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Somos Tão Jovens

publicado em:7/05/13 1:01 AM por: Kamila Azevedo Cinema

De uma certa maneira, o filme “Somos Tão Jovens”, dirigido por Antonio Carlos da Fontoura, dialoga bastante com o documentário “Rock Brasília: A Era de Ouro”, dirigido por Vladimir Carvalho. Em comum entre os dois longas, além do fato de se passarem em Brasília, existem as personagens que movem a história e que são aqueles jovens que, no final da década de 70/início da década de 80 se reuniam no pátio localizado em frente aos edifícios da Colina e ali começaram a germinar as primeiras sementes de um movimento musical que modificou a cena brasileira nos anos 80.

Entretanto, para o filme dirigido por Antonio Carlos da Fontoura, a personagem mais importante é aquela que é considerada um dos maiores letristas do rock nacional: Renato Manfredini Júnior, que ficou conhecido como Renato Russo. O roteiro escrito por Marcos Bernstein (com a colaboração de Victor Atherino) segue Renato (Thiago Mendonça), no período de 1976 a 1982, quando ele, um adolescente tímido, afeiçoado à literatura e à música, começa a dar os seus primeiros passos como compositor e como músico no Aborto Elétrico, numa curta trajetória solo e, enfim, na Legião Urbana.

Ao contar a história de Renato, em “Somos Tão Jovens”, é inevitável ao diretor Antonio Carlos da Fontoura tocar nos nomes conhecidos do mesmo cenário musical e que também estavam no documentário “Rock Brasília: A Era do Ouro”. Porém, a equação nova acrescentada à essa história foi o relacionamento de Renato com seus pais (Sandra Corveloni e Marcos Breda) e a irmã (Bianca Comparato) – uma família amorosa e que o encorajou em tudo aquilo que ele quis fazer e ser – e com aquela que podemos considerar a sua melhor amiga, Ana (Laila Zaid), com quem ele teve os primeiros contatos com sentimentos como amor, dor e decepção – que, não custa nada lembrar, foram boa parte da matéria-prima das músicas escritas por ele.

Existe um elemento curioso a se observar na estrutura narrativa de “Somos Tão Jovens”. Várias cenas nos levam por trás das situações que, provavelmente, inspiraram Renato Russo a compor sucessos como “Que País é Este”, “Faroeste Caboclo”, “Ainda é Cedo”, “Geração Coca-Cola”, “Tédio (com um T bem grande pra você)”, “Eu Sei” e “Química”. Por isso mesmo, o roteiro se sujeita a situações meio “forçadas”, como, por exemplo, numa cena em que Ana, Renato e seus amigos entram numa festa de uma filha de um embaixador e trocam o seguinte diálogo: “que festa estranha!”, “que gente esquisita!”.

Além disso, o diretor Antonio Carlos da Fontoura poderia ter sido mais cuidadoso na direção de seus atores.  É inegável a dedicação e a entrega de Thiago Mendonça ao papel de Renato Russo. Porém, o ator vive numa linha tênue entre aquilo que podemos chamar de performance e imitação, na medida em que ele exagera em vários trejeitos que faziam parte daquilo que Renato Russo era, como, por exemplo, a forma enfática de falar, com muitas caras e bocas. A mesma situação é vista com o ator Edu Moraes, que interpreta Herbert Vianna. A forma como esse ator faz o papel, a maneira como ele imita a forma de Herbert falar, chega a ser constrangedora de se ver em cena.

Apesar disso, não dá para negar que “Somos Tão Jovens” é um filme muito vibrante e feito com muita paixão, que consegue captar um momento mágico vivido na capital federal, quando jovens oriundos da classe média alta, filhos de funcionários públicos federais, diplomatas, professores universitários, embaixadores e militares mudaram o curso da música brasileira, por meio de um movimento musical com influências do punk rock e do pós-punk inglês, porém com letras bem adaptadas à realidade nacional. Isso foi muito bem representado por Renato Russo, cujas canções, sem dúvida alguma, e já pedindo perdão pelo trocadilho, continuam a mover legiões e gerações pelo Brasil inteiro.



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Comentários


Algum rock e nenhum sex and drugs, na medida para nao chocar a famlia-tela-quente-brasileira.
Dureza é suportar o texto, cheio de citações de música. Caricatural.

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Herculano, é um filme meio careta, sim. E isso chama a atenção, pois sabemos que Renato Russo tinha pouco de careta. O texto também me incomodou profundamente, como eu mesma notei em meu texto.

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Um filme, como quase todos nacionais, aquém do esperado, com atuações frágeis -péssimo trabalho de composição dos personagens -, e um roteiro quase infantil. O pior é que as críticas – como essa – sembre esbarram na história real e acabam poupando o filme de críticas mais profundas. O que quero dizer que percebo a triste tendência dos críticos a esse filme em, ao invés de analisá-lo sobriamente, acabam por tecer mais comentários em relação àquela geração, especialmente ao grande Renato. Isso não faz sentido, pq o filme não assume nenhum papel relevante. Não é – como deveria ser – uma obra que “mostrasse” a história de um homem cheio de contrastes, qualidades, defeitos… Nem muito menos é um tributo digno ao legado do artista Renato.

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Bela crítica. Ainda não vi o filme! Mas acho que a referência a “Rock Brasília: a era de ouro” diz muito sobre o espírito dessa obra, algo que o restante do seu texto dimensiona muito bem. O recorte proposto pela produção da vida de Russo me agrada muito. Agora é conferir, né?
Bjs

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Fernanda, pelo seu comentário, percebo que você leu meu texto. Acho que você percebeu que eu não fui condescendente com o filme. Pelo contrário, critiquei o seu roteiro forçado e as atuações caricaturais. Mas, agradeço as suas críticas construtivas. Concordo com você que o filme não assume nenhum papel relevante, mas acho que o longa não tinha o objetivo de mostrar a história de um “homem cheio de contrastes, de qualidades, defeitos…”.

Reinaldo, obrigada! Também gostei do recorte proposto para a vida do Renato, apesar de achar que este filme carecia de um cuidado maior na parte do roteiro e das atuações. Não deixe de conferir o filme!

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Oi Camila, Quanto tempo que não apareço por aqui haha, mudou bastante.
Sobre o filme, achei mediano, caricato e nunca levado à serio. Gostei do diretor ter abordado o idealismo e os sonhos da juventude que não temos hoje em dia.
O Cinema Indiscreto está de volta, te espero por lá qualquer dia. Abraço!

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Ótima crítica Kamila. Eu tenho pensado muito na questão das atuações no cinema nacional, vejo isso como um dos maiores problemas que não deixam nosso cinema alavancar mais. É impossível encarar com realismo os pais de Renato, chega a aparecer teatro de pré. Junto a isso, sinto também que muitas vezes temos uma má montagem e edição dos filmes. Nesse caso, a primeira metade eu achei bastante confusa. Não se retrata muito bem a passagem do tempo, as cenas parecem ficar pulando de um lado pro outro. Depois o andamento melhora, com a dimensão que se dá no relacionamento entre Renato e Ana. Em fim, também achei um bom filme pelo espírito que ele tem a imagem que busca mostrar do poeta.

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Andinhu, concordo somente com a sua observação sobre o idealismo e os sonhos da juventude, que foram muito bem abordados pelo diretor neste filme.

Júnior, obrigada! Sem dúvida alguma, o nosso cinema ainda precisa progredir muito, mas discordo de alguns aspectos do seu comentário. Acho que somos muito bons nas atuações. Nosso maior obstáculo é tentar tirar dos filmes aquela aura técnica de novela, como se estivéssemos assistindo a um capítulo de novela.

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É muito bacana esse período do rock nacional… quero assistir a esse documentário Rock Brasília. Quanto aos momentos do cotidiano que inspiraram as letras, também achei algumas situações bem forçadas, mas pelo menos geraram cenas divertidas. No mais, gostei muito do filme, principalmente devido a essa vibração toda e a nostalgia… e claro, a trilha sonora!

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Bruno, pois é. O roteiro foi muito forçado, mas o filme é agradável, especialmente porque foi feito com uma vibração muito grande.

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Em todos os sentidos, achei “Somos Tão Jovens” um filme completamente inexpressivo. A história não tem qualquer consistência, conhecemos pouco sobre Renato Russo e o elenco é bem fraco. “Cazuza – O Tempo Não Para” dá de mil a zero nesse filme!

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Matheus, discordo que tenha sido um filme inexpressivo. Porém, concordo que o filme mostra pouco sobre Renato Russo, apesar de ter gostado da forma como ele mostrou os conflitos internos dele.

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