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Direito de Amar

publicado em:3/09/10 11:29 PM por: Kamila Azevedo Cinema

Poucos filmes conseguem, mas “Direito de Amar” foi capaz disso na sua primeira cena. Baseado no livro de Christopher Isherwood, o roteiro escrito pelo estilista Tom Ford (na sua estreia no cinema) e por David Scearce define o seu personagem principal logo no seu início. O professor George Falconer (Colin Firth, em uma atuação merecidamente indicada ao Oscar 2010 de Melhor Ator) passa por uma profunda depressão, a ponto de ele não ter ânimo algum para passar os seus dias. 

Isso começou a acontecer a partir do instante em que George perdeu seu parceiro Jim (Matthew Goode), com quem ele se relacionava há 16 anos, em um acidente de carro. Em 1962, época em que “Direito de Amar” se passa, ter um relacionamento gay – mesmo que aberto – ainda era uma coisa que era escondida por debaixo dos panos e, por causa disso, não foi permitido a George sentir o luto pela perda de seu grande amor. Ou seja, o personagem principal do filme nunca teve a chance de ter um fechamento adequado para essa história e o sentimento e a mágoa que ele tem por Jim e por tudo que acabou acontecendo com eles é uma sombra que paira sobre George por toda a duração de “Direito de Amar”. 

Um dos elementos mais interessantes desta obra é a maneira como ela fala sobre o tempo. George vive na nostalgia de um passado que não vai voltar e se abstraiu completamente do presente, a ponto de não conseguir enxergar um futuro para si mesmo. Curiosamente, as pessoas com as quais ele estabelece um relacionamento mais próximo em “Direito de Amar”, Charley (Julianne Moore) e Kenny (Nicholas Hoult, o, agora, crescido ator de “Um Grande Garoto”), também possuem este senso ou de nostalgia ou da falta de planos para o que vem pela frente. 

Por isso, talvez, “Direito de Amar” tenha me lembrado tanto “As Horas”. O filme dirigido por Stephen Daldry tem quase a mesma temática que este de Tom Ford. Ambas as obras possuem este relacionamento estreito com o tempo, com a depressão e com a vontade de pôr um fim ao sofrimento. George, de certa maneira, seria uma Laura Brown versão masculina, porque os dois sabem muito bem o papel que têm que interpretar diariamente para aqueles que eles conhecem. Além do fato de os dois se depararem com um momento de escolha, em que se decide entre aquilo que representa a vida e aquilo que representa a morte. 

“Direito de Amar” é uma obra muito densa e bonita. Chega até a ser surpreendente que este tenha sido o material escolhido por um diretor/roteirista estreante, mas Tom Ford demonstra que tem um enorme potencial. Seu primeiro filme é um longa totalmente estilizado, com elementos estéticos que chegam a ser muito bonitos – algo esperado, uma vez que Ford trabalhou a vida inteira com elementos visuais. Mas, talvez, o mais belo deles, além da atuação visceral de Colin Firth, seja a trilha sonora de Abel Korzeniowski, que prova ser um discípulo fiel do magnífico Philip Glass, e foi, injustamente, esnobado pelo Oscar 2010 da categoria. 

Cotação: 10,0

Direito de Amar (A Single Man, 2009)
Direção: Tom Ford
Roteiro: Tom Ford e David Scearce (com base no livro de Christopher Isherwood)
Elenco: Colin Firth, Julianne Moore, Nicholas Hoult, Matthew Goode, Ginnifer Goodwin, Keri Lynn Pratt



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Comentários


Simplesmente um dos melhores filmes do ano. Uma obra profunda e tocante sobre o amor. Ótima resenha.

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Belo texto mesmo, para um belo filme. E interessante sua comparação com As Horas.

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Leo, obrigada!

Amanda, obrigada! E eu olhava pro George, me lembrava da Laura Brown.E eu assistia ao filme e me lembrava de “As Horas”.

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Eu simplesmente adoro “Direito de Amar”, o filme é incrível e muito “tocante”. Colin Firth esteve ótimo e Julianne Moore esplêndida!
Colin, merecia o Oscar. Com certeza!

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Acabo de assistir ao filme e me deparo com esse belo texto. E gostei da comparação a “As Horas”. Por enquanto digo: filmaço! rsrsrs.

Beijos e tenha um ótimo fim de semana! 😉

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Leandro, eu fico muito feliz de ter tido a chance de conferir esta magnífica obra!

Raspante, como ainda não vi a performance de Jeff Bridges, não entro no mérito da vitória dele ainda, mas a atuação do Colin Firth aqui está sensacional!

Mayara, filmaço mesmo! Beijos e ótimo fim de semana!

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Belo texto, Kamila! Parabéns! Na verdade, estou com o filme aqui em casa, mas não acabei de ver. Até agora estou gostando. Vi cerca de uma hora. E o Colin Firth está ótimo mesmo. Vou ver se termino neste fim de semana!

Bjs!

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Bela crítica Ka.Compartilho plenamente de seu entusiasmo com a fita. Uma estupenda estréia de Ford na direção e, como já havia dito, Firth e Clooney (nessa ordem) eram os melhores no Oscar deste ano.
bjs

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Não gostei não. Não senti a profundidade que a maioria parece ter sentido. Nota 10 só para o trio: Fotografia, Trilha e Firth. Eu votava no Jeff Bridges. rs
Bjs Kams Bom final de Semana

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Otavio, obrigada! Termine logo de assistir ao filme. Beijos!

Reinaldo, obrigada! Eu não gosto da atuação do Clooney, em “Amor sem Escalas”. Beijos!

John, eu ainda preciso ver o Jeff Bridges. 🙂 Beijos e bom final de semana!

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Uma obra-prima. Fiquei apaixonado pelo filme, uma ótima estréia na direção, uma fotografia maravilhosa que vai mudando de tom conforme os sentimentos dos personagens, uma atuação fenomenal de Colin Firth, trilha sonora arrebatadora, Juliane em pouco tempo de filme, se mostra muito competente. Um filmaço!

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Nas categorias de atuação essa foi a maior injustiça da decada.Um absurdo o que fizeram com Colin Firth.Pelo amor de deus se querem dar um oscar pelo conjunto da obra para o Jeff Bridges arruma outro ano pra isso.

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Concordo com tudo o que escreveu – Direito de Amar é mesmo uma obra muito boa e é mesmo fácil relacioná-la com As Horas. Adorei o que escreveu, adorei mesmo.

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Cleber, obra-prima mesmo! Me apaixonei pelo filme também!

Paulo, como eu disse antes, ainda tenho conferir a atuação do Jeff Bridges.

Luís, muito obrigada!

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Está na minha lista de prioridades. Só não vi ainda porque estou imerso na filmografia do Cassavetes que me emprestaram essa semana. E, claro, tem a Julianne Moore. Imperdível!

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Tenho certo receio ao discuti a obra, uma vez que – diferente de todos, infelizmente – não me senti envolvido com a história. Acho que os aspectos técnicos deram uma maquiada desnecessária em algumas partes e que a trilha (como foi bem lembrada por você) me contagiava mais do que a trama em si. Não sei, quem sabe numa segunda avaliada eu realmente desperte para o que o filme se proprõe. Só não posso negar o fato do Colin está em seu melhor papel.

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Luís, eu me envolvi demais com a trama do filme, ao contrário de você. Assista de novo, quem sabe você não muda de opinião. 🙂

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Oi, Kamila! Você conferiu esta obra em cinema ou dvd?

Onde é que você mora?

Reparei que conferiu “Piaf – Um Hino ao Amor”.
Você irá resenha-lo?

Você já assistiu “ABC do Amor”?
Se não assistiu, sugiro que assista primeiro a versão dublada.
Se fizer isso, entenderá porquê.

Beijos!!

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Fernando, conferi no cinema. Moro em Natal. “Piaf” foi resenhado no meu antigo blog. E nunca assisti “ABC do Amor” e confesso que não sei porquê tenho que assistir a este filme dublado, primeiro. Pode me explicar?? Beijos!

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Gostei do tom de seu texto, analisou bem o filme, detalhou pontos gerais, você sentiu muita coisa Kamila, interessante teu paralelo com As Horas – curiosamente, eu também fiz esse elo quando vi Direito de amar. Comentei até com minha mãe e dois amigos. Bem verdade, antes de ver este filme, nem esperava tanto dele, sério mesmo…até demorei de vê-lo em função disso. Ainda que goste dos trabalhos de Colin Firth.

A maneira de colocar o personagem mais intimo do publico – com a narrativa em off, a trilha bela de Abel Korzeniowski pontuando suas emoções e, principalmente, o recurso técnico visual da linda fotografia (como você disse no post) são pontos perfeitos no filme – o uso das cores fortes, densas, quando representam algumas sensações de George é incrível de se ver…

E é um filme que fala apenas de um homem que sente a perde de outro…de seu grande amor…um ser homossexual, sim…mas, o filme nem é panfletário…

Eu gostei muito deste filme!
Primoroso! Triste!

Sou mais um que acho que o Firth merecia o Oscar e tenho dito! A trilha, de fato, merecia indicação e acho que tinha pontos positivos pra vencer.

Beijo!

Perdão a ausencia, estava viajando.

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Cristiano, obrigada! Seu comentário está lindo. E não se preocupe em relação à ausência. Beijo!

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[…] como Tom Ford trabalhou com a linguagem cinematográfica em sua estreia como diretor, no filme “Direito de Amar”. Ou seja, o que queremos dizer é que Madonna faz de seu longa uma obra sofisticada e sensível, […]

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