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O Doador de Memórias

publicado em:25/09/14 1:43 PM por: Kamila Azevedo Cinema

Uma comunidade isolada do resto do mundo, em que os seus moradores vivem reclusos e sem interação com outros tipos de sociedade ou de culturas, ao mesmo tempo em que existem limites territoriais que nunca devem ser ultrapassados. Não estamos falando da comunidade vista no filme “A Vila”, dirigido e escrito por M. Night Shyamalan; e sim da localidade na qual se passa o filme “O Doador de Memórias”, dirigido por Phillip Noyce

Se a sociedade criada por M. Night Shyamalan era um reflexo direto da América paranóica pós-11 de Setembro, que enxergava a ameaça e a desconfiança em qualquer lugar; a sociedade futurista e opressiva idealizada pela escritora Lois Lowry no livro “O Doador” (que originou este filme) é o resultado concreto de uma frase que habita o imaginário popular: “a ignorância das massas é a principal força dos governantes”.

Neste sentido, é bom prestar atenção na maneira como a sociedade existente em “O Doador de Memórias” se apresenta: como um mundo ideal, onde não existe a possibilidade de dor ou sofrimento, em que as pessoas são iguais, tolerantes umas com as outras e seguidoras daquilo que se revela como a sua verdadeira vocação. Isso só se explica, ao mesmo tempo, pelo fato de que os habitantes mais experientes dessa sociedade excluíram qualquer tipo de sentimento que pudesse ameaçar o equilíbrio dessa estrutura social, como o amor, o ciúme, o desejo e a ambição; bem como a lembrança que cada ser poderia ter sobre esse tipo de experiência.

Por essa descrição, pode parecer que os habitantes dessa localidade são verdadeiros robôs, porém a verdade é que essa é a única realidade que eles conhecem. A exceção à regra se encontra naquele que desempenha o papel de guardião das memórias – uma tarefa de extrema responsabilidade, na medida em que essa pessoa vai carregar todo o peso de um lado bom e de um lado ruim nas suas costas, sem poder dividir isso com ninguém, a não ser com aqueles que possuam a mesma função que eles (uma vez que, na comunidade, os papeis sociais são bem divididos entre cada habitante).

Portanto, a trama de “O Doador de Memórias”, escrita por Michael Mitnick e Robert B. Weide (conhecido pelo trabalho desenvolvido na série “Curb Your Enthusiasm”), enfoca a figura de Jonas (Brenton Thwaites), que, na sua maioridade, é designado como o próximo guardião de memórias e tem que passar por um duro treinamento com o guardião anterior (Jeff Bridges). O grande ponto de conflito do roteiro é nos passar a força das transformações pessoais pelas quais irá passar esse personagem após entrar em contato com tudo aquilo que a sua sociedade lhe negava conhecer e o que ele fará com o enorme poder que ele tem em mãos, agora – porque o conhecimento sobre as coisas boas e ruins é sim um poder de grandes proporções e que tem a possibilidade de modificar todo o mundo ao nosso redor.

Dirigido por um profissional experiente e com dois dos atores mais competentes do cinema norte-americano (Meryl Streep e Jeff Bridges) liderando um elenco de atores jovens, “O Doador de Memórias” é um filme que possui uma reflexão muito interessante sobre as formas pelas quais uma população pode ser manipulada visando a perpetuação de um modelo de poder. O que o longa nos mostra é que é preciso uma certa dose de ousadia e coragem para que as transformações necessárias para a nossa evolução ocorram. E isso faz de “O Doador de Memórias” um filme diferente, especialmente em se tratando do seu público-alvo principal: os jovens – que são os responsáveis pelo futuro que teremos.



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