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Faroeste Caboclo

publicado em:13/06/13 1:37 AM por: Kamila Azevedo Cinema

Existem certas músicas cujas letras são tão bem descritivas que a gente não hesita em imaginar a história por trás delas acontecendo em nossa mente. “Faroeste Caboclo”, música composta por Renato Russo, gravada pela Legião Urbana no álbum “Que País é Este”, com certeza é uma delas. A história de João de Santo Cristo, um traficante nascido no interior do Nordeste que se muda para Brasília, onde conhece um caminho de sacrifício, pobreza, riqueza, violência, amor e redenção, estava fadada a ser transposta para o cinema – seja num longa-metragem ou num curta-metragem.

É justamente esta canção que inspira o filme “Faroeste Caboclo”, do diretor René Sampaio. Ao nos depararmos com os acontecimentos retratados nos 106 minutos de duração do longa, chegamos à conclusão de que se trata de uma livre adaptação da música de Renato Russo, na medida em que a jornada de João de Santo Cristo (Fabrício Oliveira) perde alguns de seus elementos originais (notadamente a crítica social contida na letra de Renato Russo) devido ao fato do roteiro escrito por Victor Atherino, Marcos Bernstein e José Carvalho privilegiar a história de amor que surge entre João e a jovem Maria Lúcia (Ísis Valverde), estudante de Arquitetura e filha de um Senador (Marcos Paulo, em seu último papel no cinema).

Por meio do retrato desta história de amor entre duas pessoas de origens e culturas tão diferentes, temos o desenrolar daqueles elementos que faziam de “Faroeste Caboclo” uma história muito forte. João de Santo Cristo representa muito bem aquele tipo de visão que já é quase que ultrapassada da glamurização da violência. Na forma como é retratado em sua versão cinematográfica, João de Santo Cristo é uma vítima da realidade na qual estava inserido e suas ações eram somente uma reação a toda a dor e sofrimento a qual ele estava sujeito, de uma forma que nem o amor ou a vontade de ser alguém melhor conseguiria redimir o seu caminho.

Como está implícito no próprio nome da canção/filme, “Faroeste Caboclo” tem muita influência de um dos gêneros mais tradicionais do cinema norte-americano. João de Santo Cristo era um anti-heroi solitário, cuja zona de conforto era o uso da violência. Entretanto, o lado surpreendente – e corajoso – desta história é a sua falta de moralidade, especialmente se levarmos em consideração que o desfecho dessa trama é um resultado direto da vida e das escolhas feitas pelas personagens. Em sua estreia como diretor de um longa-metragem, René Sampaio surpreende ao entregar um filme bem realizado do ponto de vista técnico, com cenas belamente fotografadas e com atuações excelentes, principalmente do trio de atores central formado por Fabrício Oliveira, Ísis Valverde e Felipe Abib (que interpreta Jeremias, o terceiro vértice dessa história).



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Comentários


Belo texto. Ainda não vi o filme, mas não me preocupei em ler a crítica porque conheço a história, hehe… Parece então que o filme honra a música. Porque aquele “Somos Tão Jovens” eu achei bem fraquinho.
Bjs

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Amanda, obrigada!

Otavio, “Somos Tão Jovens” perto de “Faroeste Caboclo” é muito fraco. O filme de René Sampaio é bem melhor. Sim, o filme é uma bela adaptação da música, especialmente porque sabe que não pode ser uma adaptação literal da letra, e sim, que as características do cinema têm que ser respeitadas. Gostei muito do fato da adaptação da letra ser bem livre.

Celo, também adorei os enquadramentos. Muito criativos. Concordo com seu comentário.

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De fato, René Sampaio é um diretor que promete. Adorei os enquadramentos. As atuações também são boas e Faroeste Caboclo surge como um dos melhores filmes nacionais do ano.

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É verdade, Kamila, não tem como não imaginar os acontecimentos da música… e é uma muito bacana ter a chance de ver essa história virar filme! Confesso que antes eu tinha um certo receio em relação a Faroeste Caboclo, mas agora com tantos comentários positivos estou com ótimas expectativas. Infelizmente ainda não pude conferir, mas não vejo a hora.

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Bruno, também achei bacana ver essa história virar filme. Não tinha receio em relação ao filme e fico feliz de que a adaptação tenha dado muito certo. Tente assistir.

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Oi Kamila! De fato do ponto de vista técnico “Faroeste Caboclo” é um filme bem realizado como você mesma disse, mas infelizmente não conseguir acreditar na história de amor entre João e Maria Lúcia. O roteiro é muito fraco. Apresentando personagens e desenvolvendo tramas secundárias de forma pouco envolvente e superficial. Obviamente que não se trata de um filme ruim, mas insatisfatório.

Outra coisa que me incomodou foi apresentar João de Santo Cristo como fruto do meio humilhante e desfavorável em que ele estava inserido como justificativas para seus atos de maldade. Obviamente que a vingança é compreensível, mas saí do cinema acreditando que João era sim um mal caráter, ainda que apaixonado por Maria Lúcia. Sendo assim, não tinha como nutrir nenhum tipo de simpatia por ele. Aquela cena onde quando criança ele rouba balas e o pai lhe diz “não quero filho bandido”, infelizmente se concretizou. O desvio de caráter já estava presente mesmo antes de todo tipo de humilhação “por causa de sua classe sua cor”.

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Alex, não achei o roteiro fraco, me desculpe! Acho que os personagens principais foram muito bem desenvolvidos. Concordo com sua visão sobre João de Santo Cristo, na forma como foi passado neste filme. É difícil sentir empatia pelo personagem. Isso é a pura verdade. Por isso que eu destaquei a questão da falta de moralidade do filme.

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Sem problema Kamila. Não precisa se deculpar. Isso é que é o legal. A diversidade de leituras e percepções de um mesmo filme. Você acreditou no casal, que sentimentos tão fortes se desenvolveriam com uma invasão de casa por um cara perseguido pela policia. Eu não. E isso fez toda a diferença…rs! Mas repito, o filme não é ruim, mas sim insatisfatório. Boa semana!

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Alex Sandro, sim, também valorizo a diversidade de leituras e de percepção sobre um mesmo filme. Isso é muito bacana. Mas, olha: não disse que tinha acreditado no casal. Acho que as diferentes origens e culturas exigiriam um algo mais para esse romance acontecer e isso não está bem explicado pelo roteiro.

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Wow, que notona! hehe. “Faroeste Caboclo” é mesmo um filme eficiente, mas alguns elementos destoam na balança. Por exemplo: acho sensacional como o filme é hábil em imprimir toda a sua fúria por meio das imagens, mas não há sequer um diálogo com mais de 20 segundo em todo o filme, e isso é muito decepcionante. E também há liberdades narrativas que vieram para o bem: gosto muito que os roteiristas criaram algumas coisas a partir da canção, porém, há claramente informações na música que amarram o filme, como SPOILER o fato de Maria Lucia ter ficado com Jeremias no terceiro ato somente pq a música ditava assim. Achei completamente desnecessário e nada compatível com o que a personagem passava ao espectador até então. Sei que ela foi expulsa de casa e estava na pior, mas ela afirma que não curte “marginal” o filme inteiro, daí surge o primeiro problema e ela vai pedir pouso… para um marginal?! Oi? Se fosse assim, que fizessem uma Maria Lucia menos hipócrita e tal…
Enfim, são questões pontuais que me entristeceram, mas é um bom filme, sim, sem dúvidas =)

Bjs!

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Elton, gostei do filme tecnicamente. Achei que o diretor foi muito criativo em algumas soluções narrativas adotadas, especialmente na parte da fotografia. Não concordo com a questão que você aponta em relação à Maria Lúcia, pois, para mim, aquele ato dela, mesmo contradizendo o que ela dizia, foi feito pelo amor que ela sentia por Jeremias e isso justifica a decisão que ela tomou naquele momento e que a trouxe nada mais do que infelicidade e uma prisão também.

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[…] “Faroeste Caboclo“, filme dirigido por René Sampaio, foi o grande vencedor do 13º Grande Prêmio de Cinema Brasileiro, premiação que aconteceu ontem à noite e que é outorgada pela Academia Brasileira de Cinema. O longa estava indicado em 13 categorias, das quais venceu sete – incluindo Melhor Filme e Melhor Ator para Fabrício Boliveira, que interpretou o personagem principal: João de Santo Cristo. […]

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