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Sete Dias com Marilyn

publicado em:18/09/12 12:04 AM por: Kamila Azevedo DVD


Se Rita Hayworth dizia que os homens dormiam com Gilda e acordavam com ela, em uma das cenas de “Sete Dias com Marilyn”, filme dirigido por Simon Curtis, Marilyn Monroe (Michelle Williams, numa performance indicada ao Oscar 2012 de Melhor Atriz) reclama que todos a quem ela ama acabam abandonando-a na medida em que a conhecem de verdade. Provavelmente, esse é o maior desafio de personalidades como Marilyn e Rita, que se transformam em grandes ícones: fazer com que as pessoas a s enxerguem pelo que elas realmente são, e não pela imagem que elas fazem delas. Neste sentido, como comprovam bem os 98 minutos de duração do longa, Marilyn, em muitos momentos, embarcava na personagem que ela mesma criou, ao ponto de nem ela mesma ver onde estava a Norma Jean que era a sua essência.

Baseado no livro escrito por Colin Clark, que, no longa, é interpretado pelo jovem ator inglês Eddie Redmayne, “Sete Dias com Marilyn” se passa em 1956 (vale ressaltar que a década de 50 foi o auge da carreira cinematográfica da atriz, com filmes como “Os Homens Preferem as Loiras”, “O Pecado Mora ao Lado”, “Nunca Fui Santa” e “Quanto Mais Quente Melhor”), durante as filmagens de “O Príncipe Encantado”,  filme dirigido pelo lendário diretor e ator inglês Laurence Olivier (Kenneth Branagh, indicado ao Oscar 2012 de Melhor Ator Coadjuvante), estrelando nada mais nada menos que Marilyn Monroe no papel que foi interpretado pela esposa de Olivier, Vivien Leigh (Julia Ormond), nos palcos.

No filme de Laurence Olivier, a personagem de Elsie foi bem adaptada ao estilo de Marilyn, com uma característica mais espevitada, aquela mistura de inocência/ingenuidade/sedução, aquelas frases de efeitos e, claro, momentos musicais que eram qualidades de Marilyn, como a ótima entertainer que ela era. O longa enfatiza muito bem o caráter genuíno de Marilyn Monroe, uma atriz que, sem treinamento algum, encontrava justamente na crueza de seu talento o seu ponto forte. “Sete Dias com Marilyn” ainda reforça a imagem geral que a maioria das pessoas possui de Marilyn, ao retratá-la como uma personalidade atormentada, necessitada de aprovação e de ser mimada para poder enfrentar o seu dia a dia.

Entretanto, apesar disso, o caráter que diferencia este “Sete Dias com Marilyn” é que ele oferece um olhar um tanto peculiar sobre um dos maiores ícones da história do cinema e que nos é revelado por meio do relacionamento que Marilyn Monroe estabeleceu com Colin Clark, que atuava como terceiro assistente do diretor na produção de “O Príncipe Encantado” – o seu primeiro emprego, diga-se de passagem. Um apaixonado por cinema, Colin, a princípio, via Marilyn com o mesmo olhar magnetizado que outros a dirigiam, mas, talvez, justamente por ser inexperiente diante da indústria cinematográfica, Colin foi conquistando a atriz pouco a pouco principalmente por tentar enxergá-la de uma forma única e por tratá-la de uma maneira inédita, especialmente se comparada aos outros homens de sua vida.

Dirigido com muito charme e encanto por Simon Curtis, conhecido pelo aclamado seriado “Cranford” (líder de indicações ao Primetime Emmy Awards 2012), “Sete Dias com Marilyn” é um daqueles filmes que nos lembram que as estrelas de cinema são gente como a gente, de carne e osso, com qualidades e defeitos. Especialmente alguém como Marilyn Monroe, que tinha que corresponder (é essa a verdade) ao imaginário popular em torno dela. Deve ter sido muito difícil para ela ser ela mesma, imagina as cobranças com as quais ela lidava diariamente. Talvez, por isso mesmo, se sobressaia, neste longa, a belíssima atuação de Michelle Williams como a personagem principal. Michelle tem em si o olhar angustiado que era uma marca de Marilyn, mas, aqui, pela primeira vez em muito tempo, é notável ver o quanto que ela se divertiu fazendo esta obra e o quanto que interpretar uma das figuras mais marcantes da história do cinema proporcionou a ela, como atriz, fazer coisas que ela ainda não tinha feito.

Sete Dias com Marilyn (My Week With Marilyn, 2011)
Direção: Simon Curtis
Roteiro: Adrian Hodges (com base no livro escrito por Colin Clark)
Elenco: Michelle Williams, Eddie Redmayne, Julia Ormond, Kenneth Branagh, Toby Jones, Dougray Scott, Dominic Cooper, Judi Dench, Emma Watson, Derek Jacobi, Zoe Wanamaker



A última modificação foi feita em:setembro 28th, 2012 as 9:04 pm


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Comentários


Kamila,a cada filme Michelle Williams confirma que é uma grande atriz.O trabalho dela em “Sete Dias com Marilyn” é digno de elogios,porque Michelle poderia facilmente ter imitado Marilyn e o que ela fez foi o oposto disso.Destaque para as atuações de Kenneth Branagh como Laurence Olivier(o monologo no espelho é soberbo) e elenco de apoio encabeçado por Judi Dench e com o jovem e promissor Eddie Redmayne(os olhos dele demonstra como ele fica embriagado pela beleza da divã).2011 foi uma temporada com ótimas atuações femininas(diferente dos anos de 2005 e 2008) e como fiz no post sobre o filme “O Homem Que Mudou o Jogo” que fechei minha lista de atores favoritos do Oscar,farei o mesmo agora. Antes de qualquer coisa deixo claro que essas 10 atuações são ótimas.Dignas de prêmios e menções.As interpretações femininas pelos meus olhos:

1-Meryl Streep-“A Dama de Ferro”: Meryl nunca se repete.Não é preguiçosa e estuda seus personagens de forma magistral.Eu não consigo encontrar defeitos nela.Ela simplesmente se transformou em Margaret Thatcher.O filme tem alguns defeitos,a direção de Phillyda Lloyd também mas Meryl carrega o filme nas costas.Talentosa,mãe,dedicada,generosa com os colegas de profissão(a declaração de Stanley Tucci é uma mostra disso-“com você consegui as melhores atuações da minha carreira”. Vou dizer ao meu filho que o pai dele teve o prazer de acompanhar a melhor atriz da história do cinema.Uma observação inútil:ela é do meu signo rsrs.

2-Tilda Swinton- ”Precisamos Falar sobre o Kevin”-Cinema de arte da melhor qualidade.Uma mãe que ama o filho.Um filho psicopata(recomendo o livro “Mentes Perigosas” da psicóloga Ana Beatriz Barbosa).Mas uma mãe ama um filho de forma incondicional.Mas a maneira que ele manipula as situações,mente,enganada,dissimula relações,coloca o pai contra a mãe e o ato final de uma violência descomunal.O olhar do filho quando entra no camburão da policial me dizia “Mãe,eu acabei com a sua vida”-Aquele sorriso exalando ironia.Ela é impedida de prosseguir.A cena que ela come um ovo com a casca é um feito cinematográfico.Olho em Lynne Ramsay.E Tilda Swinton de forma incompreensível foi esnobada pela academia.Mas eu não esqueci dela,e ela ocupa o segundo lugar da minha lista.

3-Viola Davis -“Histórias Cruzadas”:Não gosto desse filme e fui um dos críticos ferrenhos da maneira “medrosa” que Tate Taylor contou essa história.Estou pensando em rever.Acho necessário fazer uma nova avaliação.Viola Davis,Jessica Chastain e Octavia Spencer mereciam um filme que fizesse jus ao talento delas.Destaque para a esquecida Bryce Dallas Howard.

4-Glenn Close-“Albert Noobs”:esse filme tem um sério problema no roteiro.Mas a atuação de Glenn Close e Janet McTeer é digna de elogios e esse foi o projeto da carreira dela.Merecida nomeação.

5-Michelle Williams-“Sete Dias com Marilyn”: interpretar uma divã sem imitar é para poucos.Williams vem emendando ótimos trabalhos em sequencia(“Corações em Conflito” e “Blue Valentine” nos últimos dois anos).A terceira nomeação ao Oscar.Sam Raimi à espera em “O Mágico de Oz”.

6.Elizabeth Olsen-“Martha Marcy May Marlene”,7.Kirsten Dunst -“Melancolia”,8.Rooney Mara -“Millennium” ,9.Kristen Wiig-“Missão Madrinha de Casamento”,10.Carey Mulligan-“Shame”

Observou que não assisti “Deus da Carnificina” com Kate Winslet e Jodie Foster e “Jovens Adultos” com a sempre eficiente Charlize Theron.E considero Berenice Bejo protagonista e não coadjuvante em “O Artista”.Mas Harvey Weinstein foi esperto de inscrever ela como coadjuvante.Fiquei decepcionado com Anne Hathaway por “Um Dia”(a atuação se sustenta,o filme de Lone Scherfig não),Mia Wasikowska em “Jane Eyre” e Abbie Cornish em W.E(no post de “Brilho de Uma Paixão” comentei contigo que via semelhanças nela com Nicole Kidman.Até agora não se confirmou seu talento).Não citei nenhuma atuação estrangeira porque é raro a AMPAS nomear atuações de filmes estrangeiros(temos Marion Cottilard,Penelope Cruz,Catalina Sandino Moreno e Fernanda Montegro,mas são exceções e não regra).Destaque para Pilar López Ayala em “Medianeiras” e Leila Bekhti por “A Fonte das Mulheres”.Não vejo a hora de conferir o iraniano “Separação” e apreciar a elogiada atuação de Leila Hatami.

É isso aí amiga,falei bastante né rsrs…mas suas criticas me deixa em estado de ânimo e inspiração.Espero que aprecie minha lista e fique a vontade para discordar.

Beijos

Paulo Ricardo

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Legal Kamila, realmente são pessoas como a gente, com problemas e preocupações, mas o que vejo nessa época é a falta de glamour que temos hoje, talvez pelo fato de estarmos “monitorados” 24hs por dia. Acabou, talvez com Marylin, as super divas do cinema. Excetuando Monica Bellucci, evidentemente.

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Gostei desse, foi até uma surpresa… acho que o bacana é isso mesmo, essa “humanização” de uma grande estrela e claro, a atuação da Michelle Willians…

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Paulo, a Michelle é uma ótima atriz e, neste filme, ela está excelente. Concordo também com os seus comentários sobre o elenco de apoio. Em relação à sua lista de melhores atuações femininas do ano: não assisti Glenn Close, nem Elisabeth Olsen. Beijo!

Cassiano, realmente, antigamente, se tinha muito mais glamour, pompa e circunstância. Hoje em dia, as estrelas são muito pasteurizadas.

Bruno, eu também gostei desse filme, da forma como retratou Marilyn.

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Realmente é um bom filme, com ótimas performances e um potencial de resgate incrível. Uma homenagem a uma estrela com todos os atributos que essa palavra significa e Michelle Williams soube representá-la dignamente.

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Amanda, sim, um bom filme, com um ótimo elenco. Michelle Williams está ótima no papel principal, merecedora total da indicação ao Oscar.

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Apesar de ser um filme que gera mais dúvidas do que resposta, gosto de como a personagem é delineada, afirmando sua aura mágica. Willians em um grande momento.

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Celo, eu não concordo que esse filme gera mais dúvidas que respostas. Eu também gostei da forma como a personagem foi delineada e acho que a Michelle Williams esteve excelente aqui.

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Eu acho que Marcelo quis dizer que o filme coloca a questão de termos aqui uma Monroe mais frágil e, portanto, o filme deixe dúvidas se a atriz era realmente talentosa – o filme mostra um outro lado, uma espécie de “desconstrução do mito”, chega ser doloroso e vergonhoso em alguns momentos onde Michelle (excepcional!!!!) mostra Monroe tendo problemas nas gravações para decorar um mero texto pequeno e ser pressionada pelo personagem do Branagh. Chegamos a nos perguntar: será que ela tinha mesmo vocação pra coisa? Será que era talentosa ou foram pela “beleza”?

Gostei muito do filme, ao meu ver, Eddie Redmayne também merecia uma indicação ao oscar – seu olhar, falas, gestos e interpretação é tão cativante e forte como o exposto por Michelle.

Beijos

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Cristiano, mas, eu acho que essa fragilidade da Monroe era conhecida, do mesmo jeito que as dúvidas sobre o seu talento e a sua capacidade como atriz. Eu concordo com a sua visão de que o filme desconstroi muito o mito, mas, repito, acho que a gente já esperava que a Marilyn, na intimidade, tivesse esse problema de auto confiança e de auto estima. Eu também gostei do filme e concordo com a sua afirmação sobre o Eddie Redmayne. Beijos!

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