Vincere
A palavra vincere significa vencer, em italiano. Porém, na realidade, o filme dirigido e co-escrito por Marco Bellocchio não fala sobre uma história vencedora, e sim faz um relato de uma vida pautada por muito sofrimento e derrota. A personagem principal da obra se chama Ida Dalser (Giovanna Mezzogiorno), uma mulher que foi varrida completamente do acontecimento mais importante que ocorreu em sua vida, o que fez com que ela passasse a ser alguém inexistente e que teve que passar por inúmeras duras provações.
O tal acontecimento foi o encontro dela, em Milão, com o jovem Benito Mussolini (Filippo Timi), quando ele ainda era um militante socialista. Naquela época, Ida ficou completamente fascinada pela figura dele, pelas suas ideias, pelos seus discursos e atitudes, pela sua personalidade. Da admiração nasceu um grande amor, que seguiu-a pelo resto de sua vida. Ida foi parceira de Mussolini em suas diversas iniciativas como militante, além de ser a sua primeira esposa e mãe do seu primogênito, que também se chamaria Benito, como o pai.
A “sorte” de Ida começa a mudar quando Benito Mussolini começou a lutar na I Guerra Mundial e passou a renegar aquela que foi a sua esposa. A situação piora quando ele ascende ao poder na Itália, como líder do Partido Nacional Fascista, em 1922, e passa a ser chamado de Duce. Ao longo de 21 anos de poder de seu ex-marido, Ida, além de ter sido completamente renegada, passou a ser vista como uma louca, uma indigente, vivendo isolada de seu filho – que também tinha uma existência completamente à margem da sociedade, escondido da mesma forma que a sua mãe.
Ou seja, da mulher que ajudou a construir a figura de Mussolini, Ida foi relegada a um ponto em que a sua grande briga passou a ser não aquela que ela sempre travou pelo seu homem, mas sim uma batalha para ser reconhecida pelo que ela era, para provar que o que ela viveu com Mussolini foi uma realidade e para colocar o seu filho no lugar em que ele deveria estar, com as mesmas condições de vida de seus outros quatro irmãos (frutos do segundo casamento de Mussolini).
É uma pena que uma história tão poderosa quanto essa tenha sido diluída em um filme cujas transições temporais são muito bruscas. Em alguns momentos, os pulos no tempo são tão confusos que a plateia também começa a se perder e a imaginar em que ponto da história estamos. O roteiro parece ter sido mesmo o calcanhar de Aquiles de “Vincere”, pois a conclusão do longa também chega a ser muito rápida e sem maiores explicações. Porém, nem mesmo esses problemas são capazes de ofuscar a grandiosidade da atuação de Giovanna Mezzogiorno, perfeita como Ida Dalser.
Cotação: 7,0
Vincere (Vincere, 2009)
Direção: Marco Bellocchio
Roteiro: Marco Bellocchio e Daniela Ceselli
Elenco: Giovanna Mezzogiorno, Filippo Timi, Fausto Russo Alesi, Michela Cescon, Pier Giorgio Bellocchio, Corrado Invernizzi
Parece interessante, viu no cinema?
Celo, sim! Numa sessão do Cine Cult.
Parece interessante, mesmo, fiquei curiosa apesar de suas ressalvas às transições temporais.
Lembro de Giovanna Mezzogiorno no filme “O Amor nos Tempos do Colera” com Javier Bardem e Fernanda Montenegro(filme que por sinal foi uma decepção pra mim.Esperava mais de uma adaptação de Gabriel Garcia Marquez).Desde de “Gomorra” que não vejo um filme italiano que me deixe completamente envolvido.”Vincere” parece ter mais ambição que conteudo,o mesmo mal que precede em “Baaría” de Tornatore.Mas quando for lançado em DVD vou assistir pq gosto muito do cinema europeu.Beijos Kamila.
Amanda, eu recomendo que assistas ao filme. Até porque é uma obra interessante.
Paulo, eu também não gostei de “O Amor nos Tempos do Cólera”, uma adaptação bem irregular. Eu diria que o filme tem ambição e conteúdo. A história é tão boa que sofre justamente com essas transições. O diretor que pesou a mão aqui. Beijos!
Acho a primeira parte, quando vemos Mussolini e Ida se apaixonando, brilhante, com aquele tom operístico alucinante. Depois vira um drama mais tradicional, mas, ainda assim, ótimo, alicerçado na atuação maravilhosa da Mezzogiorno.
Wallace, também achei a primeira parte brilhante. E a atuação da Giovanna é que segura bem a onda desse filme, especialmente a irregularidade na transição temporal.
Não gostei desse filme Kamila.
Cassiano, eu não gostei das linhas temporais bruscas…. Gostei da história e acho que ela merecia um filme bem melhor.
Olha Ka, esse filme eu demorei pra ver porque o sono sempre vincere rs. Não pela obra em si, que encontra seus momentos mais “fortes” no princípio, mas porque tem que estar envolvido mesmo para acompanhar e ele não me cativava. Foram 3 tentativas rs. Mas um dia, foi, e o filme que mais parecia uma novelona se mostrou muito bem contado.
Tirando alguns excessos, eu gostei da fita – atribua, inclusive, a mesma nota que a sua. Agor,a concordo que Mezzogiorno é o grande destaque, em uma das melhores atuações daquele ano.
Bjs
Elton, é um filme complicado, especialmente por causa dessas transições temporais bruscas. Concordo que o princípio é a melhor parte do filme. Beijos!
Concordo exatamente com o último parágrafo do seu texto Kamila, tem uns saltos no tempo que são secos e brutos demais, dá um certo desconforto e meio que tira a gente do filme porque precisamos nos reencontrar novamente dentro da narrativa. Mas a Mezzogiorno está inexcedível no papel dessa mulher apaixonadíssima por essa figura tão peculiar. Esse é um dos grandes acertos do filme, tentar revela esse amor cego que ela nutre pelo dulce. Gosto muito do cinema do Bellochio, é um cara a se seguir de perto.
Rafael, exatamente. Concordamos nessa e sobre a Giovanna. Foi o primeiro filme do Bellochio que eu vi.