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O Mágico

publicado em:10/09/11 12:30 AM por: Kamila Azevedo Cinema

“O Mágico”, animação francesa dirigida e escrita por Sylvain Chomet indicada ao Oscar 2011 da categoria, não é o primeiro e nem será o último filme a falar sobre a decadência de uma arte. Billy Wilder, por exemplo, abordou isso de forma magnífica ao falar sobre o ocaso dos atores do cinema mudo no excelente “Crepúsculo dos Deuses”. A obra de Chomet fala sobre a magia como uma forma de arte ultrapassada – para sermos justos, a verdade é que “O Mágico” mostra a magia como uma linguagem artística que fica em segundo plano no interesse do público, especialmente quando confrontada com outras que são mais “chamativas”, como a música e o próprio cinema, nesse caso.

Os acontecimentos retratados no filme se baseiam num roteiro previamente escrito pelo ator e diretor francês Jacques Tati, mas que nunca foi produzido. Neste sentido, é importante prestar atenção à figura do próprio Tati, que, antes de trabalhar com cinema, foi um talentoso mímico que nunca obteve sucesso nessa área. O sobrenome verdadeiro dele (Tatischeff) dá nome ao protagonista desta animação, um mágico que, cada vez mais, vê a decadência de seu ofício, na medida em que ele se vê sem alternativas, sem locais para apresentar aquilo que ele mais sabe fazer.

O retrato feito por Sylvain Chomet é impiedoso em diversos momentos. Tatischeff é aquele tipo de profissional que nasceu para fazer uma única coisa e, mesmo tentando caminhos/carreiras diferentes, ele não consegue fugir daquele que é seu verdadeiro ofício. A constante trajetória de obscuridade na qual ele se coloca é cheia de tarefas humilhantes. “O Mágico” tem um vislumbre de otimismo quando Tatischeff, após uma apresentação em um bar da Escócia, acaba se relacionando com uma fã – e isso muda a vida dele, de uma certa forma, talvez por mostrar que a magia ainda tem o poder de encantar certas pessoas.

Entretanto, não dá para se pedir um viés otimista em uma história cujo cerne é a melancolia. Talvez, por isso mesmo, a decisão de Sylvain Chomet em ambientar a sua história numa atmosfera de cinema mudo, em que as palavras nunca eram necessárias para se demonstrar aquilo que se sente. E sentimento é tudo o que emana de “O Mágico”, uma animação feita para adultos e que pega a gente justamente por mostrar um mundo que passa longe daquilo que é considerado fantasia, onde a magia não tem espaço para existir.

Cotação: 8,5

O Mágico (L’illusioniste, 2010)
Director: Sylvain Chomet
Roteiro: Sylvain Chomet (com base no roteiro de Jacques Tati)
Com as vozes de: Jean-Claude Donda, Eilidh Rankin, Duncan MacNeil, Raymond Mearns, James T. Muir, Tom Urie, Paul Bandey



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Comentários


Os comentários ao redor do filme (assim como o seu) são excelentes, eu infelizmente ainda não tive a chance de conferir, mas o farei assim que puder.

Beeijos 😉

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Lembro que quando vi esse filme fiquei um pouco incomodado no início. Não sabia que era uma animação quase sem diálogos (na verdade, fui ver sem saber NADA da trama). Só depois de uns 10 minutos de projeção eu consegui finalmente embarcar na bela viagem que Sylvain Chomet nos proporciona com sua obra. Um filme encantador não só pela beleza fotográfica, como também pela expressão de sentimentos dos personagens através de gestos.

Beijos!

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Ka, só tenho lido boas impressões sobre este filme – muitos destacam a sensibilidade como princípio na narrativa. Teu texto, ótimo, reforçou meu interesse pela obra! 😉

Beijo!

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Kamila todo cinéfilo tem o “gênero que menos gosta” e você já declarou no blog que o seu é terror.Eu dei uma revisada na minha lista de filmes que assisto e cheguei a conclusão que animação é o gênero que não aprecio muito.Eu assisto sempre aos que tem mais destaque na mídia.E ano passado eu gostei muito de “Como Treinar seu Dragão”(que me lembrou a “Viagem de Chihiro) e a obra prima Toy Story 3.Gostei também de “Enrolados” da disney(apesar de achar que não tem a força dramatica das obras citadas).Estou curioso para assistir porque o filme foi produzido em cima da obra do falecido Jacques Tati e os especialistas em animação afirmam que isso torna o filme muito bom.Disponivel em DVD eu vou conferir.

Como não sou fã de animação uma lista curtinha do meu topo five:

1-Toy Story 3:Chorei que nem um doido e me emocionei com a obra definitiva da pixar.Uma hora na vida precisamos amadurecer e como é doloroso deixar a infancia de lado.ESTUPENDO!

2-A Viagem de Chihiro:Hayao Miyazaki escreve uma animação que a protagonista se torna uma escrava.Lindo e muito bem feito,e nos extras do DVD podemos conferir o esforço do mestre japonês para realizar essa obra,uma vez quele ele havia ameaçado encerrar a carreira por problemas de saúde.Merecido Oscar de animação em 2003.

3-A Bela e a Fera:ótimas lembranças da minha infancia.Quantas vezes meu video cassete engoliu essa fita rss.

4-Wall-E:Se Stanley Kubrick assim como Robert Zemeckis,Wes Anderson e Richard Liklater resolvese dirigir uma animação?pra mim o resultado seria “Wall-E”.

5-Mary e Max-Uma Amizade diferente:descubram essa perola australiana que me encantou e é muito triste,sobre a amizade de um homem obeso e deprimido e uma garotinha.Eles trocam correspodencia dá autralia aos EUA.Minha animação favorita de 2009.

Beijos

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João Linno, concordo plenamente com a frase final de seu comentário. Beijos!

Cristiano, acho que você irá gostar desse filme. Beijos!

Paulo, eu gosto bastante de animações. Seu top 5 tá ótimo, apesar de eu não ter visto “Mary & Max” ainda. Para quem não gosta do gênero, você até que viu excelentes filmes dele. Beijos!

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Acho ‘O mágico’ um filme tão intimista e saudosista que me emociono muito toda vez que revejo. Tem um quê de todas as animações francesas, mas que desperta algo diferente por ter um personagem tão icônico quanto o ‘mágico’.

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Thiago, obrigada! Tentarei assistir “Blade Runner”, sim! Beijo!

Luís, concordo contigo. O filme é muito intimista e saudosista!

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Kamila, eu esperava bem mais de “O Mágico”… Acho que, claro, é uma obra extremamente melancólica, mas que não serve para longa-metragem. Se fosse curta, seria bem mais marcante, já que o meio do filme é muito enrolado, enquanto o início e o desfecho são perfeitos!

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Não vi este ainda. Tenho a vontade, só falta uma boa oportunidade!

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Matheus, de uma certa forma, concordo com teu comentário. A história fica meio truncada, em vários pontos.

Mauricio, é um filme muito bonito mesmo.

Raspante, assista, sim! É bem interessante.

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Uma maravilha esse filme, pra mim, até então, a melhor animação do ano. Toda a atmosfera dos filmes do Tati está no filme: os poucos diálogos, os corpos que se expressam por si mesmo, o tom melancólico, o humor sutil. É como se a aura do cineasa e ator francês permeasse o filme. Mas mesmo assim, acho que tem muito do cinema do próprio Chomet no filme. Ele não quis simplesmente fazer um filme como Tati faria (o que seria um erro), a começar pela escolha da técnica de animação. Assim, o filme se aproxima bem mais de sua obra-prima, As Bicicletas de Belleville. Uma delícia de filme.

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Kamila, esse filme me pegou completamente desprevenido. Tem certo poder que me deixou sem chão. Fiquei emocionado e horas depois ainda pensava sobre ele… para ser sincero, me deixou um tantinho deprimido. Belíssima obra subestimada por muitos.

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Rafael, eu conheço pouco da filmografia do Tati, mas está claro que o diretor se inspirou demais no universo cinematográfico dele.

Wally, o filme deixa a gente meio deprimido mesmo. A história é muito triste.

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