Bem no início de “Antes do Pôr-do-Sol”, filme do diretor Richard Linklater, o personagem Jesse Wallace (Ethan Hawke, uma figura sempre presente nos trabalhos do diretor) afirma que o ser humano é a soma de tudo aquilo que ele vivencia. A afirmação cai como uma luva para a história que iremos assistir. “Antes do Pôr-do-Sol” retoma os acontecimentos retratados em “Antes do Amanhecer” quando, num dia do Verão de 1995, Jesse e Celine (Julie Delpy) passeavam pela capital da Áustria, Viena, enquanto conheciam um ao outro. No decorrer daquele dia, pode-se dizer que, entre os dois, ocorreu um amor idealizado, muito romântico e inocente. Um momento como esse dificilmente irá se repetir na vida de alguém, mas Jesse e Celine combinaram de se encontrar na mesma cidade dali a seis meses.

Já nos primeiros minutos de “Antes do Pôr-do-Sol” ficamos sabendo se Jesse e Celine vieram a se encontrar novamente em Viena. Entretanto, a continuação retoma os dois personagens nove anos depois que eles se conheceram. Jesse está em Paris para o lançamento de seu livro que, não por acaso, retrata a história de seu encontro com Celine em Viena; um momento que, na opinião dele, mostra o quanto duas pessoas podem se conectar. Celine fica sabendo do lançamento (o evento ocorre na livraria favorita dela em Paris) e vai ao encontro de Jesse. Mais uma vez, os dois terão um curto espaço de tempo (Jesse tem que pegar um vôo de volta para Nova York) para conversar, para descobrir o quanto cada um deles mudou e, principalmente, para ver se a mesma conexão que os uniu ainda existe.

“Antes do Pôr-do-Sol” tem o belo ritmo de uma conversa entre velhos amigos, de uma discussão entre duas pessoas que estão genuinamente interessadas no que uma ou a outra tem a dizer e de aproximação entre dois seres que nunca estiveram distantes na realidade (acreditem: o encontro dos dois em Viena influenciou cada decisão, cada novo relacionamento e a maneira pela qual eles passaram a encarar a vida dali em diante). Richard Linklater libera Ethan Hawke e Julie Delpy (que, no filme, entrega uma atuação soberba) para se “abrirem” e mostrarem a excelente química que os dois possuem. O processo criativo do filme foi feito em conjunto, por isso diretor e atores dividem os créditos do roteiro.

No cinema, somos acostumados a ver histórias de um amor idealizado e, até certo ponto, irreal. “Antes do Pôr-do-Sol”, por outro lado, foge do amor com o qual sonhamos (esse foi um assunto do primeiro filme) e relata – através de Jesse e Celine – o amor real, o amor que duas pessoas na casa dos trinta anos – e depois de carregarem as rugas de relacionamentos passados – querem. Jesse e Celine passaram da fase de sonhar e de curtir. Eles querem o interesse, atração, respeito e carinho verdadeiros. De um certo ponto, “Antes do Amanhecer” foi uma espécie de preparação e “Antes do Pôr-do-Sol” é o amadurecimento, é o momento certo para vivenciar o amor sem medo. Reconhecer detalhes como esse é admirar a beleza de ambos os filmes.