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A Árvore da Vida

publicado em:12/12/11 11:40 PM por: Kamila Azevedo DVD

No início de “A Árvore da Vida”, filme escrito e dirigido por Terrence Malick, a Sra. O’Brien (Jessica Chastain, a atriz revelação de 2011) fala o seguinte: “as freiras nos ensinaram que existem dois caminhos na vida – o caminho da natureza e o da glória. Você tem que escolher qual deles irá seguir. A glória não tenta se satisfazer. Aceita ser menosprezada, esquecida, odiada. Aceita insultos e injúrias. A natureza só quer se satisfazer. E fazer com que outros a satisfaça. Gosta de governar sobre todas as coisas. Fazer tudo do seu jeito. Encontra razão para ser infeliz quando todo mundo está brilhando em sua volta. E quando o amor está sorrindo por todas as coisas.”

“A Árvore da Vida” retrata, na realidade, o embate constante entre os caminhos da glória e da natureza. Desta forma, cada um deles está representado, fielmente, por um dos vértices do casal O’Brien. Vejamos o Sr. O’Brien (Brad Pitt), que é um homem exigente demais consigo mesmo e com seus três filhos, incapaz de demonstrar qualquer tipo de amor por eles. Ele é a natureza pura e encarnada e oferece um contraponto muito interessante à figura doce e amorosa de sua esposa, que representa o caminho da glória. No meio destes dois, temos os três filhos (Hunter McCracken, Laramie Eppler e Tye Sheridan) do casal, que, dentro desta conjuntura, na criação que recebem de seus pais, vão encontrando, dentro de si mesmos, aquilo que os define, aquilo que eles são de verdade.

Neste sentido, toda a história de “A Árvore da Vida” nos é retratada por meio de como este ambiente familiar influenciou na formação do caráter de Jack (Hunter McCracken, quando mais jovem, e Sean Penn, quando mais velho), que é o primogênito deste casal. Por meio das lembranças de sua infância, temos a captura daquele instante em que ele entrou naquela fase de perda da inocência e em que ele começa a amadurecer. É importante perceber que Jack é o retrato perfeito deste conflito interno entre aquilo que os filhos do casal O’Brien herdaram, cada um, do pai e da mãe e de como ele mesmo trava uma luta – que é quase uma súplica – em busca daquilo que ele acredita que ele deve ser e do caminho que ele deve seguir.

Um dos elementos mais ricos de “A Árvore da Vida” é a forma como Terrence Malick estruturou a sua história. Ao longo dos 138 minutos de filme, o diretor e roteirista, por meio de um meticuloso trabalho de edição (trabalharam com ele, nesta parte do longa, cinco profissionais da área), alterna as diversas vozes narrativas, que nos mostram que, na verdade, todos os personagens deste longa, sofrem um grande conflito e se questionam diversas vezes sobre qualquer que seja a fé que eles possuem e o foco que eles precisam ter para seguir em frente na vida. Eles travam uma espécie de diálogo interno, com o filho/irmão que eles perderam (e é justamente esse o momento definidor da vida de todos os membros da família O’Brien), de forma a refletirem e poderem continuar naquele caminho que eles escolheram.

“A Árvore da Vida” é aquele tipo de filme que potencializa todo o estilo Terrence Malick de filmar. Um diretor afeito a tomadas com longos silêncios, algumas com caráter bastante onírico, neste longa o diretor usa e abusa de cenas que retratam o céu, a natureza e os elementos cósmicos. Em alguns instantes, isto atua contra sua obra, deixando-a com um ritmo um tanto arrastado. Um outro problema encontrado em “A Árvore da Vida” é em relação às transições entre os diferentes pontos de vista narrativos, que, às vezes, são muito bruscas. Entretanto, estes problemas são pequenos diante da beleza e da riqueza do filme que Malick nos entrega, o qual fala sobre a coexistência do mal e da fé; do sofrimento dos justos e dos inocentes; daquilo que acontece com a gente e nós não entendemos, mas que é fundamental para fazer de nós aquilo que somos; e, principalmente, da natureza da relação entre o homem e Deus – ou entre o homem e a entidade na qual ele deposita a sua fé. Talvez, por isso mesmo, podem ser encontradas tantas referências, dentro do filme, ao Livro de Jó, que retrata, na Bíblia, basicamente, quase os mesmos conflitos de dúvida e de reafirmação constante da fé por meio da vivência do sofrimento.

Cotação: 9,0

A Árvore da Vida (The Tree of Life, 2011)
Direção: Terrence Malick
Roteiro: Terrence Malick
Elenco: Brad Pitt, Sean Penn, Jessica Chastain, Hunter McCracken, Laramie Eppler, Tye Sheridan, Fiona Shaw



Jornalista e Publicitária


Comentários


Tb gostei muito desse filme, acho até um dos melhores do ano, mas dividiu muitas opniões. Na sala em q estava varias pessoas levantaram e foram embora antes do final da sessão, mas quem se predispor a embarcar na viagem proposto por Malick vai ter uma experiencia única. Ótimo texto!

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Celo, realmente, a obra dividiu muitas opiniões. Eu adorei, adorei mesmo. Obrigada!

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Um dos melhores do ano, sem dúvidas.
Malick reafirmando seu talento.
E as pessoas que abandonaram as sessões
saíram decepcionadas com “o novo filme de Brad Pitt”.

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Herculano, eu não entendo quem abandona a sessão de um filme… E quem assiste “A Árvore da Vida” pensando se tratar do “Novo filme de Brad Pitt” está totalmente errado…

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Gostei do paralelo com o livro de Jó. Acho que é uma boa perspectiva para se adotar na hora de experimentar o filme. Mas não acho o filme esse supra-sumo não.

Bjs

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Concordo contigo, Kamila. Por mais que o filme trate de temas tão legais, ele se torna um pouco apático em alguns momentos devido ao estilo que Mallick impôs a esse filme (e que nós já deveríamos saber, devido a toda sua filmografia).

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Acho que esses ritmos arrastados que vc citou no texto Kamila, não são prejudiciais ao filme, pelo contrário, a tendência hoje é irmos mais lentamente, movimentos como slow food, yoga, apreciação de arte, enfim, nos levam a uma experiência da vida mais calma, menos agitada, e é isso que Malick nos propõe, se fossemos “enxugar” o filme tirando esses “ritmos arrastados”, vc acha que seria mesmo esse filmão que ele é?

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Reinaldo, o filme pode não ser esse supra-sumo todo, mas que é lindo, ah, isso ele é! Beijos!

Luís, obrigada! E eu concordo com seu comentário! 🙂

Cassiano, gostei da sua visão sobre o ritmo arrastado do filme, e, mesmo com ele, já achei “A Árvore da Vida” um filmão!

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Ainda não conferi esse, mas a vontade é muita! Não sou fã de filmes demorados por demais, sempre assisto em dois dias, pra não ficar tão chato,,, rsrs
Beijos

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Eri, eu não consigo assistir a um filme em dois dias. Tenho que ver LOGO! rsrsrsrs Beijos!

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“Onde estavas quando lancei os fundamentos da terra?…Quando as estrelas da manhã juntas,cantavam e todos os filhos de Deus gritavam em júbilo”

Essa passagem do livro de Jó é o inicio de uma obra que há muitos anos eu não via no cinema americano.Um filme que não busca respostas e cada um interpreta a sua maneira os temas que Terrence Malick nos apresenta.A relação entre O´Brien(Brad Pitt) e Jack(Hunter McCracken e Sean Penn) e como pai e filho lidam com a morte.A mãe(Jessica Chastain) é objeto de admiração de Jack,o pai é o contrário,rude com os filhos,as vezes até agressivo(uma ótima cena de Brad Pitt nervoso no momento da refeição),Malick prende o espectador quando Jack vê a possibilidade de matar o pai que esta arrumando o carro(era só chutar o macaco e o pai morria esmagado).E Terrence Malick avança nos temas do filme quando fala da criação do universo e dinossauros.A fotografia é um caso a parte,merece no minimo uma indicação ao Oscar e a trilha do sempre competente Alexandre Desplat é linda.O futuro dirá se é uma obra prima ou não.Pra mim foi uma experiencia impactante.

Beijos

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Também adorei o filme, fiquei um bom tempo parada olhando para tela após o final. As imagens, a forma, até o ritmo arrastado fazem de Árvore da Vida um dos melhore de 2011, e uma experiência indescritível no cinema, sem dúdivas.

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Faz tempo que estou adiando assistir esse filme. Seu texto me deixou mais curioso para vê-lo.

Beijos.

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Paulo, exatamente. Acho que cada um interpreta o filme à sua maneira. Eu interpretei como o conflito entre a natureza e a glória. Você interpreta de outra maneira, uma forma também adequada. Espero que tenha espaço no Oscar 2012, porque merece. Beijos!

Amanda, exatamente. A gente fica refletindo sobre o filme após seu término, pensando naquelas imagens, no ritmo dele, na mensagem que ele quer passar. Um dos melhores do ano, sem dúvida.

João Linno, assista logo! É maravilhoso! 🙂 Beijos!

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Desde que comecei a ler seu blog (e, admito, há pouco tempo) essa é sua melhor crítica. No entanto, o filme é tão transcendental que qualquer crítica feita fica apagada diante sua grandiosidade – por isso nem me arrisco em definir em palavras Árvore da Vida. É o meu favorito do ano e fiquei pensando nele sem parar durante pelo menos uma semana. Ah, discordo de você no aspecto do ritmo, que eu acho, pelo contrário, favorável ao longa este ritmo lento que é adotado às vezes – mesmo que isso afaste muito o público convencional do cinema. Parabéns!

http://www.lumi7.com.br/2011/12/um-close-up-na-setima-arte-taxi-driver.html

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Júlio, obrigada! 🙂 Eu concordo que, diante da beleza desse filme, qualquer crítica perde seu valor. É um dos melhores filmes do ano, com certeza.

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A Árvore da Vida à um filme evento dentro do chamado cinema de arte, e sua dimensão parte mais desse pressuposto que à anterior ao filme do que do filme em si.

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Isabel, eu não acho o estilo do Malick tão ousado assim.

Kayla, concordo com você!

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[…] “A Árvore da Vida” é aquele tipo de filme que potencializa todo o estilo Terrence Malick de filmar. Um diretor afeito a tomadas com longos silêncios, algumas com caráter bastante onírico, neste longa o diretor usa e abusa de cenas que retratam o céu, a natureza e os elementos cósmicos. Em alguns instantes, isto atua contra sua obra, deixando-a com um ritmo um tanto arrastado. Um outro problema encontrado em “A Árvore da Vida” é em relação às transições entre os diferentes pontos de vista narrativos, que, às vezes, são muito bruscas. Entretanto, estes problemas são pequenos diante da beleza e da riqueza do filme que Malick nos entrega, o qual fala sobre a coexistência do mal e da fé; do sofrimento dos justos e dos inocentes; daquilo que acontece com a gente e nós não entendemos, mas que é fundamental para fazer de nós aquilo que somos; e, principalmente, da natureza da relação entre o homem e Deus – ou entre o homem e a entidade na qual ele deposita a sua fé. Talvez, por isso mesmo, podem ser encontradas tantas referências, dentro do filme, ao Livro de Jó, que retrata, na Bíblia, basicamente, quase os mesmos conflitos de dúvida e de reafirmação constante da fé por meio da vivência do sofrimento. (Crítica publicada em 12 de dezembro de 2011) […]

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Um clássico!
Mas como dizem que um filme verdadeiramente clássico só se apresenta depois de encantar pessoas durante 50 anos…
Infelizmente não estarei aqui para ver esta verdade!
Entra para a história… pelo menos para a minha.
Sou um cinéfilo desde os 13 anos…. estou com 46!
Há tempos esperava por um filme que me ‘sacudisse’ a alma!
Definitivo.
Angelo Pessoa

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Esqueci….
Matéria tão clássica quanto o filme.
Parabéns ao dono do BLOG!
Angelo Pessoa

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Angelo, clássico mesmo. Espero que esse filme ganhe uma aclamação geral do público porque merece. Esse filme sacode a alma da gente mesmo. Muito obrigada pelo comentário e pelas palavras. Seu comentário me emocionou, pelo seu entusiasmo com o filme. Abraços!

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O enredo do filme eu diria q fica na pré e reparação do coração de uma mãe q perde o filho e tenta caminhos para se reaproximar de seus sonhos e esperanças (Deus).

Concordo que essa série de cenas sobre natureza fazem do filme um tanto arrastado… mas isso se faz necessário… a natureza as vezes se passa por serena e tranquila enquanto em outro momentos é bem rude e violenta…. Imagem do pai purinha…rs…Isso tudo são texturas colocadas no filme que nos tira do drama particular para nos ligar a todo o contexto do universo. Esses silêncios e orquestrações são reflexões necessárias ao passo da dramatização do filme.

O extravazamento de raiva do filho mais velho me fez lembrar do A fita branca (2009). O excesso de cobrança com as crianças/adolescentes comuns dos anos 30-50 ficou bem demonstrado.

Vejo q a narrativa está sempre puxando pela forma q auto completamos o filme em nossas cabeças. Por isso, essa sensação por uns de terem visto um “filmaço” e de outros de terem visto um filme lento e cansativo.
Um filme para ser visto por aqueles que prezam pela estrutura familiar.

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Acho curioso que você diga que esse é um filme para ser visto por aqueles que prezam pela estrutura familiar, porque esse filme, na realidade, mostra uma estrutura familiar em que temos um pai bastante rígido, uma mãe resiliente e filhos que sofrem com esse conflito de ambos os lados e que eu mencionei no meu texto.

Sim, a mãe busca esse caminho de reaproximação de seus sonhos e esperanças, mas e o filho (Sean Penn adulto)? O filme também é muito sobre ele crescendo em um lar onde o amor e ódio eram sentimentos conflitantes.

Gostei da sua visão sobe as cenas da natureza. Acho que é bem isso aí.

E, como eu já tinha dito a você e Cibele, acho que esse é um filme que tem que ser visto no “estado de espírito” certo. Isso que vai influenciar diretamente em como a pessoa vai apreciar ou não a obra.

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Quando eu disse” Um filme para ser visto por aqueles que prezam pela estrutura familiar.” Estava me referindo àqueles que sabem o quanto o trato familiar importa na vida dos filhos e casal. Cada vez mais vemos pessoas achando natural viver sozinho e até criando filhos sem pai ou mãe como opção de vida. Podemos ver que mesmo sendo o pai rígido e a mãe a apaziguadora (fato normalissímo nas famílias dos anos 60-70) existiu naquele filho valores, juízo e respeito. “Estão todos bem” (Robert de Niro – está na programação da HBO) é um pouco do que estou querendo dizer. Sendo que é uma espécie de desculpas do pai rígido para com os filhos.
Realmente , esqueci do filho. Ele também está a procura dessa reaproximação.

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Marques, ah, agora entendi o que você quis dizer. Ainda não assisti “Estão Todos Bem”, vou tentar conferir.

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