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Infâmia

publicado em:24/02/10 9:33 PM por: Kamila Azevedo DVD

É impossível olhar para Mary e não se lembrar de Briony Tallis (Saoirse Ronan, numa atuação indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante). Em comum entre as duas, além da pouca idade, o fato de que ambas falaram uma mentira que ganhou enormes proporções e que acabou, de certa forma, causando um efeito negativo e irreversível na vida de algumas pessoas. A diferença é que, ao contrário de Briony, que foi movida pela sua inexperiência de vida e por ciúmes, Mary tem um instinto maquiavélico dentro de si mesma. Ela é uma mentirosa compulsiva e utiliza de táticas como chantagem e manipulação emocional para fazer com que algumas pessoas façam exatamente aquilo que ela deseja – fato que chega a ser chocante, afinal estamos falando somente de uma criança. 

“Infâmia”, filme dirigido por William Wyler, tem um roteiro (escrito com base na peça de Lillian Hellman) que vai fundamentar muito bem o por quê da mentira criada por Mary ter sido aceita e propagada na pequena cidade aonde Karen Wright (Audrey Hepburn) e Martha Dobie (Shirley MacLaine) mantêm uma escola para garotas. As duas professoras se conheceram na faculdade e são amigas muito próximas e carinhosas uma com a outra. Para “agravar” a suspeita de que as duas, na cabeça de Mary, teriam um caso homossexual, tem a acusação da tia de Martha (Miriam Hopkins) de que esta estaria com ciúmes do iminente casamento de Karen com o médico Joe Cardin (James Garner). 

Além de falar sobre como um simples boato pode acabar trucidando com a vida de alguém – nesse caso, a de duas mulheres jovens, que estavam trabalhando duro para colocarem um sonho e projeto de vida em prática -, “Infâmia” fala a respeito de temas como honra e como a mentira criada acaba fincando raízes na própria vida daquelas pessoas que são vítimas dela, criando desconfiança nos relacionamentos e fazendo com que Martha, especialmente, passe a questionar tudo aquilo que está reprimido dentro dela mesma – o que chega a ser uma discussão interessante, mas que perde força porque é toda jogada para um último ato em que tudo acontece rápido demais. 

Obra indicada a 5 Oscars, em 1962, “Infâmia” é um filme que tem uma característica totalmente teatral – coisa óbvia, afinal estamos falando da adaptação de uma peça de teatro. Toda a direção de William Wyler tem como objetivo realçar o trabalho dos atores (preste atenção nas magistrais atuações de Shirley MacLaine, Fay Bainter e na da jovem Karen Balkin – basta dizer que ela será a criança que você mais vai odiar por um bom tempo) e do roteiro. Uma pena, como já dissemos, é o fato de que, no seu ato final, “Infâmia” opte por colocar uma série de acontecimentos interessantes e que seriam pontos de transição importantes nesta história todos acontecendo ao mesmo tempo – o que faz com que a obra perca parte de seu impacto, mas, mesmo assim, não deixa de ser um filme pungente e triste. 

Cotação: 9,5

Infâmia (The Children’s Hour, 1961)
Direção: William Wyler
Roteiro: John Michael Hayes e Lillian Hellman (com base na peça de autoria de Hellman)
Elenco: Audrey Hepburn, Shirley MacLaine, James Garner, Miriam Hopkins, Fay Bainter, Karen Balkin, Veronica Cartwright



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Comentários


Belíssimo filme que POUCOS conhecem, curioso isso. Muitos nem sabe, mas definitivamente tem uma das melhores atuações de Hepburn. A menininha causadora de todo o conflito realmente dá nos nervos…gosto da fotografia, do roteiro também e não acho nada teatral, pelo contrário, parecia até que o filme foi feito há uns 20 anos atrás, notei certos avanços narrativos, nos closes densos das expressões do elenco, da montagem, etc.

Amo este filme, apimentei ele, há um tempo.

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Como o Cristiano disse, poucos conhecem esse filme que parece ser uma obra indispensável, tanto por sua trama ‘diferente’ para a época quanto seu elenco maravilhoso. Vou procurar.

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Jack, um diretor eterno e quase uma obra-prima mesmo!

Cristiano, poucos conhecem porque não tinha sido lançado ainda em DVD por aqui. Isso deve mudar com o lançamento recente do filme neste formato. Eu fiquei com ódio da menina! Ódio mesmo! E era um filme com um tema pra frente, é uma obra atemporal. Também amei o filme!

Luís, procure mesmo!

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Perfeita critica Ka. Gostei especialmente da comparação com a personagem de Saoirse Ronan em Desejo e reparação. um belo insight cinéfilo que não havia me ocorrido.
Bjs

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William Wyler é um primor! Perfeccionismo gritante e trabalhos simetricamente bem realizados. Assisti poucos dele, mas o pouco é suficiente para reconhecer seu talento. “Perfídia” é o meu preferido. Esse ainda não conheço, Kamila.
Bela crítica.
vou procurar! Tem disponível em DVD no Brasil?

Abs!

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Achei que não iria comentar sobre o filme, já que a cena que postou anteriormente parecia já um comentário, mas adorei.

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Reinaldo, obrigada! E eu vi a Mary e me lembrei logo da Briony! Beijos!

Elton, concordo contigo. O William Wyler é um diretor diferenciado. Gosto de “Perfídia” também. “Infâmia” foi lançado no final de 2009, em DVD. Abraços!

Cassiano, eu decidi comentar sobre o filme assim que terminei de assistí-lo. Obrigada!

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eu serpme acho q essas,asoh laiv aram doa~s seat soporp sresgatar uma certa magia do teatro paraa tela. isso acontece sempree nos filmes da Hepburn. Citar Infâmia é ter muuito estilo e conhecimento. Adorei aqui.

** olha, eu acho que foi vc quem me visitou no último post. Deixou escrito KARINA mas sem nenhum link… acabei achando seu blog mergulhando na blogosfera. e espero q não esteja pagando um enooorme mico!

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Como disse na Cena da Semana, estou curiosa para conhecer o cinema de William Wyler. E já ouvi e/ou li maravilhas sobre “Infâmia” e por ele já ter entrado na lista de clássicos. Vou começar a caça por este filme, tem todos os elementos que gosto.

P.S.: Percebi que assistiu a “The Lovely Bones”. Estou curiosa para saber o que achou do filme, já que é admiradora do livro, estou certa? 😉

Beijos!

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Brenno, difícil, mas meu favorito é “A Princesa e o Plebeu”. Em termos de qualidade, acho que este aí superaria todos. Beijos!

Teffo, não acho que tenha visitado seu blog antes, mas obrigada pela visita e pelo comentário!

Mayara, assista aos filmes de William Wyler! Ele é sensacional! E sou, sim, admiradora do livro da Alice Sebold. A crítica de “The Lovely Bones” sai em breve! Beijos!

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Como comentado anteriormente, ainda não vi a produção, mas fiquei totalmente curioso após sua crítica. Sem dúvida vai para a lista dos longas que preciso conferir.

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Assisti hoje e eu preciso dizer que eu simplesmente adoro essa obra. Achei-a fantástica, Audrey Hepburn está numa de suas mais intensas interpretações. Oh, e o que dizer de MacLaine?!

A criança realmente me deu raiva, que pequeno demônio! Como pôde ser tão má?

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Luís, eu fiquei com raiva também da criança. Impressionante como alguém pode ser capaz de tamanha maldade em tenra idade.

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Amo este filme. Primeiro porque é um filme do William Wyler, sem dúvidas o melhor e maior diretor de todos os tempos. Depois tem a Audrey que adoro. E por último, creio que foi um dos primeiros filmes a abordar o homossexualismo. Mas vale a pena demais, o filme é perfeito, é um tapa na cara dessa sociedade preconceituosa e homofóbica.

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Vanessa, também gosto muito desse filme. Sem dúvida, William Wyler é um dos grandes diretores que Hollywood já viu. A Audrey Hepburn é minha atriz favorita. Porém, a importância do filme reside no seu tema principal. “Infâmia” pode ter sido um dos primeiros filmes a abordar o tema do homossexualismo e, infelizmente, ainda se encontra bem atemporal, tendo em vista que a intolerância e o preconceito contra os homossexuais ainda é uma constante.

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[…]          Em seguida Audrey gravou uma série de filmes, entre eles Infâmia, Charada, Quando Paris Alucina e My Fair Lady, no qual ela recebeu o papel principal, da vendedora […]

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