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Lendo – “Quinta Avenida, 5 da Manhã”

publicado em:21/12/11 3:09 AM por: Kamila Azevedo Livros

“E pensar que o filme quase não saiu. Pensar que Audrey Hepburn não queria o papel, que os censores estavam brigando com o roteiro, que o estúdio queria cortar “Moon River”, que Blake Edwards não sabia como terminar o filme (na verdade, ele filmou dois finais diferentes) e que o romance de Capote era considerado inadaptável parece hoje quase engraçado. Mas é verdade”. (p. 18)

Baseado no livro homônimo de Truman Capote, “Bonequinha de Luxo”, filme dirigido por Blake Edwards, foi lançado em 1961, amealhando boas críticas, conseguindo uma trajetória bem sólida nas bilheterias e recebendo cinco indicações ao Oscar (das quais venceu duas: Trilha Sonora e Música Original). Apesar do trabalho de adaptação de seu livro ter sido muito odiado por Capote (que nunca escondeu a sua insatisfação de ninguém), a verdade é que “Bonequinha de Luxo” é um daqueles filmes que transpuseram a chamada barreira do tempo, se transformando num clássico do cinema, ao mesmo tempo em que consolidou a imagem de Audrey Hepburn trajando o vestido preto básico criado especialmente para ela pelo seu habitual parceiro – e estilista favorito – Hubert de Givenchy como o ícone fashion que ela é, até hoje.

O livro “Quinta Avenida, 5 da Manhã”, escrito por Sam Wasson, faz um retrato de como foi todo o processo que levou o livro à tela. Na realidade, o autor faz um relato de como Truman Capote teve a ideia para “Bonequinha de Luxo”, em quais situações ele se inspirou e mostra de que forma os dois produtores Martin Jurow e Richard Shephard conseguiram convencer Capote a vender os direitos de adaptação do livro ao cinema e como foram todas as decisões criativas (escolha do roteirista, aprovação do roteiro, escolha do diretor, escolha do elenco, etc.) tomadas pela dupla até o instante em que “Bonequinha de Luxo”, o filme, teve sua estreia no Grauman’s Chinese Theater, em Hollywood, no dia 17 de outubro de 1961.

Entretanto, o elemento mais rico da narrativa escrita por Sam Wasson está na tese defendida pelo autor ao longo de todo o seu livro: a de que “Bonequinha de Luxo”, o filme, exerceu um papel fundamental para o surgimento da mulher moderna. Explicamos: na década de 50, a mulher norte-americana estava suscetível à influência de um pensamento extremamente convencional e pré-fabricado de que a sua felicidade estava em casa, ao lado do marido e dos filhos. Qualquer caminho diferente desse, era inaceitável. O próprio cinema, neste sentido, retratava bem este conflito, uma vez que as personagens femininas dos filmes dos anos 50 ou encarnavam o protótipo da santa ou da vagabunda – com atrizes preenchendo muito bem devidamente ambos os estereótipos.

Uma personagem como Holly Golightly representava uma mudança de mentalidade na virada dos anos 50 para os anos 60. Nas palavras da escritora e jornalista Lettie Cottin Progrebin: “Holly Golightly era muito diferente daquela caricatura hollywoodiana da mulher. Era a mulher que a gente queria ser. Ali estava uma mulher glamourosa, original, ligeiramente bizarra, que não parecia convencida de que tinha de viver com um homem. Era uma garota solteira, levando a vida sozinha, e podia ter uma vida sexual ativa sem ser moralmente questionável. Eu nunca tinha visto aquilo antes”.

Neste sentido, foi crucial a escolha de Audrey Hepburn para interpretar o papel. Uma atriz cuja imagem era ligada à noção de que ela era exatamente a moça que as filhas norte-americanas deveriam ser, Hepburn relutou muito até aceitar o papel – e, se o fez, foi por convencimento do seu agente Kurt Frings – e transformou uma personagem cujos valores iam de encontro ao que era propagado nos anos 50 em alguém que era diferente, mas de uma forma que era aceitável e palatável para o grande público. Importante também notar que a atriz participou ativamente de todo o processo de pré-produção, produção e pós-produção de “Bonequinha de Luxo”, assim como a dupla de produtores, o roteirista e o diretor, tendo em vista a “peculiaridade” do material abordado. Mais curioso ainda é perceber que Audrey, já nos anos 60, acabaria firmando a imagem da mulher moderna que teve início com Holly Golightly ao interpretar Joanna Wallace, o papel título de “Um Caminho Para Dois”, filme de Stanley Donen, uma mulher que era “de verdade – com todos os seus defeitos, desejos e dores humanas sem refinamento”. Era o fim definitivo do “conto de fadas” que foram os anos 50…

“Quinta Avenida – 5 da Manhã” é um livro que faz a gente ter toda uma noção de como é o processo criativo e de negociações constantes que é levar um filme até a grande tela. O trabalho de contextualização histórica feito por Sam Wasson é perfeito, estabelecendo muito bem todos os vértices que atuaram nos bastidores deste processo e indo até além ao mostrar as implicações que o lançamento de “Bonequinha de Luxo”, o filme, teve para a afirmação das mulheres nos anos 60. Difícil imaginar que, quando Audrey Hepburn desceu daquele táxi, em frente à loja da Tiffany’s, na Quinta Avenida, em Nova York, às 5h da manhã, daquele dia 02 de outubro de 1960, todos os envolvidos na produção de “Bonequinha de Luxo” achassem que o filme teria essa importância para uma mudança tão significativa para a sociedade norte-americana.

Quinta Avenida, 5 da Manhã – Audrey Hepburn, Bonequinha de Luxo e o Surgimento da Mulher Moderna (2010)
Autor: Sam Wasson
Editora: Zahar

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A última modificação foi feita em:outubro 21st, 2019 as 6:15 pm


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Comentários


Eu fui essa semana comprar, mas não achei na livraria… Estou doido pra ler esse livro. Doido mesmo. Ainda mais agora, pra mim o livro tinha apenas algumas curiosidades, não todo o processo…

Enfim, tenho que ler pra ontem =)

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E se você pensar que Truman gostaria de ter Marylin como Holly… Imagina se ela estivesse disponível? Não teríamos o brilho de Audrey, neste que sme dúvida é seu papel mais icônico. Seria uma loucura imaginar isso, né?
Sobre “Um Caminho Para Dois”, comprei o DVD há 2 semanas e ainda não recebi. Estou ansioso! 🙂
Beijos!

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Raspante, esse livro é maravilhoso!

Cleber, procure, sim! O processo de criação também me interessa muito.

Weiner, pois é. Mas, os produtores da adaptação NUNCA quiseram Marilyn. Eles queriam uma atriz que ninguém imaginasse para aquele papel. “Um Caminho Para Dois” é um LINDO, LINDO filme. Um dos meus favoritos da Audrey. Beijos!

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Não sabia que Truman Capote não gostou da adaptação do livro para o cinema(nos extras do meu DVD não fala sobre isso).Você tem razão a imagem da mulher nos anos 50 era de certinha ou sem vergonha(vejo isso pelos filmes mais antigos.até alguns lançados nos anos 70 mas que ainda tinha esse conceito).Acho a carta que Audrey Hepburn escreveu para joalheria Tiffany´s emocionante(ela era linda e muito inteligente).Você sabe que conheci esse filme através de você.E gostei muito e pretendo rever ao longo da minha vida.Sempre que eu vejo algum material sobre o filme “Bonequinha de Luxo” eu lembro de você.

Beijos Kamila.

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Paulo, ele não gostou da adaptação porque o roteirista tomou muitas liberdades em cima do livro dele, modificando a obra dele por completo. Ele pensava numa adaptação mais literal do livro. Eu amo “Bonequinha de Luxo” e a Audrey Hepburn é meu ícone de cinema favorito. 🙂 Beijos!!

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Ganhei de aniversário mês passado. Amei as fotos dos bastidores no livro. Assim que eu terminar “O Espião que Sabia Demais”, começarei esse.

Beijos! 😉

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Mayara, ótimo presente! Tenho certeza de que você vai adorar o livro! 🙂 Beijos!

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