logo

Quincas Berro D’Água

publicado em:9/06/10 12:13 AM por: Kamila Azevedo Cinema

Um dos autores brasileiros mais adaptados no cinema, teatro e televisão, Jorge Amado concebeu tramas de extremo carisma. Elas cativaram, principalmente, pelo fato de que o baiano criou personagens e histórias cujos temas e características principais dizem respeito ao povo brasileiro. No caso particular de “Quincas Berro D’Água”, livro que foi adaptado por Sérgio Machado, o mote principal é aquele ditado: viver cada dia como se fosse o último – desculpa perfeita para Amado destilar uma série de referências à boemia e à sensualidade. 

O personagem principal, Joaquim (Paulo José), já foi um homem que percorreu o “bom caminho”. Tinha emprego no setor público, uma família respeitável, era marido e pai dedicado. Porém, de alguma forma, tudo isso o sufocava e Quincas, finalmente, se libertou quando decidiu assumir seu lado boêmio e viver como um “mendigo”, passando a ser agora o rei dos botecos, bordéis e gafieiras dos bairros mais populares de Salvador, a capital baiana, e palco principal de tantas das obras escritas por Jorge Amado. 

Esta história nos é contada pelo próprio Quincas, uma vez que a história deste filme nos coloca diante da morte dele e da forma como ele começa a refletir sobre a vida anterior dele e a existência que ele levava até o dia em que, sozinho e triste (olhem a contradição!), ele faleceu. O grande achado deste longa é falar sobre a morte de uma forma até bonita. Todas as intervenções de Quincas, todas as aventuras que ele passa, tudo que ele nos relata é o grande legado que ele gostaria de deixar para aquelas pessoas que ele conheceu – especialmente, à filha dele (Mariana Ximenes), que se afastou totalmente do pai após ele passar a viver uma vida de transgressão. E a forma como vemos Quincas ser lembrado é justamente um tributo a esta marca que ele deixou: a de que a vida deve ser aproveitada. 

Entretanto, é bom não se enganar, porque não estamos diante de um filme sério. “Quincas Berro D’Água” é uma comédia rasgada, de vocabulário chulo e de momentos impagáveis. O tom do longa é a sátira, as frases são bem espirituosas e cômicas. Imagino a satisfação de Paulo José em trabalhar numa obra como essa. Aliás, a tarefa dele foi a mais fácil aqui. Mesmo sem ter dito uma só palavra durante o filme inteiro, a atuação dele está sensacional. E os outros tipos criados pelos atores – com destaque para Flávio Bauraqui e Irandhir Santos – complementam muito bem toda esta história. 

Cotação: 6,5

Quincas Berro D’Água (2010)
Direção: Sérgio Machado
Roteiro: Sérgio Machado (com base na obra de Jorge Amado)
Elenco: Paulo José, Mariana Ximenes, Vladimir Brichta, Marieta Severo, Flávio Bauraqui, Irandhir Santos, Othon Bastos, Milton Gonçalves



Jornalista e Publicitária


Comentários


Eu gosto apenas das três primeiras publicações do Jorge Amado (Suor, Cacau e O País do Carnaval). O resto tem o mesmo cheiro de dendê. Esse filme aí não me chamou muito a atenção – apesar da insistência da assessoria em querer que eu fizesse propaganda dele no meu blog. Mas é daqueles que, se passar na TV, com certeza vou conferir com certa curiosidade.

Bjs!

Responder

Acho que é um filme que busca ser popular né? Essa foi a impressão que tive pelo trailer e por algumas críticas que li (inclusive a sua). Acho que ser baseado na obra de Jorge Amado é o que menos qualifica o filme. Isso é apenas um ponto de partida para uma comédia, que pela sua análise, dá certo com algumas ressalvas.

bjs

Responder

Esse gênero não é dos melhores dentro de nosso cinema, por isso nem tenho muita expectativa, mas fiquei curioso pela elogiada atuação do Paulo José.

Responder

Dudu, esses três livros dele eu não li! E, confira o filme, se puder. Beijos!

Reinaldo, é bem popular, sim. Tem uma linguagem próxima ao povo. Acho que seria aquele filme com potencial de ser um sucesso enorme de audiência. Beijos!

Vinícius, ele está ótimo mesmo!

Responder

Não é tão bom quanto Cidade Baixa (que eu achei visceral), mas é engraçado e os atores que fazem os amigos do Quincas são muito bons. No mais, é só não ser exigente que você se envolve com o filme.

Responder

Engraçado,os livros de Jorge Amado são excepcionais.Ele era um escritor soberbo,que descria o jeito baiano de ser de maneira formidável.Ele sabia expressar tudo de bom que o povo baiano tem nunca caindo no caricato.Explico:apesar dos protagonistas dos seus livros serem “vagabundos e boêmios” eles tinham lado humano muito bonito.Em Dona Flor e seus 2 Maridos,Vadinho era um malandro que se arrependia dos seus erros e que apesar das falhas,amava Flor.Em Gabriela o mesmo ocorreu,o personagem de Marcello Mastroianni ao levar Gabriela(Sônia Braga) para sua casa queria abrigar ela e em troca de sexo e comida na mesa.Mas aquele velho era solitário e viu naquela cabloca uma companhia.Enfim são livros,otimos e que na minha infância eu adorei muito(não sou velho,tenho 23 anos hehehe).Os livros de Jorge Amado nunca tiveram uma adaptação a altura das obras do mestre baiano.A melhor obra adaptada de Amado pra mim foi Dona Flor e Seus 2 Maridos,mas não o filme de Bruno Barreto,e sim a série exibida pel Tv Globo em 1998.De forma surpreendente Edson Celulari encarnou muito bem o papel do malandro Vadinho e Giulia Gam a de Flor(atualmente a atriz perfeita para o papel de flor é Juliana Paes).O filme de Bruno barreto foi exito de bilheteria(a maior da história do cinema brasileiro),mas não teve qualidades artisticas.Quando eu vejo Dona Flor do Bruno Barreto eu fico pensando como um filme com tantas falhas pode ter tido tamanho sucesso de bilheteria.E Gabriela também foi pelo mesmo caminho.Ouve também Tieta do Agreste dirigido por Cacá Diegues que é bacana,mas não faz jus ao talento de Jorge Amado(de bom nesse filme é a trilha sonora de Jacques Morelembaum que depois se consagraria no clássico Central do Brasil).E pela sua resenha eu percebi que mais uma vez a obra de Jorge Amado não foi adaptada como merecia.Uma pena.

Responder

Roberto, acho que é até meio impertinente comparar este filme com “Cidade Baixa”. As duas propostas são MUITO diferentes… Os atores que fazem os amigos do Quincas, realmente, se destacam!

Paulo Ricardo, eu não sou a maior conhecedora da Literatura do Jorge Amado! 🙂 Mas, gosto, geralmente, das adaptações cinematográficas das obras dele. A série “Dona Flor” foi excelente mesmo!!!

Responder

Eu gostei até mais do que você (rsrs). Acho que é tudo que ‘O Bem Amado, de Guel Arraes (que passou aqui no CinePe)’ tentou ser e não conseguiu: um esplendor de comédia tipicamente brasileira..

Responder

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.