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Histórias Cruzadas

publicado em:6/07/12 11:20 PM por: Kamila Azevedo DVD

“Histórias Cruzadas”, filme escrito e dirigido por Tate Taylor, fala muito sobre descobertas. Ao longo dos 137 minutos de duração deste longa, a plateia se deparará com personagens que irão descobrir uma coragem e força que não sabiam que existiam dentro delas – e isso será o fator mais importante para que se possa ser visualizado um princípio de mudança que a conjuntura na qual essa obra se passa exige que ocorra, urgentemente. A verdade é que o livro que Skeeter Phelan (Emma Stone) escreve, por meio de seu contato com as mulheres negras que trabalham como empregadas domésticas na cidade de Jackson, que fica localizada no interior do Mississipi, só foi possível, em primeiro lugar, porque no início dos anos 60 (momento no qual a trama do filme se passa) o movimento dos direitos civis estava germinando nos Estados Unidos, com a ascensão de líderes como Medgar Evers e Martin Luther King.

O Estado do Mississipi, na realidade, é um personagem tão importante para “Histórias Cruzadas” quanto as pessoas que vemos em tela, pois lá a segregação racial foi uma das mais fortes vistas nos Estados Unidos. Na realidade na qual o filme se passa, os negros possuem ônibus, bairros, restaurantes e até mesmo banheiros para uso exclusivo deles. Em uma cidade pequena, de mentalidade restrita como a de Jackson, tal situação é ainda mais complicada e a tolerância em ambos os lados dessa história está por um fio. Se pessoas como Hilly Holbrook (Bryce Dallas Howard, numa atuação estupenda) representam o pior tipo de pensamento mesquinho e preconceituoso que alguém pode possuir; gente como Skeeter Phelan está aí para tentar ampliar a mentalidade daqueles que são fracos demais para pensar por si mesmos.

Por isso mesmo a importância da personagem interpretada por Emma Stone para a trama de “Histórias Cruzadas”, porque, a partir da colocação incisiva dela sobre algo que a incomoda profundamente, é que temos a grande revelação da trama: as histórias que nos são compartilhadas pelas empregadas domésticas que sofrem, diariamente, com essas pequenas limitações e humilhações que lhes são impostas pelas suas patroas ou pela sociedade em geral. Neste sentido, o filme de Tate Taylor tira muito de sua força das performances de Viola Davis (Aibileen Clark) e da vencedora do Oscar 2012 de Melhor Atriz Coadjuvante Octavia Spencer (Minny Jackson). São estas duas senhoras calejadas e que carregam em suas fisionomias os pesos de uma vivência de constante medo que falam as grandes verdades e que agem da forma que tipos como Hilly Holbrook precisam e merecem encarar.

“Histórias Cruzadas” é um filme muito duro de se assistir. Em muitos momentos, você vai se sentir indignado (a) com certas atitudes e com certas afirmações que são ditas. Entretanto, longas como esse são necessários para nos lembrar de um dos problemas mais sérios de nossa sociedade: o racismo. Para os negros norte-americanos, uma trama como essa os recorda de tempos em que muitas mulheres e homens se sacrificaram para que a geração futura tivesse uma oportunidade para se sobressair e crescer. Para os brancos norte-americanos, fica a memória de um tempo vergonhoso em que conceitos como segregação e intolerância davam a tônica da convivência entre grupos étnicos diferentes. Para nós, que estamos tão distantes (ou não, já que o racismo é um problema velado) de uma realidade como essa, “Histórias Cruzadas” também tem uma importância sem igual, pois, ao falar sobre algo tão sério de uma forma leve e, por certas vezes, extremamente emotiva, te instiga a encarar um tipo de pensamento que incomoda e que faz com que você seja obrigado a se posicionar sobre o tema – e essas são qualidades raras no cinema atual, ainda mais o norte-americano.

Histórias Cruzadas (The Help, 2011)
Direção: Tate Taylor
Roteiro: Tate Taylor (com base no livro de Kathryn Stockett)
Elenco:  Emma Stone, Viola Davis, Bryce Dallas Howard, Octavia Spencer, Jessica Chastain, Ahna O’Reilly, Allison Janney, Chris Lowell, Cicely Tyson, Mike Vogel, Sissy Spacek, Aunjanue Ellis, Mary Steenburgen



A última modificação foi feita em:julho 15th, 2012 as 11:40 pm


Jornalista e Publicitária


Comentários


Muita gente achou esse filme superestimado e água com açúcar demais, mas eu achei extremamente comovente,forte e engraçado quando precisava ser, achei tudo muito bem dosado. A cena final da Viola é sublime!

Acho que faltou mais atenção à ótima performance da Bryce Dallas Howard, arrisco dizer que foi até melhor que a da Jessica Chastain.

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Pedro, eu concordo com seu comentário! Em tudo! Especialmente no que diz respeito à última cena da Viola Davis e ao trabalho da Bryce Dallas Howard, a melhor coadjuvante do filme e uma das atuações mais subestimadas do ano.

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Pra mim, Histórias Cruzadas é um filme desonesto, maniqueísta, cuja função é reforçar esteriótipos – porque a história de racismo todos nós conhecemos. É impressionante também como o roteiro é concedente com as ações impensadas das empregadas domésticas – é a velha ideia de combater racismo com… racismo! É muito mais uma história de vingança do que edificante ou qualquer coisa do gênero. Além disso, o filme reduz o drama vivido pelos negros nos anos 60 à mera divisão de banheiros (que, diante de mortes horríveis, empalidece – embora permaneça grave). Na verdade, desde o seu conceito Histórias Cruzadas é equivocado: ora, qual o sentido de colocar uma protagonista branca em um filme cujo tema é racismo contra os negros? Isso só faz o filme perder tempo com um romance tolo da personagem de Emma Stone, por exemplo. Das atuações, a única que me agrada de verdade é a de Viola Davis, um verdadeiro ser-humano. O resto (Bryce Dallas Howard, a ganhadora do Oscar de atriz coadjuvante, Jessica Linda) são todas caricaturas estereotipadas. Enfim, respeito sua opinião, mas acho o filme todo errôneo.

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E eu acho que você tá querendo bancar o esperto aqui… dizer que o filme reduz o drama vivido pelos negros à questão dos banheiros, é um atestado de não entendimento da proposta do mesmo. É uma opção narrativa, não pesar a mão na questão… o filme não é um drama pesado. É uma comédia dramática. É uma opção narrativa do diretor, abordar o tema de maneira mais branda. Por favor gente, entendam a proposta de um diretor e seu filme, antes de ficar fazendo ataques vazios aos mesmos.

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Eu gostei muito de “Histórias Cruzadas”. Além de ter os seus momentos inegavelmente comoventes, é um tipo de produção que anda rara no cinema americano: aquela em que fortalece a determinação de mulheres através de um núcleo quase totalmente feminino – o último longa dessa linha foi “A Vida Secreta das Abelhas”, que até chega a ser parecido com “Histórias Cruzadas” em alguns aspectos. Sem dizer que o tema racismo foi trabalhado de maneira adequada. Trata-se de uma produção Disney e fica claro que o objetivo aqui não é encarar a história com a dureza com a qual costumamos testemunhar em nossa sociedade. Porém, sinto que há coisas que não tornam o filme melhor é mais forte do que ele é. Além de não gostar nem um pouco da maneira como Bryce Dallas Howard construiu sua personagem (ao contrário de você, acho que ela está extremamente afetada), sinto que há passagens que jamais ganham uma resolução adequada (como a agressão que Minny supostamente era vítima do próprio marido) ou são imaginadas de forma a acrescentar relevância ao filme, como a vida amorosa da protagonista.

No mais, destaque para o maravilhoso trabalho musical do filme. Até hoje estou inconformado com a bela música-tema e a composição de Thomas Newman (em seu melhor trabalho há muito tempo) não terem recebido indicações ao Oscar.

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Acho que o filme traz boas histórias, contadas de uma forma bem feita, mas que caem em ranços, clichês e estereótipos que as tornam menos reais e próximas. Preconceito não apenas existiu como ainda existe, é verdade, mas ninguém é completamente bom, nem completamente mau como o filme quer nos convencer. Agora, concordo que ele nos faz pensar e rever nossos próprios valores.

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Júlio, eu também respeito a sua opinião, apesar de discordar dela, pois a sua discordância está muito bem fundamentada. Concordo que existem alguns estereótipos nesse filme, mas acho que eles não chegam a prejudicar “Histórias Cruzadas”. Acredito que a presença de uma personagem branca entre as negras vem pra justificar que ela era a voz que as empregadas precisavam para serem ouvidas, já que elas não tinham direito a se manifestar. E a melhor atuação do filme, pra mim, ao lado de Viola Davis, é a da Bryce Dallas Howard.

Alex, bem notado. A trilha do Thomas Newman merecia ter sido mais valorizada, porque é muito bonita. Concordo com boa parte do seu comentário. Entendo você dizendo que a Bryce Dallas Howard está afetada, mas acho que a Hilly pedia essa afetação e exagero. E não notei essas histórias mal solucionadas, até porque essa questão da agressão que a Minny sofria era algo secundário na trama.

Amanda, eu discordo do que vocês chamam de estereótipos e, se eles existem em “Histórias Cruzadas”, não prejudicam o filme – pelo menos, não para mim. Concordo com a segunda parte do seu comentário, especialmente sobre a parte de ninguém ser completamente bom ou mau como este filme quer nos fazer crer.

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Não existe meios tons em “Histórias Cruzadas” é o bem contra o mal.Tate Taylor não tem bagagem para se aprofundar no tema racismo e evita questionar as atitudes das empregadas com medo de entrar em polêmica.As patroas são mesquinhas,ruins ou estereotipada como Sissy Specek(ficando louca e rindo de tudo) ou Jessica Chastain que tem uma amizade com uma empregada mas é burrinha.Tudo bem que a personagem de Chastain não havia sido contaminada pelas outras,mas “bonitinha burra” é algo ultrapassado e o sr.Tate Taylor só reforça isso.Não gosto do comportamento da personagem de Octavia Spencer que é preguiçosa,só sabe comer frango frito(segundo ela é um momento de prazer),mas em compensação não pensa duas vezes em vingar a patroa oferecendo fezes!? para ela.Se eu quiser assistir um filme que não tenha medo de debater o tema eu assisto “A Outra História Americana”.

Beijos!

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Flavio, obrigada! Eu também gostei muito desse filme e do desempenho da Viola Davis.

Paulo, concordo que não existe meio tom neste filme. É o bem contra o mal. Sinceramente, acho que as atitudes das empregadas não são questionadas, pois elas são retratadas como uma forma de reação à intolerância que elas mesmas sofrem de suas patroas. Mesmo assim, não acho que o filme passe a mão na cabeça de ninguém em relação às atitudes tomadas. Sim, os personagens podem ser estereotipados, mas, numa história em que a função das personagens é muito bem definida, isso, pra mim, é permitido. Beijos!

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Oi Kamila,
concordo quando você fala que “muito duro de se assistir. Em muitos momentos, você vai se sentir indignado (a) com certas atitudes e com certas afirmações que são ditas” e concordo ainda mais quando você fala: ““Histórias Cruzadas” também tem uma importância sem igual, pois, ao falar sobre algo tão sério de uma forma leve”

Pois para mim este é o trunfo do filme junto com todo seu elenco feminino, pois o diretor soube tocar num assunto polêmico e não deixou de perder a leveza, usou e abusou do amarelo na fotografia. o que ajuda tirar um pouco do peso dos ombros de tanta crueldade que vemos na tela, mesmo com todo sofrimento e drama, o filme mantém um ar puro e belo.

Além de Viola Davis, Octavia Spencer e Jessica Chastain, eu me surpreendi positivamente com a atuação de Bryce Dallas Howard, e olha que eu não sou fã do trabalho dela, mas a atriz até merecia ter sido lembrada ao Oscar, mas seria problemático para o Oscar ter 3 atrizes do mesmo filme concorrendo como Coadjuvantes.

Abraços,
André

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André, eu também acho que é um trunfo de “Histórias Cruzadas” o fato do filme falar sobre um tema difícil de uma forma um tanto leve. Eu também me surpreendi positivamente com a atuação da Bryce Dallas Howard. Tanto que a considero a melhor atuação coadjuvante do elenco, se destacando de forma igual com a Viola Davis. Ela que deveria ter recebido uma indicação ao Oscar de Atriz Coadjuvante no lugar da Octavia Spencer. Pra mim, a Jessica Chastain deveria ter sido indicada por “A Árvore da Vida”. Se ela tivesse sido indicada por esse filme, na minha opinião, ela teria ganho a estatueta. Abraços!

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Entendo quem gosta do filme, mas não vejo nada de extraordinário nele. Inclusive, acho que tem bom humor demais nele para pouco drama. Só a Viola Davis (maravilhosa, como sempre) não me causou indiferença.

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Eu também gostei bastante do filme, da Bryce (que mulher linda!) e da Jéssica (que mulher linda 2). Acho o tema bastante propício ao momento também. Minhas ressalvas são em relação à Octavia (achei um pouco caricatura), mas não afeta minha opinião positiva sobre o longa.

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Gostei muito do filme. Longe de ser um filme racista, Histórias Cruzados é um belo retrato da vida das empregadas domésticas antigamente. Adorei o filme!
Ótima crítica!
Visite também:
mateus-leite.blogspot.com

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Gostei do filme, especialmente das atuações de Jessica Chastain e Bryce Dallas. Ótimas atrizes.

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Luís, pois é. Eu posso dizer o mesmo que você. Mesmo com as caricaturas, a minha opinião positiva sobre “Histórias Cruzadas” não foi afetada.

Mateus, exatamente. Concordo com o comentário! Obrigada!

João Linno, para mim, a melhor atuação do filme foi da Bryce Dallas Howard, ao lado de Viola Davis.

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Oi Kamila, tudo bem? Lembro que na época a gente até discutiu sobre a atuação da Viola Davis e eu disse a você que ela merecia mais que a Meryl, mas você não tinha visto o filme, lembra? e agora o que você pensa a respeito?

Adorei seu texto, realmente Bryce Dallas Howard está fantástica, muitos acharam ela forçada assim como a Octavia Spencer. Eu não achei, Aliais achei esse elenco sensacional. Parece que foi escolhido a dedo.
Seria chato 3 atrizes competindo pelo mesmo filme na categoria de melhor atriz coadjuvante? Eu achei que a Bryce merecia ser lembrada.

Realmente tudo no filme fez com que o filme ficasse leve mesmo falando de um tema tão serio, fotografia ajudou muito, adorei. Aliais sou suspeito pra falar desse filme, gostei demais dele rs. Bjos Ká (mudando de assunto, você viu que a Mari foi cortada da seleção? tô muito triste =/ )

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Eu adoro o filme, Kamila. Acho que muita gente foi injusta com ele. Muitos estão confundindo emoção à flor da pele com pieguice, apelação. Outros tempos. Infelizmente. E Viola é extraordinária!

Belo texto! Bjs!

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Rafael, oi! Tudo bem, obrigada. E você? Sim, na época do lançamento deste filme, acabamos discutindo bastante sobre a atuação da Viola Davis e o confronto dela com a Meryl. Após assistir a este filme, eu continuo com a mesma opinião: a Meryl deveria ter vencido o Oscar 2012 de Melhor Atriz, ainda mais porque a personagem que a Viola interpreta, em “Histórias Cruzadas”, é coadjuvante. A Emma Stone que é a atriz principal do filme, na minha opinião. Obrigada novamente pelo elogio ao texto. Não acho que a Bryce Dallas Howard tenha forçado o tom da composição de sua personagem. Pelo contrário, acho que ela tem o papel mais difícil desse filme e o interpreta sem cair na caricatura – e olha que isso seria fácil de acontecer. Não seria chato que três atrizes do mesmo filme competissem na mesma categoria, mas isso é muito difícil de ocorrer, ainda mais no Oscar. Alguém tinha que sobrar e, infelizmente, foi a Bryce, a atriz que mais merecia indicação do elenco junto da Viola Davis.

PS: Não sabia que a Mari tinha sido cortada da seleção! Que babado forte foi esse????

Otavio, eu também adoro esse filme e concordo que muita gente foi injusta ao avaliar a obra. É bem isso que você disse em relação ao longa. As pessoas confundiram a emoção com apelação e, principalmente, caricatura. Uma pena! Não só a Viola é extraordinária, como também a Bryce Dallas Howard, uma atriz extremamente subestimada e que já deveria ter, no mínimo, duas indicações ao Oscar no currículo (por “A Vila” e por este “Histórias Cruzadas”). Beijos e obrigada!!

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Oi Ka, acredita que também ainda não assisti Shame? Também, demoraram tanto pra disponibilizá-lo pra download que baixei semana retrasada mas ando sem tempo… voltei só pra compartilhar com você que a Bryce realmente deveria ter sido indicada pelo Shyamalano “A Vila”, uma pena que depois do filme sumiu e só voltou com tudo agora.

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