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Cena da Semana*

publicado em:30/09/12 5:10 PM por: Kamila Azevedo Cena da Semana

*Atenção aos spoilers

(A cena final de Não me Abandone Jamais [2010] – diretor: Mark Romanek)

No universo narrativo no qual se passa “Não me Abandone Jamais”, filme dirigido por Mark Romanek, as pessoas não sinalizam na sua carteira de identidade se elas desejam ou não serem doadores de órgãos. Pelo contrário, desde cedo elas são preparadas, em uma escola situada numa cidade do interior da Inglaterra, para serem doadores de órgãos “profissionais” ou cuidadores de pessoas com saúde frágil. Envoltas por mistério, até mesmo sobre a sua missão no mundo, estas crianças que, logo mais se tornarão adolescentes e adultos, são preparadas para uma vida em que não se pode planejar nada, pois não se sabe quando ela chegará ao fim – e ele pode vir breve.

É nessa conjuntura que somos apresentados aos três amigos Ruth (Keira Knightley), Tommy (Andrew Garfield) e Kathy (Carey Mulligan). Na medida em que vão se conhecendo, crescendo e descobrindo afinidades, temos, ao mesmo tempo, o desenho de um triângulo amoroso cuja grande história de amor ameaça não acontecer, justamente por causa do destino certo – alguns poderiam pensar, até mesmo, incerto – dos dois vértices em questão. Por causa desse viés narrativo e dos sentimentos de culpa, medo e reparação que eles evocam, “Não me Abandone Jamais”, em vários momentos, lembra muito “Desejo e Reparação”, especialmente porque assistimos a uma das personagens tentar reparar o caminho que ela mesma impediu, sem saber se é tarde demais para isso.

Baseado no livro de Kazuo Ishiguro, “Não me Abandone Jamais” é um filme que tem uma premissa deveras interessante, mas que esbarra num desenvolvimento muito falho do roteiro escrito por Alex Garland. Dominado por uma melancolia e sensibilidade da primeira à última cena, o longa encontra a sua força emocional na personagem interpretada por Carey Mulligan. “Não me Abandone Jamais” é um filme que, basicamente, fala de pessoas que, de forma concomitante, possuem um propósito e que tiveram os seus destinos e as suas inocências roubadas de si mesmas. No final, como Kathy mesmo realiza, ela e seus amigos não são muito diferentes das pessoas que eles tentam ajudar. “Nós todos concluímos. Talvez, nenhum de nós realmente entenda o que vivemos entre esse período, ou tenhamos sentido que tivemos tempo suficiente para isso”.



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Comentários


Eu gosto muito desse filme e acho essa cena final poderosíssima! Não percebo essa “falha” no desenvolvimento do roteiro. Penso que a opção por focar nos sentimentos dos personagens faz parte da proposta de debater a ética científica por um angulo distinto do corrente na ficção científica. A sensibilidade e a melancolia são, portanto, ferramentas poderosas a serviço da reflexão proposta por “Não me abandone jamais”.
Bjs

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Gostei muito desse filme e considero uma “ficção cientifica romântica”.Lembro que gostei muito da trilha sonora(não me recordo o nome do compositor) e gosto do que você diz no último parágrafo 🙂

Beijos e boa semana!

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Reinaldo, comentário interessante, o seu. Joga uma interpretação diferente da que eu tive sobre o filme. Beijos!

Celo, é um filme emocionante, mas eu não diria que é um dos melhores dos últimos anos.

Paulo, eu também gostei do filme. Acho esse rótulo de “ficção científica romântica” bem interessante. Beijos e boa semana pra você também!

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Kamila, eu ainda não consigo gostar totalmente da Keira Knightley. Pensar nela como vencedora do próximo Oscar, por exemplo, já me provoca certos arrepios rs. Brincadeira, mas acho que ela tem uma trajetória imensa para chegar a ser realmente uma boa atriz.

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Gosto mais desse do que de “Desejo e Reparação”, mas entendo a comparação. Agora, também não vi um erro exatamente no roteiro. Acho que ele usa a ficção científica para falar do que há de mais humano nessa vida: destino e conformismo.

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Flavio, nem eu consigo gostar dela ainda. Acho que ela faz muitas caras e bocas, sempre muito repetitivas. Mas, não tenho problemas com ela vencendo um Oscar, desde que seja por uma performance merecedora do prêmio.

Amanda, não é erro no roteiro. Acho que a história é desenvolvida de uma forma equivocada. Deve ser porque não sou a maior fã de ficção científica mesmo. Preferia o enfoque na história de amor.

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