Gonzaga: De Pai Para Filho
O mais difícil, em se tratando do processo de fazer um filme, é descobrir a história que a obra quer contar. Se coloque então no lugar do diretor Breno Silveira, que decidiu fazer um longa sobre a vida de Luiz Gonzaga, conhecido no Brasil inteiro como o Rei do Baião, artista que, com suas músicas, cantou como nenhum outro sobre a cultura, as angústias e os costumes nordestinos. Silveira, um diretor que, como sua filmografia bem atesta, é muito afeiçoado a temas que unem a música à emoção e o coração à exploração de relacionamentos familiares tortuosos entre pais e filhos, decidiu manter, em “Gonzaga – De Pai Para Filho”, segundo filme seu a ser lançado em 2012 (o primeiro foi “À Beira do Caminho”), a abordagem narrativa em um terreno que lhe dá muita segurança, como diretor.
Mesmo sem ousar, no que diz respeito à linguagem que está bem acostumado, foi da escolha narrativa de Breno Silveira, em roteiro escrito por Patricia Andrade, que sai muita da força emocional de “Gonzaga – De Pai Para Filho”. O longa encontra seu ponto alto no retrato da figura de Luiz Gonzaga (interpretado, nas diversas fases de sua vida, por Land Vieira, Chambinho do Acordeon e Adélio Lima) aliado ao ótimo relacionamento que ele estabeleceu com seu pai Januário (Cláudio Jaborandy) – que ficou imortalizado em uma de suas canções mais famosas, “Respeita Januário” -, que foi bastante presente em sua vida; e ao fato de que Gonzaga acabou sendo um péssimo pai para seu filho Gonzaguinha (interpretado, nas diversas fases de sua vida, por Alison Santos, Giancarlo di Tomazzio e Julio Andrade). Por mais que Luiz Gonzaga o amasse, Gonzaguinha sofreu bastante com a influência do autoritarismo de seu pai e a incapacidade dele, no geral, de lidar com a personalidade forte, não só de sua segunda esposa Helena (Ana Roberta Gualda), como também do próprio filho.
“Gonzaga – De Pai Para Filho” tem um título bastante sugestivo. Se Luiz Gonzaga aprendeu o ofício da sanfona com seu mestre Januário, mesmo com um relacionamento bastante tumultuado com Gonzaguinha, foi o seu talento musical, mesmo dom que o filho acabou revelando possuir, que acabou o unindo a ele. Um dos elementos mais curiosos em relação à figura de pai e filho é um contraste que o filme explora muito bem, uma vez que as origens de Luiz Gonzaga e de Gonzaguinha eram muito distintas, o que, talvez, até justifique a turbulência que marcou o relacionamento deles. Gonzaga veio de uma vida dura na cidade de Exu e, com muito sacrifício, conseguiu conquistar o sucesso na cidade grande. Gonzaguinha, ao mesmo tempo, também teve uma vida muito difícil e, a despeito de todas as dificuldades que teve que enfrentar, conseguiu se firmar como cantor/compositor, entoando temas críticos, em plena ditadura militar. Seguir caminhos diferentes dos trilhados – ou imaginados a ele – pelo seu pai, como se pode perceber, eram um fator considerável de tensão entre os dois, porém, como o longa bem mesmo retrata, foi justamente da compreensão das diferenças entre eles (o roteiro se baseia na série de fitas que Gonzaguinha gravou com conversas com Luiz Gonzaga), que pai e filho conseguiram reencontrar os seus caminhos juntos – e é esse entendimento que é uma das coisas mais lindas desse filme.
No dia 13 de dezembro deste ano, será comemorado o centenário de nascimento de Luiz Gonzaga. O lançamento de “Gonzaga – De Pai Para Filho” é um dos primeiros “eventos” relacionados a essa data especial. A história que o filme se propõe a retratar é tão extensa que estreará, no próximo ano, na rede Globo, uma macrossérie de quatro capítulos baseada no longa. Não sabemos ainda como será a estrutura narrativa desse programa, se ele incluirá cenas inéditas, mas esperamos que ele dê a oportunidade para que o diretor Breno Silveira explore melhor uma história que ainda merece ser vista em relação a esses dois personagens: a trajetória de Gonzaguinha, especialmente a que o levou a se consolidar como um dos nomes mais importantes da música brasileira na década de 70. Esse seria um belo reconhecimento ao trabalho que mais chama a atenção em “Gonzaga – De Pai Para Filho”: a assombrosa atuação de Julio Andrade. Ele, de uma certa maneira, acaba se tornando o coração deste lindo filme, que emociona e comove sem mesmo notar.
[…] à Vida”, da Rede Globo) e Joaquim (Júlio Andrade, que alcançou o estrelato com o filme “Gonzaga: De Pai para Filho”) deixam o Rio de Janeiro, em 1978, com o sonho de encontrar ouro e tudo aquilo mais que a Serra […]