thalor, Bruno Perillo, Guilherme Sant´Anna, Chris Couto, Eucir de Souza, Kiko Mascarenhas, Michel Gomes, Giulio Lopes, Taiguara Nazareth, Pascoal da Conceição