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O Espetacular Homem-Aranha

publicado em:17/07/12 1:44 AM por: Kamila Azevedo Cinema


Às vezes, a impressão que se dá é que a maioria das pessoas não entende o significado da palavra reinício. Isso não significa retomar algo do zero, e sim começar algo novamente, recriar, refazer ou, melhor ainda, aperfeiçoar algo que já foi construído anteriormente. Quero crer que foi justamente essa a intenção da Sony Pictures ao fazer um reboot da franquia do “Homem-Aranha”, após a trilogia idealizada por Sam Raimi, com um diretor e atores completamente novos. Se isso deu muito certo em outras franquias baseadas em histórias em quadrinhos, como “Batman” (cuja visão de Christopher Nolan levou os filmes desse gênero a um passo além), ao assistirmos ao longa dirigido por Marc Webb (de “500 Dias Com Ela”), percebemos que a decisão da Sony foi muito mais do que acertada.

A verdade é que personagens baseados no universo das histórias em quadrinhos permitem essa retomada, pois esse suporte narrativo original também oferece essa multiplicidade de abordagens e de histórias. Neste sentido, o roteiro escrito por James Vanderbilt, Alvin Sargent e Steve Kloves foi muito feliz no sentido de estabelecer que o eixo principal de “O Espetacular Homem-Aranha” seria a busca de Peter Parker (Andrew Garfield) para a resposta a uma simples pergunta: “quem sou eu?” – e, dentro dela, é importante notar que existe uma segunda afirmação subentendida: a de que Peter Parker nunca poderá prometer aquilo que ele não deve cumprir. Esse questionamento – e aquela constatação – rondam todas as ações e reações que fazem parte da trama deste filme e, provavelmente, será a tônica dessa nova série como um todo.

De uma simples pergunta como essa, temos o desenvolvimento da trama de um longa que nos quer mostrar que boa parte do caminho que uma pessoa irá seguir é determinado justamente pelas suas origens, por saber de onde a pessoa veio e quais são os seus valores. Desta forma, a história pessoal de Peter Parker está muito bem delineada em tela. Ele é uma criança/adolescente com um histórico forte de rejeição (dos pais, que o abandonaram ainda criança; e dos colegas de colégio, que o tratam como um pária), que encontra um ambiente muito amoroso em casa (cortesia dos tios Ben e May, interpretados por Martin Sheen e Sally Field), mas, de uma maneira curiosa, percorre um caminho que o coloca sempre às margens, como se ele não conseguisse fazer a diferença na realidade na qual está inserido.

A partir do instante em que é picado pela aranha modificada geneticamente, não só toda a vida de Peter Parker muda, como também a própria forma dele mesmo se afirmar perante o mundo. Ele passa a ter coragem de enfrentar quem o tratava mal, a correr atrás daquela que é o seu primeiro amor – Gwen Stacy (Emma Stone) – e a tentar, em suma, encontrar o seu lado bom dentro de todo o mal com o qual ele é constantemente confrontado. Aqui, vale a pena fazer um apêndice, pois o que ocorre de ruim com Peter (a morte do tio Ben e o surgimento do Lizard – grande vilão de “O Espetacular Homem-Aranha”) foi sempre uma consequência dos atos dele próprio, do fato de que ele querer escavar o passado e encontrar respostas, especialmente sobre as razões que levaram seus pais a abandoná-lo. Ou seja, ele está sempre correndo atrás de consertar os erros que ele mesmo cometeu e da dor que ele próprio causou, pois isso também leva ao aprendizado e ao alcance de algo próximo à plenitude, que é, provavelmente, o desejo maior de Peter.

Além do roteiro muito bem escrito, cumprindo com louvor o papel de uma primeira parte de uma série cinematográfica de fundamentar o eixo no qual ela irá se apoiar, “O Espetacular Homem-Aranha” encontra seu ponto alto na escalação da dupla de atores central. Andrew Garfield e Emma Stone conseguem transmitir muito bem os conflitos principais de seus personagens e, nas cenas em conjunto, como um potencial casal, a química entre eles, a faísca decorrente de olhares e de gestos está muito nítida (não à toa, ambos começaram um romance após as filmagens, que perdura até hoje). Mas, o mérito todo do sucesso deste filme me parece estar nas mãos de Marc Webb, que, em seu segundo filme como diretor, consegue equilibrar muito bem o lado racional de um filme de ação (com aquelas sequências grandiosas típicas) com o lado emocional que esta história pede. “O Espetacular Homem-Aranha” é um filme diferenciado, justamente por apostar no lado dramático, em detrimento da ação – ou por colocar a ação como uma consequência direta do drama do personagem principal. Isto está muito bem notado no lindo ato final do longa, que mostra que essa obra é, principalmente, sobre pessoas, com uma história muito humana, que emociona, que cativa e que ocasiona em nós uma identificação imediata.

O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spider-Man, 2012)
Direção: Marc Webb
Roteiro: James Vanderbilt, Alvin Sargent e Steve Kloves (com base na história de James Vanderbilt e nos quadrinhos de Stan Lee e Steve Ditko)
Elenco: Andrew Garfield, Emma Stone, Rhys Ifans, Denis Leary, Martin Sheen, Sally Field, Irrfan Khan, Campbell Scott, Embeth Davidtz, Max Charles, C. Thomas Howell



A última modificação foi feita em:julho 27th, 2012 as 11:11 pm


Jornalista e Publicitária


Comentários


Faltou a nota. Também gostei muito, acho aperfeiçoado, como vc disse. Alias, concordo com tudo q vc disse. Abs.

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Concordo com a questão do reinicio,mas com uma diferença:Marc Webb assumiu o posto deixado por Sam Raimi que realizou um ótimo trabalho(o primeiro ótimo e o segundo filme excelente,tenho uma teoria que se não existisse esse filme a Warner não lançaria “Cavaleiro das Trevas”).No caso do “Batma” Christopher Nolan assumiu o trabalho ou reiniciou pela visão de …Joel Schumacher(que com uma longa filmografia que teve dois belos trabalhos “Tigerland” e “O Fantasma da ópera”).O que quero dizer Kamila que essa pressão que Webb teve dos fãs do aracnídeo(no qual me incluo),faz sentido.Quer saber o que achei do filme?eis a minha visão:

“O filme não é ruim,honesto com os fãs do aracnídeo,mas fiquei com a sensação de “mais do mesmo”,mas nesse caso é de qualidade.A morte do tio Ben(Martin Sheen)tem muito clima e é bem filmada.As cenas de ação prefiro nem comparar,porque Sam Raimi é um mestre nisso.Prefiro a dupla do novo filme.Andrew Garfield é melhor “Homem Aranha” que Tobey Maguire.Enquanto o antigo héroi fazia cara de bobo o tempo todo o “Aracnídeo Saverin” é mais descolado e tem presença de cena(mas o roteiro é escrito para um Peter Parker sem timidez).Garfield tem talento e vai longe,assim como Emma Stone.O 3-D é bom(em especial na cena que uma criança esta presa pelo carro nas alturas,fiquei bem aflito).Saí do cinema com a sensação do filme de Marc Webb não apresentar nada de novo para a franquia(como Nolan fez em “Batman por exemplo).”

Beijos!

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Celo, as notas estão em cima da resenha crítica. Foram 4 “rolinhos”! Que bom que concordamos! Abraços!

Yuri, irei ler seu texto melhor para entender a sua discordância.

Paulo, eu adorei esse filme e entendo os pontos que você levanta. Não acho que Webb tenha tido muita pressão dos fãs, pois existia um entusiasmo em torno deste reboot. A dupla desse novo filme é muito melhor que Maguire e Dunst, sem dúvida alguma. Mas, vamos dar espaço para Webb apresentar algo de novo. Acho que ele tem potencial pra isso e essa história tem esse potencial também! Beijos!

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É um bom filme, ainda que não seja superior aos filmes do Raimi. O que irrita muito são os fãs que vivem enumerando falhas e mais falhas desse filme, enaltecendo até a enésima potência os filmes anteriores. Pareceu que esse Aranha ficou um tanto apressado, como se não desse tempo de gostarmos mais do personagem (por mais que os diálogos orquestrados pelo diretor Webb sejam geniais). Do jeito que ficou, resta torcer para que o novo capítulo seja melhor. Abraço, Kamila 🙂

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Se a intenção foi aperfeiçoar a franquia, eles conseguiram. O Peter Parker desse filme é mais próximo ao dos quadrinhos.

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Rafael, acho curioso dizerem que esse filme repete as tramas dos filmes de Raimi, porque não acho isso.

Jeniss, eu achei bem superior aos filmes de Raimi. Discordo um tanto da sua visão sobre este longa, especialmente em relação ao que você chama de ritmo apressado. Abraço!

João Linno, concordo!

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Estão lá estrelinhas!
Bem, eu discordo muito da sua avaliação Ka. “O espetacular homem-aranha” é um ótimo entretenimento sim, mas fica a dever como filme. É narrativamente esgarçado e muito frágil na eminente comparação com o filme original de Sam Raimi.
Embora concorde com sua avaliação dos protagonistas (acho Garfield muito mais lapidado para viver Parker do que Maguire) e Webb, não posso deixar de notar que o filme ostenta uma falsa profundidade. Não fosse Garfield e Webb, esse incômodo seria muito maior.
Isso para não mencionar algumas sobreposições narrativas que empobrecem esse reboot. Como a opção de “mudar” a personalidade de Peter Parker antes de ser picado pela aranha. Para cativar plateias atuais, esse movimento não era necessário.
bjs

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Reinaldo, você pode estar certo no que chama de falsa profundidade. Pode ser que seja isso mesmo, mas, se a gente não nota isso de verdade, é mérito do diretor e da dupla de atores. Eles souberam conduzir bem os personagens e a história. Beijos!

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Achei divertido, mas bem irregular. Algumas coisas no roteiro me parecem demasiadamente forçadas. Infelizmente o filme vai sempre ter que responder às expectativas da trilogia do Raimi. E na comparação, acho os 2 primeiros muito superiores a esse. É claro que é um bom filme, com destaque para as atuações. Mas fico com a sensação de que o filme podia muito mais.

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Posso concordar com muitas coisa no seu texto, mas acho que a trilogia de Sam Raimi (apesar do fiasco do terceiro) ainda estava muito viva na memória, e de forma, querida por muitos fãs, por isso essa acaba se tornando um pocou intrusa. Acho que os principais problemas aqui são a personalidade Parker antes da mordida e a exposição excessiva de sua identidade. Ele tira a máscara com a mesma facilidade que um cavalheiro tira um chapéu, isso me incomodou, assim como a cena pastelão de sua transformação no metrô. Ainda assim, é um filme bem feito e divertido. A parte inicial do drama do menino com os pais é interessante e dá embasamento ao personagem, mas algo no primeiro de Sam Raimi me empolgou mais. Vamos ver como continua…

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Victor, discordo sobre a obra ser irregular ou sobre algumas coisas no roteiro parecerem forçadas. Eu adorei esse reboot! E nem pensei em comparar com os filmes do Raimi. Acho que nem caberia a comparação, já que se trata de um reinício da franquia.

Amanda, sim, a trilogia do Sam Raimi ainda está bem viva na memória, mas acho que a gente acaba se envolvendo também com esta nova trama. A exposição excessiva da identidade do heroi, realmente, é uma questão a se pensar melhor, porque, normalmente, isso não é visto em outros filmes de herois. Eu estou bem ansiosa com o que virá pela frente.

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Achei maravilhosa sua review! Concordo em tudo que você disse, o casal é ótimo, o elenco é ótimo, as cenas de ação são cativantes e até mesmo a trilha sonora de James Horner que parece escondidinha no que você para e presta atenção melhor nela (no meu caso baixar a trilha e escuta-la toda) você vê que o filme todo está ali em cada nota. Ação, drama, romance, tá tudo bem explicadinho. Eu sempre fui fã do aranha, mas não curtia os filmes, o Maguire não tinha química com a mocinha, o herói parecia um idiota. Tudo mudou agora, e a nova franquia finalmente fará jus aos quadrinhos da Marvel. Stan Lee deve estar satisfeito. Parabéns Marc Webb, parabéns Andrew Garfield e Emma Stone!

e …Parabéns pelo site e pela critica! Quero ver me aguentar até 2014.

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Vivian, obrigada! Eu gostei das duas primeiras partes da trilogia do Sam Raimi, mas me apaixonei por essa nova versão. Tudo mudou mesmo agora. Obrigada mesmo pela visita e pelo comentário! Apareça mais vezes!

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Eu ainda não pude conferir, Ka, seu texto me deixou mais animado e acho que gostarei do filme. Sou um dos poucos que não aprecia os filmes do Raimi – inclusive, Tobey Maguire me irrita, rs. Acredito mais neste aqui, verei esse fim de semana! Beijos

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Concordo com todos os pontos da sua crítica, Kamila! Me apaixonei por esse filme!

Nota: 9,0

Abraços!

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Cristiano, eu adorei esse filme. Adorei mesmo! Espero que tenha gostado do filme, quando o assistiu. Beijos!

Clóvis, obrigada. Eu também me apaixonei por esse filme. Abraços!

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