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Prometheus

publicado em:28/06/12 12:08 AM por: Kamila Azevedo Cinema

A trama de “Prometheus”, filme do diretor Ridley Scott, que foi escrita por Jon Spaihts e Damon Lindelof, parte de duas perguntas básicas e que podem representar, de uma certa maneira, as grandes questões do ser humano: “de onde viemos?” e “qual o propósito da nossa existência?”. No centro da narrativa, temos um grande empresário chamado Peter Weyland (Guy Pierce, escondido por trás de um excelente trabalho de maquiagem). Um homem visionário, que quer mudar o mundo e cujas ambições não podem ser medidas. Peter é a representação fiel daquele cenário em que a humanidade leva a tecnologia a um patamar além, uma vez que, na realidade na qual “Prometheus” se insere, o homem já pode criar indivíduos cibernéticos que, em alguns anos, não terão qualquer diferença se comparados aos seres humanos. Ou seja, chegamos a uma situação em que os homens se transformaram em deuses, em criaturas capazes de criar pessoas e universos.

A nave estelar que dá nome ao filme é o ambiente no qual encontraremos uma gama diversa de personagens todos reunidos em prol do objetivo de Peter Weyland, que, por sua vez, com base nos estudos feitos pelo Dr. Charlie Holloway (Logan Marshall-Green) e pela Dra. Elizabeth Shaw (Noomi Rapace), estão em busca daquilo que eles acreditam ser os criadores da raça humana. Logo, todos eles irão descobrir que não se pode explorar um mundo distante e tecnologicamente mais avançado que o nosso sem que sejamos deparados com um lado negro que é muito forte – e é aqui que “Prometheus” ganha em tensão e em sensações que causam ao público uma verdadeira agonia.

Um dos lados interessantes do roteiro escrito por Spaihts e Lindelof é que a dupla trabalha muito bem com uma dualidade que é comum de se ver nos filmes de ficção científica: a que confronta a ciência com a religião. Em muitos momentos do longa, os personagens são levados a encarar aquilo que eles escolhem acreditar e são sempre levados aos seus limites – e essas são situações em que as emoções são muito mais fortes do que a razão. O curioso nisso tudo é que, dessa discussão, o longa acaba se transformando numa grande peça de reflexão não sobre a origem dos seres humanos, e sim sobre a tentativa da descoberta do momento em que os seres humanos erraram e ultrapassaram justamente um limite para o que era aceitável e que acabou mudando todo o curso da história da humanidade na medida em que se voltou contra eles mesmos.

Outro ponto muito sutil da trama de “Prometheus” e que fala diretamente sobre personagens como David (Michael Fassbender), um robô que é um dos personagens mais intrigantes desse filme, e Meredith Vickers (Charlize Theron), a tripulante chefe da nave, é a relação que é feita entre os personagens mais ambiciosos desta trama e a figura de T.E. Lawrence, militar inglês cujas memórias deram origem ao filme “Lawrence da Arábia”, de David Lean. Tome-se como exemplo essa frase, que consta do livro “Os Sete Pilares da Sabedoria” e que fala muito sobre os homens de “Prometheus”: “todos os homens sonham, mas não da mesma forma. Os que sonham de noite, nos recessos poeirentos das suas mentes, acordam de manhã para verem que tudo, afinal, não passava de vaidade. Mas os que sonham acordados, esses são homens perigosos, pois realizam os seus sonhos de olhos abertos, tornando-os possíveis”.

O diretor inglês Ridley Scott é alguém que é muito familiarizado com o gênero de ficção científica. É dele duas das obras mais cultuadas desse gênero: “Blade Runner – O Caçador de Andróides” e “Alien – O Oitavo Passageiro”. Em “Prometheus”, Scott realiza um filme de qualidade técnica incontestável, com a melhor trilha sonora de 2012, até agora. De uma certa maneira, não sei se proposital, “Prometheus” dialoga muito com “Alien – O Oitavo Passageiro” e podemos ver traços de Ripley (a personagem que Sigourney Weaver defendeu tão bem nessa franquia) na Dra. Elizabeth Shaw, especialmente no foco e na força que a personagem demonstra. Se é verdade que grandes coisas têm começos pequenos, então “Prometheus” é a prova concreta de que, na maior parte das vezes, é o próprio homem que estraga tudo. E é justamente essa que deveria ser uma das maiores questões da humanidade.

Cotação: 7,0

Prometheus (Prometheus, 2012)
Direção: Ridley Scott
Roteiro: Jon Spaihts e Damon Lindelof
Elenco: Noomi Rapace, Michael Fassbender, Charlize Theron, Idris Elba, Logan Marshall-Green, Patrick Wilson



A última modificação foi feita em:julho 6th, 2012 as 11:02 pm


Jornalista e Publicitária


Comentários


Não estou tão curioso já que ainda não vi “Alien” (sendo que este é uma prequel, né? Algo assim…). Bem, como aqui na minha cidade só tem cópia dublada do filme, acho que vou esperar o DVD mesmo…

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Amanda, exatamente. Estes questionamentos foram os elementos que mais me chamaram a atenção no filme. E o homem sempre estraga as coisas…

Raspante, eu assisti “Alien” e, por mais que digam que este filme seja uma prequel deste outro longa, discordo por completo. A história é independente e, apesar de ter algumas similaridades, tem caráter próprio.

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Sua critica ficou muito boa.E concordo contigo,o homem estraga tudo.Eu veria esse filme no final de semana passado,mas não deu e fui pra sessão de MIB3.Devo assistir “Prometheus” ou amanhã ou sabado e estou com mts expectativas.Se eu assistir esse fds eu volto nesse post.

Beijos!

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Quero assistir esse filme, embora alguns amigos sensatos que o viram não tenham sido conquistados pela obra…

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Paulo, obrigada! Quando assistir ao filme, espero que volte aqui pra gente discutir o filme.

Otavio, uma cena, sem dúvida, MUITO forte. Beijos!

Luís, sim, “Prometheus” dividiu opiniões e isso, pra mim, sempre atua a favor em relação ao filme.

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É um bom filme, mas sinceramente, esperava algo mais. Tive uma sensação de deja-vu meio desagradavel, mas no geral, curti o filme.

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Também percebi várias referencias a Alien, como o fato do robo ficar sem a cabeça… além da mulher que realmente tem ares de Ripley.

Acho que faltou aprofundar as reflexões… mas gostei bastante.

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Saí bastante desapontado com esse filme. “Prometheus” parecia ser um excelente filme de ficção científica, mas a direção do Scott é problemática. Ele transita entre o suspense e o sic-fi de uma maneira brusca, apostando em sustos baratos e não se decide sobre o que é que o filme está falando.
Na primeira metade ele lança perguntas sobre a fé, o confronto ciência versus religião (como vc bem citou), mas faz isso de uma maneira enfadonha e lenta. Na segunda metade, ele vira um filme corrido, cheio de ação e o final é clichê que dói. Os personagens são subaproveitados e apesar do elenco talentoso somente a Rapace e o Fassbender tem oportunidade de brilhar. É, “Prometheus” ficou prometendo msm….

Nota: 6,0

Abraços!

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Saí bastante desapontado com esse filme. “Prometheus” parecia ser um excelente filme de ficção científica, mas a direção do Scott é problemática. Ele transita entre o suspense e o sci-fi de uma maneira brusca, apostando em sustos baratos e não se decide sobre o que é que o filme está falando.
Na primeira metade ele lança perguntas sobre a fé, o confronto ciência versus religião (como vc bem citou), mas faz isso de uma maneira enfadonha e lenta. Na segunda metade, ele vira um filme corrido, cheio de ação e o final é clichê que dói. Os personagens são subaproveitados e apesar do elenco talentoso somente a Rapace e o Fassbender tem oportunidade de brilhar. É, “Prometheus” ficou prometendo msm….

Nota: 6,0

Abraços!

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Celo, eu também esperava mais desse filme e fiquei com essa sensação de deja-vu.

Bruno, também acho que ficou faltando trabalhar melhor as reflexões que o roteiro faz. A sensação que eu tive foi a de que o filme termina e a gente continua sem respostas.

Clóvis, eu não saí decepcionada, mas acho que o filme prometia mais do que entregou. Como eu disse, a sensação que eu tive é a de que o longa termina e a gente continua sem respostas. Abraços!

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O filme tem um roteiro que poderia ser infinitamente melhor (a história demora pra dizer ao que veio, insiste em vilanizar a Charlize Theron e vários momentos parecem muito dispersos), mas me impressionei completamente com o visual e com as cenas em que o Ridley Scott quer mexer com a angústia do espectador. Enfim, aprovei a experiência =)

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Matheus, concordo que o roteiro de “Prometheus” poderia ser infinitamente melhor, porque, por exemplo, as respostas nunca nos são oferecidas e os personagens, com a exceção do interpretado por Michael Fassbender, são mal construídos. O visual acaba sendo o grande destaque do filme. No geral, também aprovei a experiência, mas com essas ressalvas.

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Eu gosto da atmosfera geral de ficção científica (ainda que a direção do Scott já tenha sido muito melhor antes), mas como roteiro me parece um filme que quer parecer complexo, mas no fundo é bem simples, e às vezes bem simplista. Meu problema com o roteiro não está nas perguntas sem respostas (a dúvida é uma ótima qualidade num filme como esse), mas sim certos artifícios da história.

Por exemplo, por que cargas d’água a Dra. Shaw chegou à conclusão de que aqueles Engenheiros foram os criadore da raça humana? Só por que ela quis acreditar que sim? Acho ainda que as intenções de vários personagens são mal explicadas. Por que David coloca a substância na bebida do namorado da Dra. Shaw (se bem que David me parece uma incógnita ainda a se desvendar). Por que Vickers está naquela jornada se Weyland não vai com a cara dela, se ela não acredita em nada daquilo? Por que Weyland já não deserdou ela, afinal de contas? Por que o comandante da nave interpretado pelo Idris Elba faz questão de não ajudar os tripulantes que ficaram presos do lado de fora da nave? Enfim, gosto do filme, mas ainda acho que essas intriguinhas estão mais a serviço de um roteiro frouxo do que algo realmente consistente e bem amarrado.

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Rafael, eu não sou a maior fã do gênero de ficção científica. De uma certa maneira, concordo que “Prometheus” quer parecer mais complexo do que é. O roteiro é muito fraco, a parte técnica que se sobressai. Suas perguntas são a prova disso. Eu, por exemplo, achei a personagem da Charlize Theron totalmente sem função na trama.

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