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Ilha do Medo

publicado em:31/03/10 3:23 AM por: Kamila Azevedo Cinema

Quem está bem familiarizado com o universo no qual se passa a maioria das obras escritas por Dennis Lehane sabe que, em algum momento da narrativa, a personagem principal irá se deparar com um grande conflito. A decisão tomada por ele, para resolver este problema, pode não ser a mais adequada, mas somente ele terá que lidar com o peso dessa escolha. A questão por trás da trama de “Ilha do Medo”, adaptação do livro homônimo dirigida por Martin Scorsese, é a seguinte: “o que seria pior: viver como um monstro ou morrer como um homem bom?”. 

Até chegarmos a este clímax, muita coisa irá acontecer em “Ilha do Medo”, mas o importante aqui é saber que o filme nos coloca diante de Teddy Daniels (Leonardo di Caprio, em mais uma parceria com Scorsese), policial federal que embarca para Shutter Island junto com seu parceiro, Chuck Aule (Mark Ruffalo), para investigar o desaparecimento de Rachel (Emily Mortimer), prisioneira que vive em Ashecliffe, uma prisão na qual são colocadas pessoas cujos crimes cometidos estão totalmente relacionados às condições mentais dos criminosos na época do acontecido. 

A presença de Teddy e Chuck na misteriosa prisão de Ashecliffe é a desculpa perfeita para que Martin Scorsese destile uma série de tomadas fantásticas e abuse da trilha sonora (interessante notar que nenhuma das peças usadas no longa foram compostas especialmente para “Ilha do Medo”) para criar uma atmosfera que tem como puro objetivo nos mostrar justamente toda a desintegração mental de Teddy, na medida em que ele mesmo se depara com uma série de situações estranhas e que poderiam muito bem ser fruto da imaginação de uma pessoa doente. 

Neste sentido, o elemento crucial do filme acaba sendo a excelente performance de Leonardo di Caprio. Ator alçado à fama mundial num pequeno longa chamado “Titanic”, é justo dizer que a carreira dele deu uma guinada por completo a partir do momento em que ele começou a sua parceria com Scorsese. Performances em filmes como “O Aviador” e “Os Infiltrados” deram a Leo o respaldo que ele precisava para poder, praticamente, fazer os filmes que quisesse, trabalhando com alguns dos diretores mais inspirados da atualidade. Enquanto estiver diante de “Ilha do Medo”, preste atenção justamente nele e se esqueça, por completo, da previsibilidade do roteiro escrito por Laeta Kalogridis – uma vez que, qualquer pessoa mais atenta, vai logo perceber como a estrada de Teddy irá terminar. 

Cotação: 8,0

Ilha do Medo (Shutter Island, 2010)
Direção: Martin Scorsese
Roteiro: Laeta Kalogridis (com base no livro de Dennis Lehane)
Elenco: Leonardo di Caprio, Mark Ruffalo, Ben Kingsley, Max Von Sydow, Michelle Williams, Emily Mortimer, Patricia Clarkson, Jackie Earle Haley, John Carroll Lynch, Elias Koteas   



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Comentários


Vou bater na velha tecla que bato com todos que falam do roteiro de Laeta Kalogridis: ele é uma das grandes maravilhas do filme, porque Scorsese não está interessado em fazer uma surpresa (o roteiro e o diretor nos colocam diante da “surpresa” já nas primeiras cenas, ´gradualmente, até quando vestem ele com a roupa branca.. é um processo de imersão gradual brilhante ).
Para o Scorsese interessa mais a jornada, não o destino. É um brilhante exercício de cinema de um mestre no auge da forma usando um roteiro maravilhoso (isso é para quem acha que roteiro é a mesma coisa que argumento ou se reduz a surpresas na história. Um roteiro vai muito além dessas obviedades).
Às vezes acho que Os Suspeitos e O Sexto Sentido, apesar de brilhantes, legaram o maldito vício da platéia de achar que precisa ser surpreendida para estar diante de um bom roteiro, e acabe esquecendo o que viu ao longo de toda a narrativa.
E a narrativa desse roteiro, com seus arcos preenchidos e as elipses que faz em torno do personagem, são memoráveis.
Abraço

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Fabio, seu raciocínio tem fundamento. Possivelmente, interessa mais à Scorsese a jornada vivida por Teddy. Mas, olha, eu acho que um bom filme de suspense tem que nos surpreender e mexer com a gente. Senti falta disso em “Ilha do Medo”. Abraço!

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Concordo contigo, acho que está longe de ser um dos melhores de Scorsese e que a trama (mesmo previsível) consegue analisar o lado psicológico do Teddy de uma forma espetacular (Para mim, essa foi a grande sacada) Só acho a trilha um pouco ‘dramática’ demais, toda hora querendo impor sua grandiosidade, não gostei muito não./)

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Fantástica trilha, Kubrickiana.
A meu ver, Scorsese derrapa nas cenas de terror, onde nao é seu terreno.E ele tb poderia ter contornado essas previsibilidades do roteiro.
Di Caprio manda muito bem.

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Gostei do foco dado aos dilemas vividos pelos personagens de Lehane. É uma ótima leitura para se fazer do filem. Parabéns. Ilha do medo é um filmaço e essa leitura apresentada por vc (mais uma propiciada pelo filme) denota isso.
Bjs

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Luís, eu amei a trilha desse filme. Essa foi a única parte do teu comentário que eu discordo.

Rogerio, concordo em relação à trilha, mas acho que ele se saiu bem na criação da atmosfera do filme. Fiquei totalmente satisfeita!

Reinaldo, obrigada! Beijos!

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Pois, eu não considero Ilha do Medo um filme de suspense, muito menos acho que ele tenha que surpreender ( mexer comigo ele mexeu, bastante). Scorsese não controla o que o estúdio quer, e o estúdio vendeu o filme como um suspense. Seria o mesmo que vender “A Bela e a Fera” do Cocteau como um terror, o que realmente foi feito na época, mas ele entrou para a história pelo lirismo e o romance, extremamente o oposto.
Daqui a algum tempo quando olharem para trás, longe de todo o marketing de lançamento e de expectativas – que eu nunca faço em relação a gêneros no cinema de Scorsese, porque ele tem o cinema em si acima dos gêneros – Ilha do Medo muita gente vai ver o filme de outra maneira.

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Concordo com Fábio, a grande genialidade de Ilha do Medo é o processo, a jornada na qual embarcamos com todo o jogo cinematográfico feito por Scorsese. Respeito sua necessidade de surpresa no final, até entendo, já vamos muitas vezes com essa expectativa. Mas, a construção de efeitos de cada cena foi que fez com eu me surpreendesse com o filme, não o detalhe do ser ou não ser algo.

abraços

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Ah Kamila, não concordo com a atuação do DiCaprio, repetindo demais seus gritos e caras que já faz parte de sua canastrice. Acho que ele é um dos principais responsaveis por vc considerar o roteiro previsivel.

Previsivel é a atuação dele, um ator mediocre.

Quanto ao roteiro acho que ele se torna previsivel, e muito por causa do cineasta, a quem vc evitou criticar. Muitas coisas no livro e q foi colocado no roteiro ressaltam a segunda realidade da personagem, mas a mão pesada de Scorsa fez com que se tornasse previsivel.

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Fabio, fica difícil discordar de seus comentários porque você levanta pontos interessantes. Eu vejo “Ilha do Medo” como um thriller psicológico.

Amanda, mas eu elogiei a questão de ele enfocar a trajetória de desintegração mental do Teddy, mas achei o filme previsível demais! Abraços!

Cassiano, discordo em relação ao Di Caprio. E o roteiro pode ser previsível por causa das decisões criativas tomadas pelo Scorsese. E tenho que ler o livro para saber de algumas coisas que você está falando!

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Oi, Kamila!
Achei a trilha bem estilo Kubrick. O que é aquela cena inicial do carro filmado do alto com uma música imponente? Me lembrou muito “O iluminado”.
Achei que o filme se arrastou por alguns momentos. Mas, de fato, mexeu muito comigo a trajetória do personagem e de suas escolhas.
Beijos!

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Fiquei afetado pelo filme durante dias e não consegui escrever nada a respeito. É um grande filme com ótimas atuações, fotografia fantástica, direção sempre correta, seu único defeito, porém foi a narrativa lenta, mas aquele fim compensa tudo, afinal, é Scorsese! Bjos!

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Fael M., é Scorsese, mas nada tira da minha cabeça que o roteiro estragou “Ilha do Medo” com sua previsibilidade. Beijos!

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