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Minhas Mães e Meu Pai

publicado em:17/03/11 10:30 PM por: Kamila Azevedo Cinema

Num mundo em que as relações familiares estão sendo redefinidas a cada momento, um filme como “Minhas Mães e Meu Pai”, de Lisa Cholodenko, não demoraria a aparecer. Nele, o núcleo familiar é formado por duas mães (Annette Bening e Julianne Moore) e seus dois filhos (Mia Wasikowska e Josh Hutcherson). Eles moram num bairro confortável, possuem uma excelente qualidade de vida e seus filhos levam uma vida de jovens comuns. Enfim, a dinâmica familiar deles é muito bem definida e bem resolvida.

O roteiro escrito por Cholodenko e por Stuart Blumberg nos coloca diante dessa família em um momento peculiar. Após completar 18 anos, a filha mais velha, com a conivência do irmão mais novo, decide procurar o doador de esperma que “viabilizou” a existência deles. É assim que Paul (Mark Ruffalo, indicado ao Oscar 2011 de Melhor Ator Coadjuvante) entra na vida deles. O doador de esperma é um homem interessante e acaba se encaixando muito bem na dinâmica familiar que Nic (Bening), Jules (Moore), Joni (Wasikowska) e Laser (Hutcherson) possuem. Mas, somente a presença dele na vida da família já é suficiente também para mexer com os relacionamentos deles, expondo rachaduras que, provavelmente, já existiam, mas que estavam encobertas.

Neste sentido, uma cena, particularmente, é muito reveladora. Nela, Jules faz um discurso sobre casamento. Nas palavras dela: “casamento é difícil… São duas pessoas caminhando arduamente sobre os problemas, ano após ano, envelhecendo, mudando. É uma maratona, ok? Então, algumas vezes, sabe, você está junto por tanto tempo, que você simplesmente para de ver a outra pessoa. Você começa a enxergar estranhas projeções de seus próprios defeitos. Ao invés de conversarem um com o outro, você sai dos trilhos e age feio e faz escolhas estúpidas”. Essa declaração poderia se encaixar muito bem também na convivência familiar. Nós, às vezes, magoamos as pessoas que mais amamos, mas nós perdoamos. A vida em família, a vida num relacionamento amoroso, a vida num casamento é uma provação, de certa forma. E é justamente isso que todos esses personagens irão passar no decorrer do longa.

“Minhas Mães e Meu Pai” tem sido particularmente elogiado em um aspecto: a atuação de Annette Bening, a qual rendeu à atriz sua quarta indicação ao Oscar. Num ano em que tínhamos a excelente atuação de Natalie Portman (a merecedora ganhadora da estatueta dourada), é até inconcebível que Bening tenha tido status de favorita ao Oscar em certo ponto da corrida ao prêmio. O grande mérito dela tem uma enorme “culpada”: Julianne Moore, uma vez que a performance de Bening é uma extensão do trabalho magnífico de Moore neste filme. As duas construíram aqui o mesmo que Heath Ledger e Jake Gyllenhaal conseguiram em “O Segredo de Brokeback Mountain”. O fato de Jules e Nic serem lésbicas é somente um detalhe. Elas são um casal normal e possuem uma família normal. Assistimos a pessoas críveis, em situações que são comuns a qualquer um de nós. Por transpor todas essas barreiras que “Minhas Mães e Meu Pai” se torna um filme especial.

Cotação: 8,0

Minhas Mães e Meu Pai (The Kids Are All Right, 2010)
Direção: Lisa Cholodenko
Roteiro: Lisa Cholodenko e Stuart Blumberg
Elenco: Annette Bening, Julianne Moore, Mark Ruffalo, Mia Wasikowska, Josh Hutcherson



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Comentários


Filmaço mesmo, é o segundo melhor filme do ano, ao meu olhar – é um filme atual, que trata o assunto de uma forma atual, muito bem escrito e dirigido, e com um elenco que dispensa comentários.

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Cleber, concordo que é um filme atual, que trata um assunto atual e que é muito bem escrito e dirigido.

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Perfeito, Kamila, assino embaixo de tudo o que você falou. Acho Julianne Moore perfeita nesse filme, a descrição dela sobre a relação a dois também. Como você disse, a convivência nos faz magoar quem mais amamos.

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Essa química que você falou foi, no frigir dos ovos, o essencial para o funcionamento do filme. Acho que alguns pontos a Lisa exagerou, mas no geral, realizou um filme sobre família.

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Amanda, exatamente. E isso é tão chato quando acontece, quando a gente magoa quem a gente mais ama.

Luís, concordo. Só discordo num ponto: não enxerguei exageros nesse filme.

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Esse filme se sustenta pelo roteiro e elenco.Roteiro porque Lisa Cholodenko sabe aonde quer chegar e não usa nenhuma amarra pra levar os personagens a nenhum lugar que torne a história esquematica.É honesta no tratamento dos personagens.E o elenco é um show a parte.Num post anterior vc havia sugerido a idéia de Julianne Moore ter sido indicada na categoria atriz coadjuvante e concordo contigo que foi um erro dos produtores,que convenhamos ela é uma atriz que vem merecendo um reconhecimento pela belissima carreira.Annette Bening otima como sempre.Desde de Beleza Americana que aconpanho a carreira dessa grande atriz.Mark Ruffalo só foi nomeado ao Oscar agora,apesar de merecer desde de Zodíaco.No filme o trio funciona bem.Agora o maior defeito é a direção.Tem um detalhe que eu não gostei que é o momento que Jules e Paul tem uma ardua relação sexual é a maneira de se filmar era de arrependimento(como Ang Lee filmou em Desejo e Perigo)e não de uma forma que expoe os atores.Também quando Nic vai ao banheiro de Paul e acha um fio de cabelo de Jules a sensação é de normailidade e Lisa Cholodenko não conseguiu passar a dramaticidade que a cinema pedia(ela devia aprender com Alexander Payne que filmou Miles bebado e arrependido muito melhor).Mas repito,o filme é honesto com os personagens e gostei da história.A direção me incomodou.Mas merece nota 8,0.Beijos.

*Não nasci em São Paulo(sou carioca),mas deixo meu registro pela morte do Cinema Belas Artes.Como já disse no blog do Hollywoodiano é uma pena não tombarem o cinema como patrimonio da cidade.

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Gostei do filme. Aborda uma temática que já se tornou comum no cinema (apesar dos tabus) de uma forma forma inteligente e descontraída. O casal Annette e Julianne funcionou muito bem. Foi também uma oportunidade para eu começar a gostar da Mia Wasikowska, porque em “Alice”… não deu.

Abs.

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Rafael W., concordo!

Paulo, eu não me incomodei com a direção, mas concordo com todo o resto. 🙂 Beijos!

João Linno, eu também gostei! Abraços!

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O filme tem uma bela discussão sobre casamento, seja hetero ou homo!

Não concordo que a Benning teve uma performance extraordinária, cultua-se qualquer ator qdo interpreta um gay, nem concordo tb q a Natalie teve essa performance tão inquestionável, foi a melhor do ano, mas cabe sempre discussão.

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Bom roteiro, belo elenco. Lisa Cholodenko quer mostrar como os adultos são mais imaturos que o jovem moderno. Para a diretora, o pai só atrapalha o casamento e a família.

Claro, isso quando o pai em questão é homem. Se duas mulheres fazem os papéis simultâneos de pai e mãe, além de marido e esposa, então tudo fica na mais perfeita ordem. Ok, não diria que a vida de Nic e Jules esbarre na perfeição, mas certamente a harmonia mora ali. Até o momento em que seus filhos decidem conhecer o pai biológico. Daqui em diante, a casa cai.

O filme é preconceituoso do avesso ;p

Bjs!

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Essa coisa da família é bastante interessante no filme pela defesa que o filme faz dessa instituição, mesmo que seja uma família gay. Por isso, no final é tão importante que o personagem do Ruffalo seja “dispensado” por eles pois a constituição daquela família é suficiente para se manterem bem. Memso assim, acho que o filme tropeça no desenvolvimento de alguns personagens, além de trazer algumas situações um tanto bobas. No fundo, não sou dos maiores fãs.

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Cassiano, qual foi a sua performance feminina favorita do ano??

Otavio, exatamente. Pode ser que ela tenha sido imparcial, nesse sentido. Mas, sua visão faz sentido, sim… rsrsrsrsrs Beijos!

Rafael C., exatamente. Só não acho que ele peca no desenvolvimento de alguns personagens!

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É… entendo essa afeição à família e a difícil rotina familiar. Mas não acho que o filme seja merecedor de um oito. Quanto ao texto, concordo com suas impressões.
Bjs

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Como você argumentou Kamila, a atuação da Bening é uma extensão da Moore, e talvez isso tenha me chateado: A Bening inidicada (até mesmo como favorita em algum momento como você disse), e a Moore ficando de fora. Mas isso é o Oscar o que podemos fazer.

Abs.

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Reinaldo, mas, se você concorda comigo, porque discorda da nota dada?? ssrrsrs Beijos!

Jonathan, eu queria ver as duas indicadas, pra dizer a verdade. Abraços!!!

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Tô pra escrever sobre esse. Mas adianto que não curti. Achei um desperdício de bons atores. Até começa simpático, mas desce a ladeira. Principalmente no terço final, quando vira um novelão mexicano.

Bjs!

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Dudu, não achei que o filme se transforma num novelão mexicano! Aguardando seu texto! Beijos!

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Gosto muito do filme, acho que o filme sabe dosar muito bem o drama com situações com leve humor. Gosto do elenco todo e também achei que Moore merecia figurar como indicada ao lado de Bening. Não entendi essa mancada do Oscar 2011, mas tudo bem.

Ah, Mia Wasikowska é ótima, só não gostei dela no “Chatice no País das Maravilhas”, mas quem conhece ela no “In Treatment” sabe como ela é talentosa, né?

Beijão

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Acho um bom filme, mas que me irrita por sua roupagem indie. O elenco todo é muito bom, mas, realmente (como você bem disse), a atuação premiada da Benning é uma extensão do desempenho da Julianne Moore. As duas estão ótimas, e mereciam reconhecimento – assim como o Ruffalo. Mas achei a indicação a melhor filme no Oscar um enorme exagero.

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ótima resenha de um filme que, para mim, foi uma grande surpresa. vi e ouvi muita gente falando mal do filme, mas eu gostei bastante. o discurso da Moore é realmente arrebatador, e serve para tantas coisas.

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Cristiano, eu também gostei bastante da obra. A Mia é muito talentosa, e fico feliz de ela estar tendo a chance de mostrar isso. Beijo!

Wallace, a roupagem indie não me irrita nem um pouco. Também acho a indicação ao Oscar de Melhor Filme um exagero.

Leo, obrigada!

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Kamila, adorei teu blog e tua critica sobre o filme, de fato eu tava fuçando na net pra achar a declaração de jules sobre o casamento, adorei!
tambem escrevo algumas coisas de cinema no meu blog gustavoccrosa.blogspot.com

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