Dúvida
Baseado em uma peça vencedora do Prêmio Pulitzer, “Dúvida”, do diretor e roteirista John Patrick Shanley, se apoia em uma narrativa que lembra muito questões tocadas em obras como “Reparação”, de Ian McEwan, e “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, no sentido de que todas elas falam sobre como a suspeita e a desconfiança podem deixar um ser humano tão cego a ponto de ele (ou ela) não conseguir enxergar de forma apropriada a realidade que se apresenta diante de si – ou seja, a pessoa em questão visualiza o mundo e as situações do jeito que ela quer ou acredita ser possível.
O filme se passa na escola St. Nicholas, um colégio católico no qual duas figuras polarizam todas as atenções. De um lado, temos a irmã Aloysius (Meryl Streep), que dirige com mão de ferro a instituição e é do tipo que impõe medo, ao invés de conquistar o respeito de todos que a rodeiam. Do outro, temos o padre Flynn (Philip Seymour Hoffman), uma figura carismática, vibrante e que, aos poucos, tenta quebrar toda a rigidez do ambiente escolar de St. Nicholas.
Está claro, desde o início, que a irmã Aloysius tem problemas com o Padre Flynn e vice-versa. Parece que ela só está esperando um deslize dele para confirmar para todos tudo aquilo que ela acha dele. É aí que entra aquela que, provavelmente, é a personagem mais importante de “Dúvida”: a irmã James (Amy Adams), jovem freira que está iniciando o seu caminho em St. Nicholas e quer conquistar a confiança e o carinho de todos – especialmente o da irmã Aloysius, que é a pessoa que vai decidir seu destino naquele local. É ela quem oferece à diretora de St. Nicholas o subsídio que ela estava esperando. É ela quem nota algo de estranho na relação que se estabelece entre o padre Flynn e um dos alunos da escola. É ela quem colhe a suspeita que foi plantada pela Irmã Aloysius. É ela quem dá início a um jogo em que a certeza moral vai de encontro à convicção pessoal.
Indicado a 5 Oscars 2009, “Dúvida” é um filme que é caracterizado por um casamento perfeito entre atores e roteiro (não foi a toa que estes foram os elementos reconhecidos pela Academia). O longa propõe uma discussão excelente e convida o espectador a tentar desvendar – com o pouco de detalhes que sabemos – quem tem razão nesta história toda (se é que alguém tem). O interessante, porém, do argumento levantado por John Patrick Shanley é que, assim como Ian McEwan, e, ao contrário de Machado de Assis, ele tem plena consciência de que não existe um lado vencedor. A culpa sempre irá existir. A grande pergunta é: quem sabe conviver com ela? Aí, sim, teremos alguém levando vantagem – se é que isso é possível.
Cotação: 9,3
Dúvida (Doubt, 2008)
Diretor: John Patrick Shanley
Roteiro: John Patrick Shanley (baseado em peça de sua autoria)
Elenco: Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams, Viola Davis, Joseph Foster
Olá, Kamila! tudo bem?
Gostei da comparação a “Reparação” e “Dom Casmurro” e o filme consegue levantar muito bem esta questão da dúvida e da culpa, até na parte religiosa. Isso acabou me conquistando no filme, além do roteiro e elenco, que é um primor. 😉
Beijos!
Realmente é um filme lindo… Interpretações fora do comum… Acho que anda sendo muito subvalorizado… Abraços…
Um dos grandes filmes do ano e um dos meus favoritos de 2009 também. Acho que você foi certeira em dizer que o filme tem um casamento perfeito de atores e roteiro – e sempre quando isso acontece, sou completamente conquistado, como ocorreu aqui =D
Mayara, tudo bem, obrigada. E com você? Obrigada. Concordo contigo em relação a roteiro e o elenco. Beijos!
O Cara da Locadora, concordo com você. “Dúvida” tem sido um filme até subestimado. Abraços.
Matheus, eu também sou conquistada por filmes que possuem um grande roteiro e elenco.
Eu achei o filme do filme tão sincero. Adorei. Pq a maior questão p/ mim era: e cm vai acabar??? E eu adorei, não achei clichê!
Gosto bastante do filme, embora hoje não esteja tão marcante na minha memória quanto quando eu assisti há uns 4 meses. Mas é impossível ficar impassível com aquele texto e aquelas atuações, todos ótimos. E confesso que Viola Davis rouba a cena quando aparece arrebatadora em dois pequenas momentos. E adoro a cena do sermão da fofoca do Padre, Flynn, acho sensacional. O final também é bem impactante. De fato, um dos melhores filmes do ano.
Mandy, eu também não achei clichê. Achei o final totalmente surpreendente.
Rafael, o filme continua marcante para mim. Eu achei a Viola Davis excelente, mas a Amy Adams, para mim, foi o coração desse filme. São tantas cenas boas, que é impossível citar alguma aqui!
Kamila, não enxerguei paralelos com o texto de John Patrick Shanley com os de Ian McEwan e Machado de Assis porque estes dois exemplos não tem aquilo que é o maior trunfo de “Dúvida”: deixar para que os espectadores tire as próprias conclusões diante das pistas que a ação deixa pelo caminho. É o melhor filme do ano e duvido que eu veja um filme tão bom quanto ele nos próximos meses.
SINISTRAS DÚVIDAS A SEREM LEVANTADAS, PRINCIPALMENTE SE PASSANDO EM UM COLÉGIO DA CONSERVADOR CATOLICISMO.
BEIJOS
Meu noivo odiou, mas eu amei. Merryl foi tão sincera!!!
Alex, bom comentário e um ponto que eu, definitivamente, levarei em consideração.
Brenno, sim e o roteiro não deixa de ser atual por causa disso. Beijos!
Mandy, eu gostei mais da Amy Adams. Achei que a Meryl exagerou em alguns momentos.
oiiii
esse filme eh espetacular porque cada um tira uma conclusao….
passe no blog
bjaumm
É uma pena que o filme tenha sido subestimado, pois com um roteiro rico e com atuações tão boas (e a direção até que não estraga muita coisa), não consigo ver um motivo concreto para tantas críticas…
Meryl Streep sensacional como sempre. 🙂
Um filme que retrata também muito bem a relação entre o novo e o conservador que vemos em vários colégios católicos ainda!
Também recomendo.
Airton, exatamente. Beijão.
Pedro, nem eu consigo ver motivos para essas críticas.
Paco, isso. Bom ponto levantado.
Kamila, excelente texto. Gostaria de ter visto este filme no cinema, mas não foi possível à época. Meu próximo fim de semana será agitado demais, então só devo pegar 1 ou 2 filmes. Esse já era dúvida (trocadilho)na minha cabeça, mas depois de ler seu texto ele virou certeza, sem deixar qualquer margem de dúvida (trocadilho 2).
Gostou de A Proposta? Eu já vi e até comentei em meu blog sobre esse filme. Gostaria, de verdade, que você lesse meu post e depois me dissesse se eu posso continuar escrevendo sobre filmes.
Beijos!
Tem um pouco do Dom Casmurro, mas discordo quando diz que as personagens tem algo contra o outro. A de Meryll obviamente que sim, mas a do Philip não, só mesmo depois das acusações.
Ansiosa para assitir!
Nem leio os comentários para não ter spoiler…rsrs
Beijinhos!
Renan, obrigada. Eu também gostaria de ter visto este filme no cinema, mas ele nem estreou por aqui. Alugue mesmo esse filme. Eu adorei “A Proposta”. Vou escrever sobre ele aqui. Beijos!
Cassiano, o personagem do Philip tem, sim, algo contra a personagem da Meryl, especialmente quanto à maneira que ela dirige o colégio.
Carol, antes de assistir ao filme eu também evitava ler comentários. 🙂
Não cheguei a gostar tanto do longa, mas realmente tenho que reconhecer as qualidades do roteiro e principalmente do trabalho de elenco.
Vinícius, gostando ou não de “Dúvida”, a gente tem que reconhecer estes elementos que você citou.
Estou entre os que acharam que sobrou grandes atuações, mas faltou linguagem cinematográfica nesse filme. Acabei achando apenas OK.
Abraço!
Grande Filme, grandes atuações, ótimo trabalho! Excelente!!!
As interpretações são excelentes. Mas achei que não justifica muito o fato de terem transformado a peça em cinema. Poderia ser mais ousado e não com esse estilo de peça o tempo inteiro…
Beijos!
Bruno, eu discordo de você. Abraço!
Bruno Pongas, concordo contigo.
Ciro, eu não senti o estilo de peça. Fiquei até curiosa para saber como “Dúvida” funcionou no palco. Beijos!
Olá Kamila!
Achei um bom filme, com magníficas atuações, tá todo mundo excelente no filme, o lance do título ficou bem colocado dentro do contexto do roteiro. nota 7.0!
Abs! Diego!
Diego, pensava que darias uma nota maior. Abraços!
“Duvida”, tem o roteiro desenvolvido na Escola São Nicolau, localizada no Bronx, freqüentada em grande parte por descendentes de imigrantes católicos irlandeses. A paróquia liderada por um padre, que em sua pregação verbaliza temas refletivos, de forma tornar comunidade-escola, uma relação mais amigável. Amy Adams é a Irmã James e Meryl Streep é a assustadora e rigorosa Irmã Aloysius Beauvier. Ambas as mulheres vêem-se apanhados em uma história em que elas acreditam que o sacerdote, padre Brendan Flynn (Phillip Seymor Hoffman) é, de fato, um pedófilo, explorador de crianças. Mas até onde você pode viajar na busca da justiça sem provas? Tudo começa quando a Irmã James observa o padre transportando para uma reunião privada um novo aluno, o único negro da escola, que atua como coroinha nas missas, e depois coloca uma camisa suja de volta no seu armário. Ela conta o fato para a rigorosa Irmã Aloysius. Aí começa esgrima verbal entre Padre Flynn e Irmã Aloysius, magnificamente trazida para a vida pelas performances de Hoffman e Streep. “Dúvida” é um intelectual de jogo de gato e rato, não tanto com as emoções do público, mas com os seus processos de pensamento, e sentimento de crença. “Duvida” vai abaixo da superfície e analisa a ação sistêmica de questões que lhe permitia acontecer, a fé absoluta, o patriarcado da Igreja Católica e da inerente inferioridade da mulher religiosa na referida igreja. Para interação e intriga, o filme usa apena como efeitos especiais uma lâmpada que queima explodindo e um vento uivante nas janelas. Dúvida é um acentuado drama escrito sobre um único evento que se desenvolve em uma feroz luta pelo poder entre uma freira e um padre liberal. Nota: 9,0
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[…] Também não seria um ano de Oscar se não fôssemos confrontados com um grande retorno. Após uma série de filmes que não conseguiram chamar a atenção de ninguém, eis que a australiana Nicole Kidman resolve mostrar que sua verve como atriz continua vivíssima. Em “Rabbit Hole”, de John Cameron Mitchell, Kidman tem obtido as melhores críticas como atriz desde aquele seu “período de ouro” com “Moulin Rouge! – Amor em Vermelho”, “Os Outros” e “As Horas”. Não custa nada mencionar que o papel que Kidman interpreta neste filme rendeu um Tony para Cynthia Nixon – se bem que isso não ajudou Meryl Streep, por “Dúvida”… […]
[…] lembrar que, quando ela recebeu uma indicação ao Oscar pela primeira vez, em 2009, por “Dúvida“, em Atriz Coadjuvante, muita gente apostava que ela bancaria uma surpresa na premiação, […]