Cena da Semana: Orações para Bobby (2009)
(O discurso “A Child is Listening” – Orações para Bobby [2009] – diretor: Russell Mulcahy)
Em tempos de Marco Feliciano e projeto de “cura gay”, “Orações para Bobby”, telefilme dirigido por Russell Mulcahy, é uma obra que se torna obrigatória e muito relevante para o debate em torno da homossexualidade e da forma como ela vista por algumas religiões. Bobby Griffith (Ryan Kelley) é um jovem que encontra um ambiente familiar totalmente repressivo após a descoberta de sua homossexualidade. Sujeito àquilo que sua mãe (Sigourney Weaver, numa forte atuação) acredita ser o correto (tendo como base os seus fortes valores religiosos), Bobby vive um conflito interno muito grande: a vontade de ser aquilo que ele é de verdade e o desejo de ser aceito pela família que ele tanto ama. Por isso, ele se sujeita a todo tipo de situação para tentar transformar seus afetos e seus anseios mais íntimos. Porém, da maneira mais dura, o que “Orações para Bobby” nos mostra é que uma vida de repressão, em que não se pode viver a vida da forma que se queria, é uma prisão muito maior. É isso que a mãe de Bobby também irá aprender. Pena que ela tenha que passar por um grande sofrimento para sair do egoísmo de sua própria visão sobre o “problema” de seu filho.
A transformação de Mary Griffiths (Weaver) nos é relatada de uma forma muito brusca e muito rápida pelo telefilme de Russell Mulcahy, que mostra, por sinal, uma história que tem contornos muito densos e, infelizmente, ainda é muito atual, numa obra que poderia ter sido muito melhor. Entretanto, “Orações para Bobby” é poderoso naquilo que quer deixar para a plateia: a reflexão sobre a sua história. Neste sentido, nada mais pungente do que essa cena. São palavras para nos fazer pensar:
“A homossexualidade é um pecado. Os homossexuais estão destinados a passar a eternidade no inferno. Se eles quiserem mudar, eles podem ser curados do mau caminho. Se eles se afastarem da tentação, eles podem ser normais novamente, mas somente se eles tentarem e tentarem fortemente se não der certo. Tudo isso eu falei para o meu filho Bobby quando eu descobri que ele era gay. Quando ele me disse que era homossexual, meu mundo caiu. Eu fiz tudo que eu podia para curá-lo de sua doença. Oito meses atrás, meu filho pulou de uma ponte e se suicidou. Eu me arrependo profundamente da minha falta de conhecimento sobre os gays e as lésbicas. Eu percebo que tudo que me ensinaram e contaram foi uma calúnia de intolerância e de desumanização. Se eu tivesse investigado além do que me foi dito, se eu tivesse escutado o meu filho quando ele abria seu coração para mim, eu não estaria aqui hoje completamente arrependida. Eu acredito que Deus estava feliz com o espírito amável e agradável de Bobby. Aos olhos de Deus, a doçura e o amor é tudo que importa. Eu não sabia disso cada vez que eu pregava a danação eterna para os gays e cada vez que eu me referia a Bobby como doente e pervertido e um perigo para as nossas crianças. A sua auto-estima e seu senso de valor estavam sendo destruídos. E, finalmente, seu espírito quebrou sem chance de reparação. Não foi a vontade de Deus que Bobby subisse no lado de um viaduto e pulasse diretamente no caminho de um caminhão de dezoito rodas que o matou instantaneamente. A morte de Bobby foi o resultado direto da ignorância de seus pais e do medo da palavra gay. Ele queria ser um escritor. Suas esperanças e sonhos não deveriam ter sido arrancadas dele, mas elas foram. Existem crianças, como Bobby, sentada nas nossas congregações. À sua revelia, eles irão escutá-los dizendo “amém” e isso, logo, vai silenciar as preces deles. As orações deles a Deus buscando a compreensão e a aceitação e o seu amor, que irão ser silenciadas pelo seu ódio e medo e ignorância da palavra gay. Então, antes de você dizer “amém” na sua casa e lugar de adoração, pense. Pense e se lembre que uma criança está escutando”.
Filmes como esse existem para evitar que histórias como essas se repitam. E é nosso dever e das gerações futuras lutar para que histórias como essa se repitam. O que deve ser pregado, sempre, é a tolerância e o respeito e, principalmente, o amor.
Kamila, acho que “Orações Para Bobby” deixa essa sensação de que é brusco e rápido porque foi encomendado para caber numa grade horária de 1h30… Sem falar que o Life é considerado um canal bem feminino e para donas-de-casa lá nos Estados Unidos. Então, por isso, não me incomodei muito com essa velocidade do filme. No mais, chorei horrores com “Orações Para Bobby”, que é um filme muito franco e que deveria passar na TV várias e várias vezes para conscientizar a população. Porque quem não se emociona com a trajetória de Mery Griffith e não se transforma como ela… Bom, não deve ser um ser humano!
Não conheço o filme, mas essa cena que você escolheu é mesmo emocionante. E Sigourney Weaver, está incrível.
Vi esse filme no ano em que foi lançado e por saudade da Sigourney Weaver… que tem uma atuação poderosa, só nãop ganhou os prêmios daquele ano porque Jessica lange e Drew Barrymore estavam soberbas em ‘Grey Gardens”, outro filme lição de vida, mas que não me fez chorar como este. Essa cena é fantástica!
Ainda mais que também sou homossexual, fui obrigado a sair da igreja por não me aceitarem e minha mãe também não aceita justamente pela religião. Pois é, c’est la vie.
Matheus, pode ser que tenha sido isso tudo que você falou. Eu não me incomodei tanto com a rapidez do filme, mas acho que a história merecia mais, muito mais, pela sua relevância e importância. Concordo plenamente com seu comentário!
Amanda, tente assistir a esse telefilme. É muito forte e bonito.
Pedro, exatamente. A Sigourney Weaver merecia uma sorte melhor naquela temporada de premiações pela sua excelente atuação neste telefilme. Uma pena que a concorrência dela naquele ano era grande. Uma pena que existam situações de intolerância e falta de respeito desse tipo. Torço pelo dia em que não precisaremos ver situações como a sua e a de Bobby.