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Lendo – “Bilionários por Acaso”

publicado em:18/02/11 2:21 AM por: Kamila Azevedo Livros

“Sean Parker tinha que sair. Como Eduardo, como os Winklevoss, como qualquer um que se tornou uma ameaça – não importasse o motivo -, a situação tinha de ser resolvida, pois, em última instância, o Facebook era a única coisa que importava. Era a criação de Mark Zuckerberg, seu bebê, e havia se tornado a sua razão de viver. No começo, talvez tivesse sido algo simplesmente divertido, algo interessante. Outro jogo, um brinquedo, como a versão de Risk que ele havia construído no colégio, ou o Facemash, a proeza que quase lhe custou a expulsão de Harvard.

Mas agora, estava claro, o Facebook era a extensão do único amor verdadeiro da vida de Mark – o computador, aquela tela brilhando em frente ao seu rosto. E assim como o computador pessoal que o ídolo de Mark, Bill Gates, dera à humanidade por meio de seu software inovador, o Facebook era uma revolução capaz de mudar o mundo, criando um livre canal de informação entre redes sociais que o digitalizaria de um modo que ninguém jamais concebera.

Mark não deixaria nada, nem ninguém, ficar no caminho do Facebook.” (p.222)

Não me lembro com certeza onde, mas uma vez eu li uma frase que dizia que uma boa adaptação cinematográfica é aquela que respeita as particularidades das linguagens utilizadas no meio literário e do meio cinematográfico e oferece a sua própria interpretação sobre a obra escrita. Em resumo, uma boa adaptação cinematográfica é aquela que mantém a essência, mas oferece um algo mais, oferece uma visão diferente sobre aquele mesmo tema. Após a leitura da obra “Bilionários por Acaso – A Criação do Facebook”, de Ben Mezrich, chegamos à constatação de que o trabalho de adaptação feito por Aaron Sorkin para o filme “A Rede Social” vai totalmente de encontro ao conceito de boa adaptação cinematográfica.

O roteiro concebido por Aaron Sorkin pega a base utilizada por Ben Mezrich (“uma narrativa dramática baseada em dúzias de entrevistas, centenas de fontes e milhares de páginas de documentos, incluindo registros de algumas ações judiciais”) e transforma “A Rede Social” num filme de tribunal, sem ser de tribunal, uma vez que acompanhamos os processos judiciais promovidos por Eduardo Saverin e os irmãos Tyler e Cameron Winklevoss contra a figura de Mark Zuckerberg, de forma a construirmos o verdadeiro caráter deste que é o criador de uma das empresas mais influentes da Internet, o site de rede social Facebook.

O livro escrito por Ben Mezrich também se interessa pelas pessoas envolvidas nesta história (está registrado, inclusive, nos agradecimentos da obra, o quanto que o autor ficou deslumbrado com a genialidade de Mark, Eduardo, Tyler e Cameron), mas o grande cerne da obra está em tentar desvendar os meandros por trás de um relato do momento de criação e de expansão de uma ideia que, se não era original, deu um passo completamente adiante na forma como as pessoas passaram a se relacionar no mundo virtual. Afinal, não é exagero algum dizer que o Facebook transferiu o círculo social de seus usuários da vida real para a Internet.

Ao contrário do filme, em que a figura de Mark Zuckerberg polariza todos os relatos, em “Bilionários por Acaso”, o CEO do Facebook divide os holofotes com outras três figuras: os já citados Eduardo Saverin e os gêmeos Tyler e Cameron Winklevoss e o jovem visionário Sean Parker (foi graças aos contatos dele que o Facebook deixou de ser uma empresa universitária e passou a ser uma grande corporação que vale bilhões de dólares). Um lado positivo do relato (gostoso de se ler, diga-se de passagem) de Ben Mezrich é que ele nos mostra que todos esses jovens empreendedores aprenderam as particularidades do mundo dos negócios ao fazerem, ao errarem, ao darem a cara a bater.

Porém, o aspecto mais positivo do livro é o fato de que ele mostra o outro lado da interpretação feita por Aaron Sorkin para o filme “A Rede Social”. De acordo com o roteirista, em uma cena que se torna até emblemática do filme dirigido por David Fincher, Mark Zuckerberg é um cara que não é idiota, mas somente alguém que se esforça tanto para parecer isso e não quer deixar margem para uma imagem contrária. Para Ben Mezrich, o buraco é mais embaixo e está totalmente relacionado à citação que fizemos no início de nosso texto. Mark e todos aqueles que se envolveram com ele antes, durante e depois da criação do Facebook ganharam a plena consciência de que, nas palavras de Mezrich, “não era a amizade que estava em questão. Eram negócios. Simplesmente negócios”. Em uma visão até muito simplista, para o autor de “Bilionários por Acaso”, todos os atos de Mark Zuckerberg (até mesmo a mais profunda traição contra aquele que era seu melhor amigo) estão ligados àquilo que seria, na mente dele, mais correto para a sua empresa, quer os outros aceitem isso, ou não…

Bilionários por Acaso – A Criação do Facebook: Uma História de Sexo, Dinheiro, Genialidade e Traição (2009)
Autor: Ben Mezrich
Editora: Intrínseca

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A última modificação foi feita em:outubro 21st, 2019 as 6:21 pm


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Comentários


Interessante sua análise, concordo que o livro é muito mais amplo que o filme e todas as conclusões que ele dá. Mas, não sei até que ponto isso seja um erro de adaptação, porque o filme é baseado no livro com a intenção de contar a história do facebook de uma forma romanceada, é diferente de uma adaptação literária. O livro é investigativo, jornalistico, sobre um fato, o filme cria uma trama mais narrativa e sempre há uma licença poética nesses casos.

Ainda assim, volto a afirmar que achei bem interessante sua análise do livro.

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Fiquei curioso em ler o livro.O maior traído na minha opinião(baseado no filme claro)foi Eduardo Saverin.Estou em falta com a literatura,mas esse livro é uma grande indicação.Beijos e bom final de semana.

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LOL! No dia no lançamento desse livro, eu estava na porta da Saraiva as 9 da manhã para comprar o livro, entrei eufórico na loja, e perguntei sobre o livro – tinham, mas, não tinha nem saido das caixas e ido as prateleiras ainda. Eu disse ao vendedor: Não tem problema, eu espero você pegar um livro, pois, quero ele agora! E não me arrependi, pois o livro é sensacional, alguns detalhes interessantes foram deixados de fora, o humor do livro e todas as situações. Foi um livro que li com gosto, entusiasmo, cheio de vontade! Adorei! Mais do que o próprio filme.

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Amanda, não digo que é um erro de adaptação, até porque não dá para comparar livro e filme por causa das particularidades de cada linguagem. Obrigada!

Paulo, que bom! Concordo que Saverin foi o mais traído, mas o livro mostra que ele tem certa culpa no cartório, mas nada que justifique o que Mark fez com ele. Beijos e bom final de semana!

Cleber, eu concordo que o livro é ótimo,mas discordo sobre o filme, que é tão bom quanto a obra literária na qual está baseada.

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Kamila, leia agora “O Efeito Facebook – Os Bastidores da História da Empresa que Conecta o Mundo”, de David Kirkpatrick. É a resposta de Mark Zuckerberg.

Bjs!

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Sem querer puxar a sardinha para o meu lado, mas já puxando, eu digo há muito tempo e já escrevi em vários artigos lá no blog esse entendimento sobre adaptação cinematográfica que vc menciona no teu texto.
Bem, não acho que o roteiro do Sorkin seja tão divorciado assim do livro. Os focos são diferentes. Digamos assim…
Beijos

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Cassiano, concordo contigo!

Otavio, vi esse livro na Siciliano, quase o comprava. Com sua recomendação, vou voltar lá para pegar meu exemplar. Beijos!

Reinaldo, pois é, eu também penso assim sobre adaptações cinematográficas. 🙂 E os focos, são, sim, diferentes, o que não quer dizer que um seja melhor que o outro. Os dois têm ótimas qualidades. Beijos!

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Começei a ler, estou no terceiro capítulo e gostando muito. Gostei dos pontos de vista nele, mesmo não tendo a colaboração do Zuckerberg.

Beijos! 😉

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O livro que empreendedores deveriam ler. De fato, os atos do Mark foram para um ‘bem maior’ (filosofia bem maquiavélica, porém aplicável em longa escala nas teorias da administração).

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Acho o livro fantástico, simplesmente devorei. Realmente, A Rede Social é definição de boa adaptação cinematográfica e merece o Oscar de roteiro adaptado. Acho que prefiro o livro, mesmo ambos tendo suas diferente peculiaridades. O techo que você escolheu cria muitas teorias pessoais sobre a personalidade de Mark. Engraçado que no filme eu sinto antipatia por ele e no livro eu até o entendo. É bem interessante conhecer a obra literária e a cinematográfica, pois as visões se tornarão bem mais amplas. Belo texto, Kamila. Beijos

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Fael, eu devorei também. Concordo que merece o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. Gosto de ambas as obras, pelas visões diferentes que mostram. Obrigada! Beijos!

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