Lendo – “Clarice Lispector – Entrevistas”
“Eu me expus nessas entrevistas e consegui assim captar a confiança dos meus entrevistados a ponto de eles próprios se exporem. As entrevistas são interessantes porque revelam o inesperado das personalidades entrevistadas. Há muita conversa e não as clássicas perguntas e respostas”. (p. 10)
Em um dos fragmentos da biografia “Clarice,”, de Benjamin Moser, o autor fala a respeito do fato de que, apesar de ter sido uma escritora aclamada e admirada, Clarice Lispector não conseguia – ao contrário de outros grandes nomes da literatura de sua época, como Érico Veríssimo e Jorge Amado – viver somente de sua atividade literária. Muito em parte por causa disso, Clarice enveredou em bicos em revistas e jornais – escrevendo desde colunas sentimentais, passando por colunas fixas até chegar às entrevistas.
O livro “Entrevistas”, que teve organização de Claire Williams, faz um apanhado de 42 entrevistas conduzidas por Clarice Lispector com diversas personalidades da literatura, da música, das artes cênicas, das artes plásticas e do mundo dos esportes. Todas estas entrevistas foram feitas quando Clarice já era um nome bastante conhecido e, no decorrer da leitura do livro, chama a atenção, principalmente, o fato de que tais entrevistados, em nenhum momento, ficaram melindrados com a figura de Clarice. Pelo contrário: a verdade é que muitos deles se abriram por completo, principalmente sobre temas que são difíceis para muitos descreverem.
Nas entrevistas, também é importante ressaltar que Clarice se mostrava interessada em todos. Me parece que ela seguia sempre um mesmo modelo de perguntas, independente do entrevistado; então os temas, neste livro, giram em torno de três importantes questões: “Qual é a coisa mais importante do mundo?”, “Qual é a coisa mais importante para a pessoa como indivíduo?” e “O que é o amor?”. Clarice demonstrava, ao mesmo tempo, um grande fascínio por desvendar o processo criativo, o modo de trabalho e as diversas formas de realizações de seus entrevistados.
“Entrevistas” acaba sendo uma leitura dinâmica e interessante por se tratar de conversas informais em que a estrutura típica do gênero da entrevista é sempre desafiada. Em vários momentos, os papeis de entrevistadora e entrevistado (a) se invertiam (tanto do lado de Clarice quanto do outro). Em vários momentos, a impressão que se tem é a de que Clarice estava numa busca por respostas às perguntas que ela ainda não sabia responder. Em vários momentos, se tem a sensação de que todos ali estão revelando muito mais sobre si mesmos do que já tinham feito anteriormente – e isso também vale como um tributo ao olhar peculiar que Clarice dirigia sobre as pessoas. Aposto que ela via a todos de uma forma única e revelava traços de todos aqueles que estão neste livro, por exemplo, que eles ainda nem tinham percebido antes.
Clarice Lispector – Entrevistas (2007)
Organização: Claire Williams
Editora: Rocco
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Gosto muito de Clarice Lispector, mais da figura dela até do que de seus livros, apesar de adorar o recurso do narrador psicológico. Fiquei curiosa quanto ao livro.
Kamila, lembro que lendo aquela biografia, havia uma observação parecida (isso dos papéis se inverterem durante a entrevista etc). É um dos livros que está na minha lista de desejos quando eu for a Natal, espero encontrá-lo.
Você está ficando especialista em Clarice 🙂
Amanda, eu gosto tanto da figura da Clarice quanto dos livros dela.
Romeika, ah, é fácil de encontrar este livro na Siciliano daqui. Comprei lá, inclusive. Especialista é demais! Só sou uma leitora fiel do trabalho dela. 🙂
Sério Ka, vc ainda vai fazer (se é que já não toca projeto similar) um mestrado com Clarice Lispector como tema. Se não fizer, não é justo. rsrs.
O livro parece ser interessante por iluminar uma faceta diferente de Clarice.
Bjs
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Reinaldo, não toco projeto similar, mas seria uma ideia interessantíssima estudar Clarice. Só teria que ver o ponto de pesquisa, uma vez que ela já tem sido tão decifrada. Beijos!
Extremamente interessante. Não sabia que Clarisse tinha realizado tais entrevistas e realmente fiquei curioso para lê-las.
Luís, sim, a Clarice entrevistou pessoas, ao longo de sua vida, muito, em parte, como eu disse, pra complementar a sua renda.
Deu vontade de reler foi “Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres”. Amo Clarice!
Beijo
Cristiano, amamos Clarice! 🙂 Beijo!
Novamente venho travar um dedinho de prosa “clariceano” contigo. Novamente agradecer tantas palavras bem encaixadas e tanta delicadeza e suavidade com Clarice. Esse livro eu ainda não li, mas claro, está na lista dos “brevementes”.
Deixo aqui um estimado abraço.
E que continuemos sempre bebendo da fonte clariceana para nos sustentarmos e entender coisas, fanzendo-a perguntas, como ela a seus entrevistados, as quais nós não entendemos.
[…] do amor, suas incertezas e contradições”. Desta forma, tendo como base depoimentos, entrevistas e correspondências de Lispector, entramos em contato com Clarice, ao mesmo tempo em que, por meio […]