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Tropa de Elite 2

publicado em:25/10/10 9:47 PM por: Kamila Azevedo Cinema

Último grande fenômeno do cinema brasileiro, “Tropa de Elite” cumpriu muito bem um dos propósitos da sétima arte: ajudar-nos a compreender a sociedade na qual estamos inseridos. No protagonismo da trama deste filme, um anti-heroi que virou uma personalidade admirada em todo o país: o Capitão Roberto Nascimento (Wagner Moura), policial por instinto e vocação, militar e líder do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), que fez de sua missão profissional o trabalho duro contra todo um sistema podre. O primeiro filme chamou a atenção por esfregar na cara do brasileiro toda uma parcela de culpa que nós também temos por sermos coniventes com todo um sistema de corrupção e de violência. Padilha mostra que é uma hipocrisia total de todos nós querermos exigir a limpeza, quando nós mesmos varremos as nossas sujeiras para debaixo do tapete, na primeira oportunidade que temos.

A continuação “Tropa de Elite 2”, que reúne novamente grande parte dos profissionais que trabalhou no primeiro filme, possui uma ambição ainda maior. Sua trama, que se passa nos dias atuais, coloca o, agora, Tenente-Coronel Nascimento num posto graduado da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro, trabalhando diretamente com toda a Inteligência da Polícia Militar carioca, em uma storyline contra um novo – e poderoso – inimigo: os líderes das milícias (organizações criminosas formada por militares que atuam com a concordância de lideranças comunitárias, bem como autoridades civis, militares e políticas) que controlam as favelas do Rio de Janeiro através do uso excessivo de violência e da exigência de pagamentos de taxas abusivas em cima de serviços básicos para cada cidadão (como contratação de TV a cabo, venda de gás de cozinha, vendas de passagens para vans de transporte, etc.) que vêm em troca de uma proteção que, como o filme bem mostra, não existe – uma vez que o clima destes locais é de puro medo.

Em segundo plano, temos, novamente, a abordagem de uma trama que nos mostra o lado mais humano de Roberto Nascimento. Separado de Rosane (Maria Ribeiro) e com um relacionamento delicado com o único filho Rafael (Pedro Van Held), Nascimento, agora, nem tem mais aquela pessoa com quem desabafar e descontar tudo aquilo que ele passa dentro de seu ambiente profissional. Talvez, por isso mesmo, na ótima composição de personagem feita por Wagner Moura, se tenha o destaque aos cabelos brancos e à aparência apática de Nascimento. Também afastado do pupilo André Mathias (André Ramiro), por causa das consequências dos atos que acabaram levando-o ao emprego na Secretaria de Segurança Pública, Nascimento encontra um aliado na pessoa que ele menos esperava: o defensor de Direitos Humanos, Deputado Estadual e – vejam só – atual marido de sua ex-mulher, Diogo Fraga (Irandhir Santos, excelente), que vai ser o cara a mostrar para Nascimento que ele vem lutando, o tempo inteiro, contra o inimigo errado.

A verdade é que, em boa parte dos seus 115 minutos de duração, “Tropa de Elite 2” faz uma grande contextualização geral em preparação àquele que é um dos atos mais corajosos, contundentes e analíticos de um cenário social e político já vistos no cinema nacional. Na terceira parte do filme, a que conclui toda a nossa história, José Padilha e o roteiro que ele escreveu em parceria com Bráulio Mantovani nos revelam que o buraco é mais embaixo. É como se Padilha estivesse fazendo a introdução para aquele que é seu próximo projeto, “Nunca Antes na História Deste País”, drama de ficção sobre o maior escândalo político do governo Lula: o mensalão. A cena que antecede o momento final de “Tropa de Elite 2”, com um panorama aéreo sobre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional, com a narração em off de Wagner Moura ao fundo, é muito metafórica neste sentido. Além disso, temos o instante derradeiro deste próprio filme, mostrando Roberto Nascimento em paz. É como se Padilha estivesse nos dizendo: “hora de fechar este capítulo, de deixar o anti-heroi descansar e vamos correr atrás dos peixes grandes”. Então, que venha seu novo projeto! Estamos aguardando!

Cotação: 9,5

Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro (Elite Squad 2, 2010)
Direção: José Padilha
Roteiro: José Padilha e Bráulio Mantovani (com base na obra de Luiz Eduardo Soares, Rodrigo Pimentel, Cláudio Ferraz e André Batista)
Elenco: Wagner Moura, Irandhir Santos, André Ramiro, Maria Ribeiro, Milhem Cortaz, Pedro Van Held, Tainá Muller, Seu Jorge, André Mattos, Emílio Orciollo Netto



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Comentários


Adorei o texto. Estou muito ansioso para conferir. Tentarei fazer isto esta semana.

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Merecia uma nota 10 ein Kamila?rss.Sou fã desse filme e ele tem tudo que um filme de alto nível precisa.Um grande protagonista(Wagner Moura,soberbo!),coadjuvantes de qualidade(André Mattos,Sandro Rocha,Irandhir Santos,Milhem Cortez…não sei qual é o melhor),parte técnica que se equipara ao grandes filme de Hollywood(que editor é Daniel Rezende!,Lula Carvalho então nem se fala,aprendeu a fotografar com o pai Walter Carvalho)e o roteiro do sempre brilhante Bráulio Mantovani que escreveu os melhores filmes brasileiros da última decada(Cidade de Deus,O Ano em Que Meus pais saíram de férias e Tropa de Elite,só faltou ele roteirizar Central do Brasil rss).Cinema de qualidade é isso.É uma forma de registro da sociedade.Sou fã do cinema brasileiro e Tropa de Elite 2 é o melhor filme do ano(na minha humilde opinião).Beijos e sua critica esta completa.Só faltou um 10 rss…

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Kamila,Tropa de Elite 2 não é baseado no livro Elite da Tropa.Nos extras do 1°filme José Padilha revela isso,ele até diz que ouve uma certa confusão porque ambos foram lançados no mesmo periodo.Tropa de Elite 2 é roteiro original,tem uma entrevista sensacional com o Bráulio Mantovani no Youtube(uma que esta em 7 partes)que ele conta uma história sensacional da montagem final do filme.O protagonista era André Ramiro.Wagner Moura era o coadjuvante.Baixa no youtube que você vai gostar,esta na parte 5 do video.A internet tem tantas informações que ficamos confusos.Beijos.

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Wally, faça mesmo!

Paulo, não acho que merecia uma nota 10, uma vez que o filme só se transformou naquilo que eu queria que ele fosse no ato final. Concordo que temos um grande protagonista, coadjuvantes de qualidade, uma ótima parte técnica e um roteiro legal. É cinema de qualidade, sim, e um filme que vai ficar aí na nossa história do cinema brasileiro. Beijos!

Paulo, nos créditos do filme, até no IMDB, existem os créditos ao livro. Então, não sei muito bem no que crer. rsrsrsrsrsrs Mas, vou ver os vídeos para chegar a uma conclusão! 🙂 Beijos!

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Kamila, sai do cinema ao mesmo tempo maravilhado e revoltado por entender que aquilo não é ficção e sim a mais pura verdade, o que, de fato, é uma pena. Acho que gostei mais ainda desse filme por entender que sua crítica foi bem mais ferrenha e direcionada, o que o torna ainda mais brilhante. Pensei em dar 9,5 porém cheguei a conclusão que deveria dar um 10 porque o filme preencheu todas as lacunas nas quais eu poderia criticar negativamente.

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Siim… eu li Elite da Tropa e de fato, como Paulo Ricardo falou, o segundo filme tem roteiro original, em nada é baseado no primeiro.

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O que você acha da atuação do Sandro Rocha?

Beijos

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Robson, ok! Obrigada por esclarecer a questão do roteiro. Mas, como eu disse, se formos ler a ficha técnica, tem os créditos ao livro. Vai entender.

Brenno, não sei quem é Sandro Rocha, sinceramente. Beijos!

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Também gostei muito do filme e a forma como Padilha desnudou seu anti-herói. Interessante essa sua análise final sobre o que pode vir por aí. Tomara que ele nos surpreenda, porque já vi rumores de um Tropa de Elite 3, que acho que seria uma fórmula desgastada.

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Vou conferir, ainda! Mas, seu texto vai de encontro às minhas impressões do filme…mesmo sem vê-lo! rs

Beijo!

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Amanda, de acordo com o próprio Padilha, seu próximo projeto é esse drama de ficção sobre o mensalão. Ele está, inclusive, em fase de captação de recursos para o filme.

Cristiano, que bom! 🙂 Beijo!

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Sem dúvida! Concordo com tudo! Inclusive com o final do texto, sobre a paz encontrada por Nascimento. É como se Padilha colocasse seu protagonista pra descansar à espera de um provável “Tropa 3”. Aliás, faltou atacar o setor privado. Ainda há pano pra manga. Um grande filme!

Bjs!

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Reinaldo, é um grande filme, na minha opinião, e tão bom quanto o primeiro. Beijos!

Otavio, ainda há mesmo um pano pra manga. Mas, eu prefiro que ele se dedique agora a este “Nunca Antes na História Deste País”. Obrigada! Beijos!

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José Padilha é o cara do ano no cinema nacional.O cinema brasileiro precisva de um cineasta provocador,que não tem medo de colocar o dedo na ferida e retrata tudo que ocorre de podre na sociedade brasileira.Veja os anos 80.Bruno Barreto dormia abraçado com os livros do Jorge Amado e o brasil passava por um periodo turbulento,Arnaldo Jabor fazia filmes para ele ver e as salas de cinema estava aborrotada de filmes da Xuxa e os dos Trapalhões(se bem que Didi e sua turma produziram alguns bons filmes nessa periodo).E tem um segmento de diretores que seguem 2 linhas:os que fazem filmes para si próprio e os que fazem cinema com “cara de TV”.Nada contra.Apenas acho que se tem verba pública o dinheiro tem que retornar em bilheteria.Detesto os filmes do Daniel Filho,mas tenho que baixar guarda pra ele e reconhecer que o cara é o rei das bilheterias no Brasil.Todo filme dele passa dos milhões.Daniel Filho e Guel Arraes vieram da televisão(mas propriamente da Rede Globo)mas se os criticos não gostam de seus filmes(inclusive eu)eles tem retorno na bilheteria.E tem os cineastas que acham que moram na França,na itália e que faz filme para revista Cahiers du Cinema.Daniela Thomas com Insolação é uma prova disso,Beto Brant depois de O Invasor nunca mais fez um filme que preste(Cão Sem Dono é muito fraco),Andrucha Waddington tem mania de grandiosidade(Casa de Areia queria ser um épico e naufragou).E tem outros cineastas que gosto muito que fazem cinema autoral de qualidade.Jorge Furtado(junto com Mantovani é o melhor roteirista do Brasil),Cláudio Assis e Hector Babenco.Provavelmente devo estar esquecendo vários outros cineastas de qualidade.E agora finalmente chego a parte relacionada ao post.Diretores que fazem cinema que retrata algum periodo da história do nosso país.Walter Salles nos ofereceu uma obra prima chamada Central do Brasil que colocou nosso cinema no mapa mundial e nos levou juntamente com Dora e Josúe para o coração do Brasil.Um road movie que instantaneamente virou clássico(pelo menos pra mim).Cidade de Deus,não precisa dizer muito.Como o tráfico de drogas nasceu no rio sob o olhar de Fernando Meirelles.E agora José Padilha que coloca todas as mazelas do estado do rio(corrupção,governantes envolvidos em milicia,mal preparado da policia).Onibus 174,Tropa de Elite 1 e Tropa de Elite 2-O Inimigo Agora é outro é o retrato do caos social que o Rio de Janeiro chegou.Se nos EUA eles tem Michael Moore,no Brasil temos José Padilha.Beijos Kamila.

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Como o Paulo comentou, se um dia tivemos Walter Salles ou Fernando Meirelles, hoje nos temos José Padilha. Não se pode negar que ele é o maior diretor brasileiro da atualidade. Ao meu ver Tropa de Elite 2 é o melhor filme de 2010 até agora. É de dar orgulho ver um filme nacional que preenche todos os espaços que os filme nacionais gostam de deixar. O roteiro é ótimo assim como a edição e fotografia O Wagner está completo em mais uma atuação apoiada brilhantemente pelo elenco coadjuvante.

O texto está ótimo como sempre Kamila, Parabéns.

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Otavio, esperamos que seja genial! Beijos!

Paulo, concordo com tudo que você disse sobre Padilha e diria mais: acho que ele é nosso melhor cineasta, atualmente. Ele não tem o rabo preso e faz histórias sem medo de criticar quem tem que ser criticado. Beijos! Só não acho condizente compará-lo com Michael Moore, que é um aparício, diferentemente do Padilha! rsrsrsr

Jonathan, concordo que ele é o maior diretor brasileiro da atualidade. Só não acho “Tropa de Elite 2” o melhor filme do ano, até agora. Mas, é muito bom ver que obras desse porte e qualidade são produzidas aqui! Obrigada!

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Amei o texto, me despertou mais a curiosidade. E acho interessante a premissa dessa sequência. Estou para arrumar um tempo para assistir este filme. Muito curiosa!

Beijos! 😉

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Mayara, obrigada! Espero que arrume logo tempo para assistir a este filme. Beijos!

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eu assisti esse filme no sáb que antecede as eleiçoes com um amiogo. quanto terminou eu lhe disse quando vc me pediu voto para aquele cara porque ele lhe deu um emprego eu estou contribuindo para isso. então ele me olho bem sério e me falou: tá bom, vc tá certo… eu agi errado, mas em quem vc vai votar amanhã para presidente? me dê um nome que eu estou contigo. fiquei calado.

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Alguma chance dele concorrer ao Oscar (não como melhor filme de língua estrangeira, mas sim à outras categorias)?

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Fulando de Tal, pois é…

Luciano, acho que o “3” ainda demorará a rolar.

JM, se for lançado fora do Brasil, e obter repercussão suficiente, claro que tem chances de ser indicado ao Oscar.

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[…] “Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro” pode ter ficado de fora da categoria de Melhor Filme Estrangeiro, no Oscar 2012, mas o Brasil ainda se fará presente na cerimônia que acontecerá no dia 26 de fevereiro. A canção “Real in Rio”, composta por Siedah Garrett, Carlinhos Brown e Sergio Mendes, é uma das duas canções originais indicadas na categoria em 2012. Por mais que seja uma canção que reforça todos aqueles estereótipos normalmente ligados ao nosso país (carnaval, samba, ritmo, alegria, sol, praias, entre outros), não há dúvida de que é uma das melhores músicas que a animação possui. […]

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