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J. Edgar

publicado em:14/02/12 12:28 AM por: Kamila Azevedo Cinema

“J. Edgar”, filme dirigido por Clint Eastwood, é uma obra cheia de citações bastante fortes. Talvez, a mais importante delas seja dita bem no início do longa, quando J. Edgar Hoover (Leonardo di Caprio) olha para um de seus agentes (interpretado por Ed Westwick, do seriado “Gossip Girl”), que tem a atribuição de escrever os bastidores das ações promovidas pela instituição que Hoover dirigiu por 48 anos, e fala o seguinte: “a verdadeira história é aquela que ninguém vê”. De uma certa forma, o roteiro escrito por Dustin Lance Black, por mais que aborde certos aspectos bastante notórios sobre a sua personagem principal, tem o objetivo de nos apresentar também a um dos grandes segredos por trás do homem que foi, ao mesmo tempo, temido e admirado, amado e odiado, respeitado e desprezado.

A trajetória profissional de J. Edgar começou no Departamento de Justiça dos Estados Unidos, onde sua ascensão foi muito rápida, especialmente porque ele comandava investigações que tiveram uma importante repercussão na sociedade norte-americana. De lá, ele partiu para o cargo de assistente do Diretor do FBI (Federal Bureau of Investigation), onde também teve uma subida meteórica. Em 1924, já era o chefe de todo o departamento e foi assim que Hoover serviu a 8 presidentes norte-americanos e a 18 procuradores-gerais. Um homem visionário, Hoover mudou por completo a história do Bureau, dando a importância necessária a setores como perícia criminal, modernizando totalmente a forma pela qual a polícia norte-americana fazia suas investigações e transformando o FBI na maior instituição de investigação criminal do mundo.

Entretanto, o viés interessante do roteiro escrito por Dustin Lance Black vem na forma como ele decide mostrar o lado íntimo de um homem cujos métodos de investigação não seguiam qualquer tipo de escrúpulo e tinham como objetivo principal a coerção para que ele pudesse atingir aquilo que ele queria. Se, no lado profissional, J. Edgar Hoover era alguém que causava muito medo e intrigava aqueles que os rodeavam (e que eram, obviamente, também, alvo de suas investigações), na privacidade de seu lar, ele era um filho muito ligado à mãe (Judi Dench), que se importava muito com o que ela pensava sobre a vida dele e que manteve um segredo: o relacionamento – profissional e pessoal – com Clyde Tolson (Armie Hammer), que esteve lado a lado de Hoover até a data da morte deste, em 1972, durante o governo de Richard Nixon.

É, deveras, uma personagem muito forte e muito interessante. Entretanto, ao contrário do que ele conseguiu alcançar em “Milk – A Voz da Igualdade”, no qual Dustin Lance Black também falou sobre uma personalidade pública de muita importância com um pano de fundo da homossexualidade; em “J. Edgar” ele não consegue o mesmo efeito. Como a alternância de focos narrativos nessa história é muito forte, o filme acaba ficando muito bagunçado em certos momentos  – o que, provavelmente, foi um reflexo da interação de Clint Eastwood com os editores Joel Cox e Gary Roach, na sala de edição, uma vez que o longa tem muitos cortes bruscos e, já no seu ato final, quando dá a impressão de que a história está acabando, temos uma nova cena que dá continuidade a tudo que estava sendo visto antes.

Se o roteiro fosse o maior dos problemas de “J. Edgar”, estava tudo bem, mas não, o filme peca muito em elementos estéticos como, por exemplo, na maquiagem, que é muito fraca (fica difícil olhar para as aparências envelhecidas de Leonardo DiCaprio, Armie Hammer e Naomi Watts por boa parte do longa). Até mesmo o mestre Clint Eastwood comete seus equívocos, aproveitando muito mal uma atriz do porte de Naomi Watts, que aparece em pouquíssimas cenas – e todas com falas sem qualquer importância. Talvez, por essas razões, “J. Edgar” não tenha confirmado o potencial que tinha de ser um dos favoritos na atual temporada de premiações. Recebido com frieza pela crítica norte-americana, o longa tem passado bastante despercebido, até mesmo naqueles aspectos em que ele se destaca, como visto na excelente performance de Armie Hammer.

Cotação: 6,0

J. Edgar (J. Edgar, 2011)
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Dustin Lance Black
Elenco: Leonardo DiCaprio, Ed Westwick, Naomi Watts, Judi Dench, Jessica Hecht, Armie Hammer, Ken Howard, Jeffrey Donovan, Josh Lucas, Denis O’Hare



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Comentários


É uma pena que esse filme tenha errado em tantos aspectos, eu iria gostar muito de ver o DiCaprio e o Eastwood (profissionais que admiro muito) sendo lembrados na atual temporada de premiações. Deixarei esse pra DVD, pois, todo o meu dinheiro está sendo poupado para os filmes favoritos ao Oscar que chegam esse mês. Abraços!

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Clóvis, eu também adoraria que eles fossem lembrados nessa temporada de premiações, desde que esse filme merecesse – o que não é o caso… Abraços!

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Kamila,vc não gostou mesmo do filme.Não vi,mas sou fã de Eastwood.Quando eu ver(em breve) esse filme vou notar nos principais defeitos que vc citou e que fico pasmo de vir de um diretor enxuto como Clint.Maquiagem em excesso(vc não é a primeira a se quiexar disso Ka,tenho lido muitas criticas a respeito),falas que não tem contribuem para a estrutura narrativa(Clint é sem firulas,preserva a história) e mal aproveitamento de Naomi Watts(o mestre é ótimo diretor de atores).Kamila o que eu quero dizer é,vc não gostar do filme não é uma surpresa(a maioria das pessoas não gostou) os erros que vc apontou foi uma surpresa(pq é o tipo de falha que Clint não comete).No facebook falamos mais sobre “J.Edgar”.

Beijos!

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Paulo, eu também sou fã do Eastwood. Acho que, aqui, ele repete muitos dos erros cometidos em “A Troca”, que é um filme que vale somente pela atuação excelente de Angelina Jolie. Beijos!

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Eu ainda não conferi, mas mesmo com os comentários de que o filme é irregular (uma grande quantidade de pessoas) eu ainda estou confiante que deve ser um filme no minimo razoavel. Eu confiro em breve.

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Mais do que a maquiagem me incomodou os trejeitos de Leonardo DiCaprio velho, ficou caricato. Uma pena, o filme prometia ser muito melhor mesmo.

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Amanda, concordo demais com seu comentário sobre os trejeitos do Leonardo di Caprio.

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O melhor do filme pra mim é essa forma complexa e nunca reverenciada que Eastwood lança a esse personagem mítico, respeitando-o mas também acusando-o. Apesar das idas e vindas da narrativa, achei o desenvolvimento seguro, e o filme cresce cada vez mais na minha mente.

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Rafael, não achei o desenvolvimento da história seguro, justamente por causa das idas e vindas da narrativa.

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Camila, sinceramente vc entende pouco ou nada a respeito da 7a arte, o filme é uma obra de arte.Acho q vc deveria abrir um blog a respeito de outra coisa q vc realmente entenda.

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Ricardo, obrigada pelas considerações e críticas construtivas. Respeito à opinião alheia, especialmente se ela discorda da sua, me parece ser o seu forte.

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Kamila esse filme tem sérios problemas e o maior deles é a maquiagem.Eu esperava um roteiro mais elorarado do vencedor do Oscar Dustin Lance Black e isso não ocorreu,a maneira que a vida pessoal de J.Edgar é abordada soa superficil e reduntante.Exemplos:a relação com a mãe(Judi Dench),a relação com o amante(Armie Hammer) e a carreira profissional bem sucedida.A montagem atrapalha um pouco Kamila,e Leonardo Dicaprio está bem no papel mas é muito prejudicado pela maquiagem.Concordo com vc que Naomi Watts esta muito mal aproveitada,confesso que gosto em particular da penultima cena dela com Hoover,uma cena bem delicada que fica bem claro a relação dele com Clyde(Armie Hammer).Clint Eastwood ficou devendo dessa vez.No futuro veremos se o filme envelheceu bem.

Beijos!

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Paulo, a maquiagem desse filme é uma coisa séria. Também esperava um roteiro melhor elaborado, tendo em vista até mesmo a complexidade da personagem principal. No resto, concordo com você. Beijos!

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