logo

A Entidade

publicado em:25/10/12 1:57 AM por: Kamila Azevedo Cinema

A cena mais crucial de “A Entidade”, filme dirigido por Scott Derrickson, é aquela em que acompanhamos uma discussão entre Ellison Oswalt (Ethan Hawke) e sua esposa Tracy (Juliet Rylance). Nela, a personagem principal desse longa, um escritor especializado no relato de histórias verdadeiras de crimes hediondos, fala com a sua mulher (que o incentiva em tudo aquilo que ele faz e nas “aventuras” em que ele mete a ela e os dois filhos, mas que está se cansando de levar uma vida nômade em que a realização do marido é a prioridade em detrimento de suas próprias vontades e desejos) que escrever é o que dá significado à sua vida e que o legado dele são seus livros. O que Tracy quer mostrar ao marido é justamente o contrário: que o casamento deles é que deve dar maior significado à vida de Ellison e que os dois filhos deles serão o maior legado deles em vida.

Não reconhecer isso é o grande erro que Ellison comete no decorrer da trama de “A Entidade”. É isso que vai ser fundamental para a conclusão da trama. Desde a primeira cena do longa, a plateia pode notar que a coisa mais importante para ele é a sua carreira. Para tanto, ele não se importa em ser egoísta o suficiente para colocar sua família numa vida sem raízes bem definidas e tentando construir seu lar dentro de ambientes carregados, cheios de histórias tristes e que não fazem bem a ninguém. Ao decidir vivenciar, literalmente, dia a dia a sua profissão, morando em cenas de crimes, se entregando de corpo e alma às histórias que escreve, o que Ellison não percebe é que ele mesmo cava o seu buraco – e, pior: leva a sua família junto consigo.

O livro no qual Ellison está trabalhando ao longo de “A Entidade” fala sobre o assassinato de quatro membros de uma mesma família por enforcamento. Na medida em que ele se depara com uma caixa com velhos filmes no formato super 8 e que revelam histórias similares à que ele investiga, Ellison começa a realizar que pode estar diante daquilo que se transformará, quem sabe, no maior livro que ele escreverá. A sequência para encontrar a chave certa para a história é Ellison conseguir descobrir a conexão que liga todos esses crimes. É justamente ao seguir seu instinto de escritor e de investigador, que Ellison vai, para continuar uma analogia feita no parágrafo anterior, se enfiando cada vez mais dentro do buraco que ele está cavando.

Scott Derrickson é um diretor bastante talentoso do gênero de suspense/terror. Basta dizer que “O Exorcismo de Emily Rose” levou os filmes de tribunal a um passo além, se transformando numa obra aterrorizante, muito em parte por causa da excelente atuação de Jennifer Carpenter. “A Entidade” aposta mais no lado thriller psicológico e Derrickson acerta bastante ao imprimir ao seu longa um clima bastante agoniante e angustiante, com cenas que vão fazer você se levantar da cadeira em alguns momentos. Essa sensação de desconforto constante só piora a partir do instante em que toda a trama de “A Entidade” se desenrola, especialmente em seu ato final. E aqui, vale aplaudir, novamente, o trabalho de Derrickson: seu filme não faz concessões. Ele termina da forma que tem que ser. Provavelmente, no final, é isso mesmo que nos deixa mais desconcertados, porque, pra fazer uma alusão ao título original do longa, tudo que a gente assiste, no decorrer dos 110 minutos de duração da obra, é a algo muito, mas muito sinistro mesmo.



A última modificação foi feita em:novembro 17th, 2012 as 12:20 pm


Jornalista e Publicitária


Comentários



Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.