(Roger Waters e Banda – “Hey You” – The Wall Tour – 01.04.2012)

O músico Roger Waters, mentor intelectual de álbuns clássicos de sua antiga banda, Pink Floyd, como “The Dark Side of the Moon”, esteve de passagem no Brasil na semana passada para apresentar o show da sua turnê mais recente, em que ele toca na íntegra o disco “The Wall”, recriando o conceito do show apresentado na turnê original, em 1980 e 1981, com todos os recursos que a tecnologia atual oferece. Assistimos ao show realizado no dia 01 de abril (não é mentira, viu? rsrs), no Estádio Cícero Pompeu de Toledo (o popular Morumbi).

O show apresentado por Roger Waters é um verdadeiro espetáculo. Em sua essência, “The Wall” é uma ópera rock sobre Pink, uma estrela do rock que faz uma auto-análise de sua própria vida e que, para se proteger, constrói um muro em torno de si mesmo. O muro, aliás, é uma bela metáfora para as barreiras que erguemos sobre nós mesmos e as nossas interações com os outros pelo puro medo de decepção, de sofrimento ou de encarar determinados fatos. É justamente isso que ocorre com Pink.

Apesar de mencionar, claramente, durante o show, que “The Wall” não foi inspirado nele mesmo; sim o disco é sobre Roger Waters, suas questões mal resolvidas com a morte do pai que ele nunca chegou a conhecer, com as pressões da fama, com o sistema e suas instituições, com seus relacionamentos amorosos mal sucedidos, com a dificuldade – e as tentações advindas – da vida na estrada, entre outras questões centrais que sempre acabam girando em torno de situações como isolamento pessoal, frustração e abandono.

Sempre que eu escuto algo do Pink Floyd, eu me vejo em um estado contemplativo, de reflexão, em que eu, de uma certa maneira, sou transportada para um lugar espiritual que está distante de mim mesma. Quando eu vejo os DVDs com os concertos da banda, eu sempre tenho a mesma sensação: a de que as pessoas estão também neste estado contemplativo, numa catarse musical e visual, totalmente inseridas naquele momento. O show da turnê “The Wall” suscita essas mesmas sensações.

O que se vê é uma plateia totalmente mesmerizada com o enorme muro que vai sendo erguido entre nós, Roger Waters e banda. O estado de atenção é tamanho que os filmes animados de Gerald Scarf, as gigantescas marionetes dos desenhos, bem como cenas do longa dirigido por Alan Parker e clipes produzidos especialmente pela turnê (o mais emocionante de todos é o que ilustra a sequência “Vera” e “Bring the Boys Back Home”) nos deixam totalmente enebriados. É um belo trabalho de produção, uma turnê muito bem elaborada, pois tudo é perfeitamente sincronizado, nada fica fora de seu lugar.

Eu tenho poucas certezas na minha vida, porém uma delas é a de que esse show do Roger Waters ficará marcado em minha memória como um dos melhores espetáculos que já presenciei. Foi uma noite inesquecível!