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Anticristo

publicado em:20/10/09 11:57 PM por: Kamila Azevedo Cinema

Existem os chamados cinco estágios do luto: negação e isolamento, raiva, negociação, depressão e aceitação. Na mente do diretor e roteirista dinamarquês Lars Von Trier, os estágios que se seguem após a perda de alguém são três (luto, desespero e dor) e são justamente eles que vão permear toda a ação vista em “Anticristo”, seu mais recente filme. Ao longo de 109 minutos de projeção, assistimos a um casal (a vencedora do prêmio de Melhor Atriz no último Festival de Cannes, Charlotte Gainsbourg, e Willem Dafoe) lidando com a morte do único filho, num acidente que, na realidade, não foi culpa de ninguém. Foi somente uma enorme fatalidade. 

Isolados em uma cabana localizada no meio de uma floresta, o casal mergulha num jogo totalmente psicológico, em que várias questões humanas são colocadas em discussão. Ele é um terapeuta que, aparentemente, é a parte mais forte do par, que está sabendo lidar com a situação da perda do filho e que vai servir como suporte para a esposa sair do momento ruim em que se encontra – compreensivelmente, diga-se de passagem. A partir do instante em que ele assume para si a responsabilidade de tentar tirar sua parceira do buraco emocional em que ela se encontra e começa a confundir seu papel de marido com o de psicólogo é que as coisas começam a complicar para o par. 

O marido instiga a mulher a enfrentar e revelar seus medos, a colocar suas frustrações para fora, a tentar fechar um ciclo para iniciar outro e continuar sua vida da forma como tem que ser. A questão maior é que a própria esposa, dentro de seu próprio desespero e dor, não está pronta para revelar seus receios e começa a apelar para outros artifícios para tentar evitar o que, na cabeça dela, se revela inevitável: a perda do marido em conseqüência da morte do filho deles. 

Um dos detalhes que chamam a atenção em “Anticristo” é que Lars Von Trier vê a morte de uma forma muito poética, mas, para ele, se afundar no psicológico dos seus personagens, é entrar num mundo caótico, agoniante e difícil. É público e notório que Von Trier rodou este filme enquanto passava por uma séria crise depressiva. Talvez, as imagens complexas e introspectivas (fotografadas brilhantemente por Anthony Dod Mantle) sejam somente um reflexo do momento vivido pelo diretor. Não é à toa que a obra foi dedicada ao diretor soviético Andrei Tarkovski. Várias das marcas vistas em “Anticristo” remontam ao seu cinema.

 Cotação: 7,0

Anticristo (Antichrist, 2009)
Diretor: Lars Von Trier
Roteiro: Lars Von Trier
Elenco: Willem Dafoe, Charlotte Gainsbourg



Jornalista e Publicitária


Comentários


Só fui voltar a dormir de luzes apagadas um dia desses.. rsrsrsrsrs!

Gosto demais. E a Charlotte tava demais não? Se o mundo fosse justo concorreria ao oscar.

Bjs!

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Não consigo sentir algo por algum filme de Trier …
Para mim ele é aquele tipico caso … Nem fede … Nem cheira …

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Bruno Soares, o filme não me causou esse medo todo não. Eu fiquei agoniada, pra falar a verdade. E a Charlotte merece a indicação ao Oscar 2010 de Melhor Atriz. Beijos!

João Paulo, os filmes do Trier mexem comigo. Me incomodam, geralmente.

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Entendo Milla, mas nem é pela polemcia em si …
Realmente ele tem algo que me afasta … tento e tento … mas …
É assim mesmo … la vida es muy jodida!
ahahaha

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Kamila, ouvi dizer que algumas das imagens do filme remetem a sonhos que o proprio diretor teve. Imagine isso, filmar sonhos. Citando uma das falas do filme: “O caos impera”. hehehe Me lembro que ri nesta parte, mas aquele riso tenso, quando vc chega a um ponto que tem que rir… Enfim, a fotografia eh suberba, e a Charlotte esta maravilhosa.

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Gostei muito do filme. No entanto, acredito que a maioria das pessoas que vão assistir “Anticristo” esperam APENAS cenas chocantes, ignorando o resto da película. O mais perturbador dessa obra não são as cenas fortes, mas sim o clima pesado que foi perfeitamente montado por von Trier. Excelente!

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João Paulo, o cinema do Trier não te desce. Pronto! 🙂

Romeika, não sabia dessa história dos sonhos. O caos realmente impera no filme. Concordo com os aspectos que você menciona.

Daniel, eu não esperava ver cenas chocantes. Eu sabia que elas iriam existir, mas queria ver o jogo psicológico que é comum aos filmes do Trier. E o clima, aqui, está totalmente pesado mesmo.

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Gostei do filme. Geralmente desconfio do Lars Von Trier. Acho que ele valoriza muito a estética em detrimento do discurso. Do conteúdo. Mas isso não ocorre em Anticristo. É um filme com um discurso muito claro sobre a culpa cristã. Sobre a demonização do prazer. Em especial do sexual. Acho que é daí que vem a força de Anticristo. Von Trier quer exorcizar seus fantasmas, atacando um dogma que sente ser injusto e opressor. As cenas chocantes ( e realmente são) nesse sentido são providenciais. Bela Critica Kamila.
Não acho que a Charlotte tenha forças para o Oscar. E sinceramente não acho que sua atuação seja algo tão esplendoroso assim. Sem dúvida, houve entrega. Mas acho que foi a forma como o diretor se aproveitou dessa entrega que marcou. Não a atuação dela. O prêmio em Cannes, na minha opinião, já referendava isso. Era um prêmio para a coragem do filme. E da atriz.
Beijos Kamila!
E abraços para o pessoal aí!

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sem dúvidas que é um filme agoniante, talvez o mais que eu já tenha visto, e não apenas com aquelas cenas que chocam, como também todo o climão pesado que envolve o filme. E Gainsbourg fazendo um trabalho fenomenal e merecedora do prêmio em Cannes quiçá uma indicação ao oscar

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Oi Kamila, obrigado pelo comentário sobre Bastardos no meu blog. Vou ler o seu agora.

Quanto a Anticristo, tb adorei o trabalho de Anthony Dod Mantle, e não sabia que tinha sido dedicado ao Andrei Tarkovski, vou me inteirar mais sobre esse cineasta!

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Reinaldo, gostei muito do seu comentário! Obrigada pelo elogio e, apesar de ter gostado da Charlotte, também acho que ela não tem força para chegar no Oscar. Beijos!

Luís, eu gostaria de ver a Charlotte indicada ao Oscar, mas acho difícil de acontecer.

Cassiano, de nada! Eu também preciso ver mais da obra do Tarkovski!

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Vi duas vezes e na primeira vez , sendo 100% honesto, não entendi a brincadeira.

Na segunda entendi o que o Mr. Von Trier queria, mas mesmo assim ele não consegue me convencer totalmente. Acho-o pretensioso em excesso.

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Oi Kamila, é a minha primeira vez por aqui, e já estou numa situação difícil, comentar o Anticristo. Eu tenho defendido que a loucura da mãe no filme não é tão sem explicação assim. Para mim, a morte do menino não foi uma fatalidade. Pelo que me lembro a mãe sabia que a criança se acordava de madrugada, e além disso, tinha o visto pouco antes do suicídio. Aquele choro não é só de luto, é de culpa também. Todo o restante são as pertubações psicológicas (mutilações, compulsação por sexo). Enfim, no meu post escrevi mais sobre o assunto.

Sobre a discussão em torno do longa o que tenho a dizer é que uma coisa é o debate sobre o filme, outra, é o sensacionalismo. Não há motivo para polemizá-lo, mas há muito para se discutir. Em resumo, O Anticristo é a tradução não apenas da dor, mas da dor acentuada pela culpa. Não é um filme de terror, mas um longa que mostra os horrores humanos.

Abraço.

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Gosto muito do cinema do Lars Von Trier (na verdade vi apenas dois filmes do diretor e adorei ambos, talvez por serem seus trabalhos mais reconhecidos), mas realmente não sei o que pensar de “Anticristo” até vê-lo, hehehe.

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Santiago, em primeiro lugar, obrigada pela visita e pelo comentário. Concordo com tua interpretação sobre a mãe deste filme e, principalmente, com a segunda parte do teu comentário. Abraço!

Vinícius, então, assista-o para que possamos saber logo o que pensa sobre o longa. 🙂

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O filme é uma loucura! Está acima de qualquer crítica pois é simplesmente arte em seu estado de excelência.
Você comentou da fotografia; realmente tanto a fotografia quanto o estilo de direção de Lars merecem incríveis elogios aqui. A câmera lenta com aquele brilho todo é magnífico.

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Kamila, Lars Von Trier parece mesmo que se arriscou neste filme, e parece ser aqueles que você assiste e não tem uma opinião certa sobre ele, acho que é meu caso quando for assistí-lo, rsrsrsrs. Mas o seu ótimo texto expressa exatamente uma opinião concreta sobre ele.

Beijos! 😉

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Sinceramente Kamila, achei o filme péssimo, uma coisa pseudopsicanalítica barata, querendo ganhar pelo choque e pelos atos inconsistentes de seus personagens. E ainda é super repetitivo. O mais incrível é como a Gainsbourg se esforça tanto para sustentar sua personagem, se entregando de corpo e alma. Mas não me tocou, não! A dedicatória a Tarkovski parece uma tentativa barata de dar dignidade ao filme. Golpe baixo, viu! E olha que eu gosto muito do cinema do Von Trier.

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Comentei esse lá no meu, ñ gostei tanto, mas ficou longe de ser ruim, e ñ vi motivo pra tanta polêmica!
Bjo! Diego!

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Rafael Carvalho, nossa! Eu discordo de alguns pontos do seu comentário porque não acho que o filme tente chocar a gente de forma barata! Acho que o filme é somente um reflexo da fase difícil pela qual o Von Trier estava passando.

Diego, concordo! Beijos!

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Fiquei pensando: se o homem tivesse vários filhos, contato com os familiares (no filme não vi uma irmão, pai ou tio deles) teriam tempo para tais atos de insanidade.

Há muita mensagem no filme, mas o caos de dois seres sem lastros humanos (família) e no egoísmo resulta no caos que muitas vezes obscurece os motivos do enredo.

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Jean, talvez, não teriam. Acho que a questão maior é que eles decidiram se isolar no campo, ficar sozinhos no luto….

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Vi o filme hoje… achei bem agoniante… no início gostei, depois achei meio lento, mas o rítimo foi retomado. O filme embrulha um pouco o estômago e mostra a realidade de pessoas realmente perturbadas… Achei interessante. Pessoalmente, n gosto de Psicoterapia Cognitiva…

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