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Até o Último Homem

publicado em:16/02/17 3:04 PM por: Kamila Azevedo Cinema

Se você olhar para Desmond Doss (Andrew Garfield, numa atuação indicada ao Oscar 2017 de Melhor Ator), você vai enxergar alguém sensível, que possui uma certa fragilidade, e que é extremamente fiel aos seus princípios. Será difícil imaginá-lo num ambiente tão inóspito quanto o de uma guerra. Na verdade, quando a personagem anuncia que irá se alistar no Exército norte-americano, durante a II Guerra Mundial, o pensamento que virá à sua cabeça é: “ele não vai sobreviver ao treinamento militar, quanto mais a uma guerra”.

Você vai se envolver tanto assim com esta personagem, pois uma das maiores preocupações do roteiro de Até o Último Homem, filme dirigido por Mel Gibson, é nos fazer entender quem é Desmond Doss. Desta maneira, quando chegamos, posteriormente, ao conflito principal do longa, nós não iremos questionar as suas escolhas e, muito menos, a sua postura e a sua fé.

Acontece que Desmond Doss é Adventista e sonha em ser médico. Como uma pessoa totalmente apegada à sua fé, ele segue, fielmente, os 10 mandamentos que Jesus Cristo nos deixou, com ênfase em dois deles: “amai-vos uns aos outros como eu vos amei” e “não matarás”. É por causa dos seus valores que, ao chegar no Exército, ele se declara um objetor de consciência (pessoas que seguem princípios religiosos, morais ou éticos de sua consciência, que são incompatíveis com o serviço militar) e, em decorrência disso, recusa-se a portar qualquer tipo de arma, solicitando a gentileza de poder cumprir o dever em prol do seu país como médico socorrista.

Até chegar ao conflito (sangrento e retratado com maestria na obra) na Cordilheira Hacksaw (que dá nome ao filme), a jornada de Desmond será de muito sacrifício, dor e sofrimento. Mas, talvez, o obstáculo mais complicado a enfrentar seja a falta de compreensão dos outros à sua escolha. E é justamente na Cordilheira Hacksaw que Doss se transforma num herói de guerra ao salvar 75 militares do Exército norte-americano da artilharia pesada dos japoneses.

A trajetória de Desmond Doss se confunde com a do diretor Mel Gibson. É público e notório o quanto Gibson – um católico fervoroso – lutou, nos últimos anos, contra os seus próprios demônios internos, contra o vício em álcool, para poder reerguer não só a sua vida pessoal, como a profissional. A grande dualidade de Até o Último Homem é confrontar (com o perdão do trocadilho) uma situação de extrema pressão física e psicológica como a de uma guerra com a fortaleza do pensamento de alguém que não quer comprometer aquilo que ele é, mesmo diante de tantos argumentos contrários.

Desmond Doss nos mostra, de uma maneira muito bonita e resiliente, que se o mundo te oferece dor, intolerância e incompreensão, você deve oferecer justamente a outra face: a do amor, a do altruísmo, a da compaixão e, principalmente, a do não-julgamento.

Até o Último Homem (Hacksaw Ridge, 2016)
Direção: Mel Gibson
Roteiro: Robert Schenkkan e Andrew Knight
Elenco: Andrew Garfield, Hugo Weaving, Rachel Griffiths, Teresa Palmer, Luke Bracey, Vince Vaughn, Richard Roxburgh, Sam Worthington

Indicações ao Oscar 2017
Melhor Filme
Melhor Ator – Andrew Garfield
Melhor Diretor – Mel Gibson
Melhor Montagem – John Gilbert
Melhor Mixagem de Som
Melhor Edição de Som



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Jornalista e Publicitária


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