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À Beira do Caminho

publicado em:31/08/12 1:34 PM por: Kamila Azevedo Cinema


Mantenha Distância. Mais do que uma frase de para-choque de caminhão, esse poderia ser o lema de João (João Miguel), personagem principal do filme “À Beira do Caminho”, do diretor Breno Silveira. Taciturno, fechado, com um comportamento quase anti-social, João vive a vida nas estradas, fugindo do seu próprio sentimento de culpa em relação a uma tragédia pessoal ocorrida em seu passado. O roteiro escrito por Patrícia Andrade aborda justamente o momento em que o protagonista baixa a sua guarda e deixa alguém se aproximar dele.

Por meio do contato que se estabelece entre João e Duda (Vinícius Nascimento, que é uma verdadeira revelação), um garoto cuja mãe faleceu recentemente e que o motorista encontra escondido na caçamba do seu caminhão, temos o grande ponto de virada da trama de “À Beira do Caminho”. Duda pega uma carona clandestina no veículo de João, pois quer reencontrar o pai (Ângelo Antônio), que mora em São Paulo e abandonou a ele e a mãe quando ele nem era nascido ainda. Duda é uma criança cativante e, como todo ser infantil, tem um caráter genuíno e uma sinceridade que possibilitam a João passar por profundas transformações.

E é justamente essa a maior característica de um road movie: fazer com que a personagem principal termine aquela jornada realizando algo sobre si mesmo e enfrentando aquilo que ele se recusava a encarar. O momento de transformação de João é sublime e retratado, pelo diretor Breno Silveira, por meio de uma cena simples, porém emocionante, em que Duda canta a música “Amigo”, de Roberto Carlos, que vem a ser  o cantor favorito de João. As canções do Rei, por sinal, foram o motivo de inspiração para esse filme e são elas que puxam os flahsbacks que mostram o passado de João e o motivo de ele ter se tornado uma pessoa tão amarga e triste.

“À Beira do Caminho” é um filme que possui um tom realista que contribui – e muito – para o desenvolvimento da história. O diretor Breno Silveira, assim como em “Dois Filhos de Francisco”, entrega um longa que deve ser visto com a emoção e o coração. Participações inspiradas de Dira Paes e Denise Weinberg só engrandecem uma história que tem a importante qualidade de possuir uma mensagem universal. Apesar dos clichês do ato final, fica o registro de uma obra que consolida o nome de João Miguel como um dos grandes atores do nosso país. O trabalho dele, em “À Beira do Caminho”, é sensacional.

À Beira do Caminho (2012)
Direção: Breno Silveira
Roteiro: Patrícia Andrade
Elenco: Ângelo Antônio, João Miguel, Vinícius Nascimento, Dira Paes, Ludmila Rosa, Denise Weinberg



A última modificação foi feita em:setembro 11th, 2012 as 12:01 am


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Comentários


Novamente, meus cumprimentos, Kamila

Percebo que aqui é bem animado. Novos posts constantemente e muitos comentários (e, suas respostas aos comentários!). Congratulações!

Breno Silveira!
Hum…

Você disse tudo! Não há um ponto ser adicionado ao “i”.

Mas, preciso confessar uma coisa: Estou fragmentado.
Uma vez, ouvi uma frase singela que se tornou muito significativa para mim: “todo ponto de vista é a vista de algum ponto”. E, ao assisitir “À Beira do Caminho”, alguns desses pontos proporcionaram vistas gloriosas e vistas pouco gloriosas, como: terminar a sessão desejoso de que toda criança neste Brasilzão, pudesse ter um pai; também, poder perceber que ter um pai no Brasil é – de certa forma – um luxo; e, ainda, ver uma história bem brasileira sendo contada. Ou, notar que se trata de uma história banal, básica, simples, filmada e refilmada dezenas ou centenas de vezes no cinema: a amizade entre o teimoso, obstinado, relutante protagonista traumatizado que vai se abrindo paulatinamente para o coprotagonista – exatamente como você definiu no início do seu texto.

O que acha?

Eu não sei. Talvez, eu saia por aí me catando os fragmentos. Mas, encerro com o pensamento de Jean-Claude Carriere, um dos gênios do cinema, de que cinema não é feito para o futuro e nem para ser o passado ocupando museus, é para o agora! Você vê, sente, e vai embora, além do mais, como diz Polti, só existem umas 6 ou 7 situações dramáticas mesmo. O resto é a mais pura repetição repaginada.

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Pelo que escreveu, tenho bastante a impressão de tratar-se de um filme cujo mote é semelhante ao de “Central do Brasil” (1998), filme que adoro! Gosto dessas fitas que tem essas características, acho que eu vou bastante giostar quando eu o vir.

Kamila, passa lá no “E o Oscar foi para…”. Começamos a analisar uma nova cerimônia agora, o ano escolhido foi 2010:http://eooscarfoipara.blogspot.com.br/

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Amanda, o ato final é muito clichê, isso é verdade, mas acho que não atrapalha o resultado final do filme.

B.S. Lima, muito obrigada. Meus cumprimentos a você também! Acho que você foi perfeito na sua visão do filme. É bem isso mesmo e acho que a força maior de “À Beira do Caminho” é que, por mais que seja uma história genuinamente brasileira, é o tipo de relato que tem apelo em qualquer lugar do mundo, ou seja tem uma mensagem universal. Interessante a frase do Carriere. Vou até guardar comigo, essa. 🙂

Luís, sim, você está certo. Eu me lembrei muito de “Central do Brasil” assistindo a este filme, mas tentei fugir dessa comparação óbvia no texto.

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Ainda não tive oportunidade de assistir esse filme, mas sei que vou gostar. Adoro filmes emocionais e gostei bastante de 2 Filhos. Breno sabe trabalhar bem essas tématicas e com trilha de RC, adoro!

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Sem dúvida que João Miguel é um dos grandes atores nacionais, o cara é excelente… acho que o meu preferido com ele é Estômago.

Quero ver este! gostei bastante de 2 filhos de francisco, mas não sendo fã da dupla… o Breno Silveira realmente tem uma inegavel capacidade de trabalhar nossas emoções!

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Celo, eu também adoro filmes emocionais como esse. Fiquei muito feliz de ver mais uma ótima obra do nosso cinema.

Bruno, João Miguel é um grande ator mesmo do nosso cinema. Fica difícil, até, escolher a sua melhor atuação. Eu também adorei “2 Filhos de Francisco”, mesmo não sendo fã de música sertaneja. E achei esse filme sensacional também!

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Não assisti ao filme,mas as criticas tem sido positivas.Gosto muito de “2 Filhos de Francisco”(me lembro até hj da choradeira que arrumei no cinema rsrs).Breno Silveira sabe dirigir atores e tirou uma ótima atuação de Ângelo Antonio no filme citado e do jovem Thiago Martins em “Era Uma Vez”.Vou conferir.

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Paulo, sim, as críticas têm mesmo sido bem positivas. Gosto dos dois filmes dirigidos pelo Breno Silveira e adorei “À Beira do Caminho”. Espero que goste do filme, quando o conferir.

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Que bom ler um texto detalhando a questão emotiva do filme, poucos blogs e críticos mostraram isso – pelo contrário, muitos falaram bem mal do filme, dizendo que era até “brega”. Quero conferir, admiro João MIguel, inclusive.

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Cristiano, acho que o filme pede para ser visto por esse lado emotivo, porque a história tem sentimentos à flor da pele e muito coração.

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