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Bravura Indômita

publicado em:3/03/11 12:19 AM por: Kamila Azevedo Cinema

Muito se tem falado por aí que “Bravura Indômita”, filme dirigido e escrito pelos irmãos Joel e Ethan Coen, seria uma refilmagem do clássico do western homônimo de 1969 do diretor Henry Hathaway, que rendeu o único Oscar de Melhor Ator conquistado pelo famoso astro John Wayne, que é um ícone deste gênero cinematográfico. Entretanto, a verdade é que o filme que assistimos hoje é uma nova versão do livro de Charles Portis, na medida em que os irmãos Coen deram a sua própria interpretação à história que o escritor criou.

Mattie Ross (a indicada ao Oscar 2011 de Melhor Atriz Coadjuvante Hailee Steinfeld) pode ter somente 14 anos, mas desde o primeiro momento em que ela aparece em tela, você sabe que ela não é aquele tipo que é facilmente enganado. Ela é uma jovem decidida, inteligente e que tem um poder enorme, não só de negociação, como também de persuasão. Pode até ser espantoso que seja ela a enviada pela família a pegar o corpo do pai assassinado em outra cidade, mas você ganha a certeza de que ela é a pessoa certa para isso, você sabe que é ela que passará a ser o esteio de sua família, agora que todos estão sem o patriarca.

Tenha certeza também de que o espanto diante das qualidades de Mattie Ross não será somente nosso. A jovem consegue deixar para trás muita gente mais experiente que ela, de forma a conseguir aquilo que ela deseja: ir ao encalço de Tom Chaney (Josh Brolin), homem responsável pela morte de seu pai. Ao usar sua capacidade de negociação e de persuasão, Mattie consegue cavalos com o Col. Stonehill (Dakin Matthews) e convence o pistoleiro beberrão e caolho Rooster Cogburn (o indicado ao Oscar 2011 de Melhor Ator Jeff Bridges) a embarcar nesta jornada com ela – tendo como convidado inesperado o Texas Ranger LaBeouf (Matt Damon), que também tem muito interesse na captura de Chaney.

O roteiro escrito por Joel e Ethan Coen se baseia muito no relacionamento que passará a ser construído entre Mattie, Rooster e LaBeouf, bem como na estranha aliança que se desenha entre eles. Interessante perceber que o que importa para o filme é justamente a questão da descoberta dos valores destes personagens. Se Mattie revela uma perspicácia e uma coragem que não são comuns a uma menina da idade delas; Rooster se mostra um homem fiel aos seus princípios, mas extremamente confiável e LaBeouf indica ser um rapaz de uma intuição ímpar – ele também é alguém com quem se pode contar.

O gênero do western é um tanto complicado. Ele se apoia em alguns elementos que são inerentes a ele, como a solidão, a ideia de perigo iminente, o uso da violência como forma de garantir a própria segurança, as longas viagens, o uso de paisagens abertas (o que favorece demais a linda fotografia de Roger Deakins), a moralidade bem definida, os conflitos entre colonizadores e indígenas, entre outros. É aquele tipo de filme que possui um tempo próprio para seu desenvolvimento e que não tem pressa para que as coisas aconteçam. O trunfo da versão dos Coen para “Bravura Indômita” é que, neste filme, todos os sentimentos (até aqueles mais emocionantes e que nos são evocados por ocasião do lindo ato final da obra) são experimentados por completo – mas, isso não nos impede de verificar que o roteiro, especialmente na passagem do primeiro para o segundo ato, poderia ter sido melhor trabalhado.

Cotação: 8,5

Bravura Indômita (True Grit, 2010)
Direção: Joel e Ethan Coen
Roteiro: Joel e Ethan Coen (com base no livro de Charles Portis)
Elenco: Jeff Bridges, Hailee Steinfeld, Matt Damon, Josh Brolin, Barry Pepper, Dakin Matthews



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Comentários


Interessante esse filme, eu confesso que deixei pra ver no telão – mas, não esperava que fosse gostar tanto. Sim, gostei bastante!

Na verdade, grande parte, ao meu ver, do fascínio que esse filme exala é por conta da inspirada atuação de Hailee Steinfeld. Um absurdo a Academia indicá-la como coadjuvante, visto que seu personagem tem função de Atriz principal, sabemos disso. Mas, enfim, ela que merece o Oscar, e não Melissa Leo. Mas, não venceu…de qualquer forma, vai ser mais indicada, tem tudo pra crescer. A menina nos hipnotiza em cena.

De fato, eu já havia dito isso até no meu twitter, Jeff Bridges está soberbo e muito melhor que Colin Firth por “O Discurso do Rei” (ok, não desmereço nenhum dos concorrentes, pois a categoria está forte esse ano), mas sejamos sincero: seu papel aqui é mais denso e complexo que o do “Coração Louco”, hein? Mas, não será premiado não. Ainda assim, é uma personificação marcante! E, ao meu ver, ele está melhor que John Wayne da primeira vesão. Na realidade, eu nem gosto do filme original. E nem vejo esse como um remake, mas é.

Josh Brolin, mesmo que em tão pouco tempo em cena, consegue mostrar que é um ator mais maduro. Gostei de Damon também, mas o filme é de Hailee e Brigdes!

Beijo

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Cristiano, eu gostei mais do ato final do que do filme em si. Eu concordo que a Hailee está muito inspirada e que ela é o coração desse filme. Acredito até que ela perdeu o Oscar por causa dessa confusão de categorias, o que foi uma pena. Eu discordo que Jeff Bridges merecia mais que o Colin Firth. Beijo!

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Cristiano, não é à tôa que você acha Jeff melhor que Wayne. Ele ganhou um Oscar não-merecido, por homenagem à carreira (tipo o Pacino em 1992). è consierado uma das piores vitóris da história do prêmio.

Ele mereceu absolutaente por “The Searchers”, e não ganhou, uma pena, estava sensacional.

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Pedro, sim, o Oscar do Wayne foi para coroar uma carreira, muito parecido, aliás, com o Oscar conquistado pelo Bridges….

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Hailee Steinfeld é a alma do filme mesmo, desde a primeira cena vemos isso. Gosto bastante da narrativa e da forma como os Coen constroem essa atmosfera dura e pouco glamourosa do velho oeste.

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Interessante contar com seu olhar “desrespeitoso” ao western. Desrespeitoso no sentido de não ser reverente, nostálgico. De qualquer maneira, a análise que vc propõe ressalta tanto o brilhantismo do gênero quanto a qualidade desse trabalho dos Coen.
Bjs

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Confesso que fui ver esse filme porque vi dois dos atores que mais gosto no elenco: Jeff Bridges e Matt Damon. No fim das contas, saí do cinema apaixonado pela atuação da protagonista Hailee Steinfeld. Concordo com o Cristiano (primeiro comentário), mas estava na cara que a academia não iria premiar a candidata mais jovem (na cabeça deles, a menina tem muito o que aprender ainda).

Minha única ressalva em relação ao filme é a falta de ação, tendo em vista os clássico do “velho oeste”. Algumas cenas são prolongadas demais tornando o filme monótono em algumas partes. A recompensa acaba sendo as belas paisagens e fotografia das cenas em campo aberto (destaque para a última cavalgada de Bridges e a garota à noite).

:: Bjos, João Linno ::

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Amanda, concordo com seu comentário.

Reinaldo, nunca vi meu texto dessa forma. 🙂 Gostei da perspectiva que você jogou nele. Beijos!

João, acho que todo mundo saiu do cinema muito satisfeito com a Hailee Steinfeld. Acho que a falta de ação é um resultado da própria trama do filme. Não vejo isso como defeito mesmo. Beijos!

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Um filmaço mesmo, o refinado humor dos Coen combina maravilhosamente bem com as características dos personagens, que se tornam profundos nas mãos de Bridges, Damon e Steinfeld, que de coadjuvante nada tem. Os Coen acertam no tom, apoiados pelo primor técnico.

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Olha que em nem gosto dos Coen, mas quando eles fazem um western (gênero que idolatro), sempre acertam. Um dos meus favoritos da noite que sai sem nenhum prêmio. Uma pena.

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Cleber, concordo!

Roberto, obrigada pela indicação! 🙂

Luís, eu também não sou a maior fã dos Coen, mas gostei muito desse filme. Fiquei triste também porque saiu do Oscar sem qualquer prêmio. Uma pena mesmo!!!

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Achei uma baita surpresa o novo filme dos irmãos Coen. Fui ao cinema sem nenhuma expectativa e no fim adorei o trabalho da dupla. Uma de suas melhores obras, bonito, próximo de uma super produção e principalmente acessível (quando eu fui conferir o filme no cinema, a platéia ficou do início ao fim da projeção), mas sempre deixando o estilo dos irmãos presente na obra (ótimos diálogos, a violência quase gratuita e o humor negro). Achei justo as 10 indicações, mas estranhei não ter levado nenhum, afinal é um típico filme que agrada a Academia de cheio. E o elenco tá ótimo, destaque para Hailee Steinfeld, que está encantadora.

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Honestamente uma surpresa. Como você disse o gênero tem um tempo, uma série de detalhes que nem sempre me agrada. Mas esse filme difinitivamente me agradou. Uma bela surpresa.

Acompanho o trabalho dos irmãos faz algum tempo, e esse é um dos que mais gostei. Ele é muito bem executado.

A fotografia é lindíssima e as atuações muito convincentes.

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Fabrício, eu também assisti sem expectativas e me surpreendi com o resultado final. A obra, realmente, é bem acessível.

Carissa, exatamente. Eu não sou a maior fã dos Coen, mas eles me agradaram muito aqui!

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Dos 10 filmes indicados ao oscar de melhor filme falta ver esse é Inverno da Alma.Hoje vou assistir Minhas mães e meu pai.Espero ser um filmaço porque desde de Onde os Fracos Não Tem vez os irmãos Coen vem fazendo um filmaço atrás do outro(com destaque para Queime depois de ler que é otimo).Beijos e bom carnaval.

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Vi a primeira versão, com Wayne. Tá meio moda remake agora.

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Paulo, eu ainda não vi “Inverno da Alma” também! Acho que ainda falta outro, mas não me lembro! rsrsrsrsrsrrss Beijos!

Ruby, eu não assisti à primeira versão e fiquei curiosa para conferir depois de ver o remake, que está na moda, sim, em Hollywood, há muito tempo!

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