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Lendo – “Clarice na Cabeceira”

publicado em:21/07/10 1:10 AM por: Kamila Azevedo Livros

“(…) uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. E, sobretudo, nunca para se “ser”. Sobretudo nunca se deveria ser a coisa bonita. A uma coisa bonita faltava o gesto de dar. Nunca se devia ficar com uma coisa bonita, assim, como que guardada dentro do silêncio perfeito do coração”. (p. 227)

“Clarice na Cabeceira” parte de um viés um tanto interessante. Como diz a organizadora Teresa Montero (também responsável por “Correspondências”), o livro “é uma seleção afetiva de 22 contos de Clarice Lispector feita por leitores que se dedicam a criar “instantes de beleza” em seus trabalhos: são escritores, atrizes, cineastas, cantoras, críticos literários e jornalistas”. A cada escolha, temos o acompanhamento de um texto escrito pelo convidado do livro e eles nos mostram justamente o impacto que Clarice teve entre seus leitores e o por quê de ela ter se transformado na escritora de cabeceira favorita de muita gente.

Apesar de termos contos fortíssimos no livro, como “O Ovo e a Galinha”, que é uma das coisas mais geniais (e incompreensíveis, ao mesmo tempo) que eu já li na vida; “O Relatório da Coisa”, que nos fala sobre a importância de se viver o “é” (o tempo presente); “Evolução de uma Miopia”, que retrata alguém que achava que enxergava bem as coisas, quando, na realidade, tinha uma visão um tanto turva de tudo; e “É Para Lá que Eu Vou”, que mostra a certeza do caminho que se quer percorrer; alguns dos momentos mais inspirados de “Clarice na Cabeceira” vêm justamente dos textos que introduzem os contos escritos por Clarice Lispector, especialmente aqueles que foram escritos por Affonso Romano de Sant’anna, Beth Goulart e Letícia Spiller.

Durante a leitura de “Clarice na Cabeceira” é bom ter em mente duas afirmações famosas sobre a escritora. Uma que foi dita por ela mesma: “escrevi livros que fizeram muitas pessoas me amar de longe”. A segunda foi falada por um outro grande escritor da literatura brasileira, João Guimarães Rosa: “Clarice, eu não leio você para a literatura, mas para a vida”. Tudo que a gente lê nesta obra, especialmente, é um verdadeiro tributo a estas duas afirmações.

Clarice na Cabeceira (2009)
Organização: Teresa Montero
Editora: Rocco

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A última modificação foi feita em:outubro 21st, 2019 as 6:27 pm


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Comentários


Só pelo fato de se tratar da Clarice já vale a minha passagem por aqui… Esse eu confesso que ainda não li (me dizeram que tem um texto ótimo da Letícia Spiller nele!). O último da ucraniana-brasileira que eu li foi A Maçã no Escuro. E já faz tempo que eu não pego nada dela! Recomendo A Hora da Estrela, que inclusive virou especial na Rede Globo com o Lázaro Ramos e Carolina Dieckmann.

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Olha, Kamila, se eu lesse tanto quanto você provavelmente teria uma chance de escrever tão bem assim, rsrs.

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Roberto, eu elogiei este texto da Letícia Spiller na minha resenha. É excelente mesmo. “A Hora da Estrela” é o próximo a ser lido.

Reinaldo, este teu comentário me deixa totalmente honrada. 🙂 Não sei se sou merecedora dele. Beijos!

Vinícius, adoro ler! Leio um livro atrás do outro, mas confesso que não sei se isso me ajuda a escrever melhor… rsrsrsrsrs

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Adoro a incompreensão que O Ovo e a Galinha permite – é uma das genialidades da leitura, do que ele pretende. Ou não. Engraçado que a própria Lispector disse, em uma entrevista, que nem ela consegue entendê-lo como um todo, rs.

Sempre é bom ler teus posts de algo relacionado a “nossa” eterna escritora.

Bj!

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Me lembro de ter lido a algum tempo atrás, em outra obra de contos de Clarice Lispector, o conto “O ovo e a galinha” e bem… o conto todinho era uma coisa louca para mim. Acho que quem sabe, se eu lesse hoje, eu poderia compreendê-lo melhor… não sei.

E eu ando meio devagar com as minhas leituras, acredita que AINDA tou com o “Mundo de Sofia” aqui Kamila? PS3 chegou aqui e anda tomando muito da minha atenção, hahahaha.

Um dia, vê se me empresta sua coleção da Clarice para eu ler.

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Kamila, definitivamente foi seguir suas dicas, e pegar um livro da autora pra ler.

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Cristiano, e é sempre um prazer pra mim poder escrever textos sobre a Clarice. Adoro-a, como você bem sabe. Beijos!

Thyago, “O Ovo e a Galinha” é muito louco. Quando eu achava que o estava entendendo, vinha uma coisa que destruía tudo que eu estava achando. E não ande devagar com as leituras. Ler é MUITO bom!

Cleber, pegue mesmo!

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Eu,pelo menos, nunca conheci alguém com tamanha capacidade de sintetizar e discorrer sobre a obra de Clarice fora do meio literário… é fácil se deparar com neologismos e plágios inconsistentes quando se fala de autores tão proeminentes. Vc mostra, justamente, que é possível fugir desse lugar comum. Parabéns!
bjs

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Belíssimo o seu momento Clarice, amiga! Este também dei uma folheada esses dias e gostei do que li. Mas uma perguntinha: já ouviu falar de “Amor e Amizade – Crônicas para Jovens”, também da Clarice?

Beijos! 😉

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Reinaldo, obrigada pelos comentários de sempre! Você me deixa com vergonha, às vezes. 🙂 Beijos!

Mayara, ainda bem que vivo esse momento belo! E nunca ouvi falar desse livro que você citou. Vou correr atrás dele. Beijos!

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