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Lendo – “Bonequinha de Luxo”

publicado em:10/01/12 9:52 PM por: Kamila Azevedo Livros

“A personalidade mediana se transforma com freqüência, a cada intervalo de tempo nosso próprio corpo sofre uma metamorfose completa – desejável ou não, é natural que nos transformemos”. (p. 54)

Protagonista do livro “Bonequinha de Luxo”, de autoria de Truman Capote, quando encontramos Holly Golightly, ela deve estar vivendo o auge dos seus vinte anos e chegou ao ponto em que inventou tantas coisas, acontecimentos, pessoas e personas em sua vida, de forma que ela mesma já perdeu o contato com a sua realidade. Ela acredita piamente na história que criou e abraçou para si mesma – talvez, como uma forma de parecer mais forte ou, quem sabe, de se proteger daquilo que ela mesma gostaria de esconder dos outros.

A história de Holly nos é contada pelo ponto de vista de um narrador onisciente, aspirante a escritor, que mora no mesmo prédio que ela. Boa parte de “Bonequinha de Luxo” se dedica à descrição dele do fascínio que Holly exercia nele, da vontade que ele sentia de se aproximar dela, do desejo que ele tinha de penetrar na verdadeira personalidade dela e da necessidade que ele sentia de protegê-la. É como a música “Logo de Cara”, do grupo Ira!, de autoria de Kiko Zambianchi e Marcelo Rubens Paiva, que fala sobre a relação do interlocutor com alguém que mexe demais com os pensamentos dele.

Portanto, “Bonequinha de Luxo” nada mais é do que o retrato dos efeitos e das emoções que o contato com a personalidade de Holly Golightly causam no narrador. Ele sente a necessidade de contar a história dela, como se para fechar um próprio capítulo de sua vida, como se ele pudesse, finalmente, seguir em frente. Quando a realidade, na verdade, é que Holly sempre será uma sombra na vida daqueles que foram tocados por ela – uma vez que a personalidade independente dela, o desapego dela, a melancolia, a inocência, o senso de não (querer) pertencer a algo e a falta de identidade definida a transformassem num pássaro selvagem e traiçoeiro, que vai querer sempre voar para um novo lugar e deixando as pessoas olhando pro céu e imaginando: “onde será que ela estará agora?”.

Livro que deu origem ao filme dirigido por Blake Edwards, “Bonequinha de Luxo”, como idealizado por Truman Capote, é uma obra muito diferente do material adaptado por George Axelrod. O livro enfoca muito mais a figura de Holly, seu caráter alienado e suas idiossincrasias do que o relacionamento que se desenvolve entre Holly e o narrador. O que interessa a Truman Capote é o retrato de um estilo de vida elegante e fútil que tanto o fascinava – e que foi fruto da observação atenta de Capote junto às suas amigas da alta-sociedade nova-iorquina.

Bonequinha de Luxo (2005)*
Editora: Companhia das Letras
Autor: Truman Capote

*A edição nacional vem com um bônus de três contos escritos por Capote: “Uma Casa de Flores”, “Um Violão de Diamante” e “Memória de Natal”, que possuem temáticas relacionadas e que são complementares à história do livro.

Se interessou? Adquira este livro aqui.



A última modificação foi feita em:outubro 21st, 2019 as 6:14 pm


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Comentários


Vi esse filme ontem, há tempos ele estava na minha lista de “preciso ver desesperadamente” e só na noite de ontem consegui entender o porquê de tantos comentários sobre o mesmo, a personalidade de Holly é realmente algo muito observável, tenta tanto viver num mundo imaginário, que quando a realidade lhe dá as caras, ela simplesmente foge, mesmo a realidade seja algo de que ela precisa, de amor. Eu ainda não li o livro, e sou louca pra o fazer, lendo a tua resenha, adorei o fato de um cara do prédio contar a história a partir da sua observação. A Atuação de Audrey Hepburn, em minha opinião, foi perfeita, não imagino outra pessoa pra o papel, e a capa do livro é super convidativa, do jeito que eu gosto, pena que é difícil achá-lo, ao menos por aqui.

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Nunca assisti ao filme, mas escuto falarem muito sobre ele. A sua resenha me deixou com vontade de conferir o livro, a história parece ser interessante. Quando eu terminar de ler “O Espião que Sabia Demais”, acho que lerei esse.

Abs.

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Conheci o filme através de você.E gostei muito.Vou colocar o livro na minha lista de prioridades(quando estou só vejo mais filmes mesmo).Bjs

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Eu preciso ler o livro quanto antes. Sou louco para ler a obra original de Capote. Louco mesmo!

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Minne, perfeita a sua interpretação sobre a Holly. É isso mesmo que você disse: ela foge da realidade dela e cria algo novo, não sei se para proteger a si mesma de algo. Leia o livro, que é muito bom e apresenta uma visão bem diferente da que o filme nos mostra. Eu adoro a atuação da Audrey Hepburn nesse filme e, se puder te recomendar algo, leia “Quinta Avenida, 5 da Manhã”, que fala sobre o processo de adaptação de “Bonequinha de Luxo” para o cinema. Tem resenha desse livro aqui no blog, se você quiser se familiarizar com o tema. “Bonequinha de Luxo” é, realmente, um livro bem difícil de ser encontrado. Eu mesma demorei muito tempo até encontrá-lo.

Clóvis, como assim, nunca assistiu ao filme?? Veja, sim, é muito bom!! Você é a segunda pessoa que eu conheço que está lendo atualmente “O Espião que Sabia Demais”. Abraços!

Paulo, eu gosto de equilibrar meu tempo assistindo filmes e lendo livros, mas nem sempre consigo isso… Beijos!

Raspante, o livro é difícil de ser encontrado, mas recomendo a leitura, especialmente pelo fato do material original ser bastante diferente do que acabamos assistindo no filme, que tem esse viés mais romântico, que falta ao livro.

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Eu infelizmente não conheço a obra literária, embora queira mesmo me aprofundar nos textos de Capote, que parecem ser bastante interessantes, não apenas pela leitura por entretenimento, mas para a leitura por estudo também.

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Já li o livro Kamila, mas não assisti o filme ainda!! Uma pena… Ainda quero comprá-lo em DVD!
Quanto ao livro, gostei demais quando li ele. Holly é mesmo encantadora e confesso que, como o protagonista, acabei me apaixonando por ela tbm! hahaha É uma obra bem gostosa de se ler!
E sou outro que quero ler O Espião que Sabia demais, depois que terminar a bio do Steve Jobs!
Bejos

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Tenho que colocar a leitura em dia. Tai um livro que sempre tive vontade de conferir, assim como outros de Capote.

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Eli, o filme é maravilhoso. Tão bom quanto o livro. Eu estou lendo “O Diário de Anne Frank” e “O Espião que Sabia Demais” ao mesmo tempo. A biografia do Steve Jobs está na fila! 🙂 Beijos!

Celo, esse, como eu disse, foi o primeiro livro do Capote que eu li.

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