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Uma Análise de “Big Love”*

publicado em:29/03/11 11:17 PM por: Kamila Azevedo TV

*Atenção aos spoilers.

Foi ao ar, no último dia 27 de março, na HBO Brasil, após cinco temporadas, o series finale de “Big Love”, série criada pela dupla Mark V. Olsen e Will Scheffer. Considerando a premissa um tanto polêmica do programa (as histórias eram centradas em uma família de mórmons fundamentalistas que praticavam a poligamia) e o fato de que os Estados Unidos podem ser um país um tanto conservador nesse sentido, até que o seriado ficou bastante tempo no ar. A explicação para isso é muito fácil: o carisma das personagens que formavam as sister-wives – Barbara Henrickson (Jeanne Tripplehorn), Nicolette Grant (Chloe Sevigny) e Margene Heffman (Ginnifer Goodwin) – e a jornada pessoal de Bill Henrickson (Bill Paxton), o personagem principal.

Analisando as cinco temporadas de “Big Love”, dá para se perceber o quanto que a história evoluiu. Com o tempo, o programa deixou de enfocar a luta de Bill por manter o segredo de sua família e a batalha interna com o patriarca Roman Grant (Harry Dean Stanton), pai de sua segunda esposa, Nikki, por causa da comunidade de Juniper Creek (foi ali que Bill nasceu e cresceu, antes de ter sido expulso por ele). A dualidade, aliás, entre a vida de Bill e sua família na cidade (onde ele era um empresário respeitado e bem-sucedido) e a vida em segredo dos valores perpetrados por Juniper Creek (comunidade que segue fielmente os preceitos da religião Mórmon do século XIX, com o casamento plural) foi um dos elementos mais importantes dessa narrativa, uma vez que Bill é descendente direto daqueles que eles acreditam ser o Profeta da religião e uma das maiores motivações de Bill era recuperar o prestígio e a influência de sua família (hoje, renegada) dentro da própria comunidade de Juniper Creek.

Bill Henrickson, diga-se de passagem, é um personagem que merece um destaque especial dentro das cinco temporadas de “Big Love”, porque foi ele quem mais mudou nesse período todo. Um homem que sempre advogou em causa própria, Bill é aquele tipo de pessoa que segue fielmente o princípio, a ponto de embasar toda a sua vida em cima desses preceitos. A realidade é que Bill sempre teve um complexo de mártir que o norteou desde o primeiro momento desse programa. Passada a vontade de ser o salvador de Juniper Creek, ele decidiu ser o messias do estilo de vida de sua própria família, ao, após ser eleito Deputado Estadual, se assumir publicamente como polígamo e passar a lutar pela aceitação dessa sua escolha, tentando afastar a vergonha que uma vida como essa passa para a maioria das pessoas.

Por outro lado, Bill, por muitas vezes, pareceu ser egoísta, um homem completamente insensível às necessidades das suas esposas. Tudo que ele passou com Barbara, com Nikki (a esposa que, talvez, mais entendesse as vontades dele, uma vez que ela é a própria personificação do tradicionalismo de Juniper Creek que Bill tanto valorizava) e Margene foi completamente compreensível, pois, por mais que ele dissesse que a família vinha sempre em primeiro lugar, no final, o que importava era aquilo que Bill pensava. Ele impôs coisas muito severas às suas esposas e filhos, os quais acatavam as decisões de Bill incondicionalmente. E isso é mais uma coisa a se valorizar dentro de “Big Love”: a questão do esteio familiar (mesmo que, nesse caso aqui, ele seja completamente inusitado) e do apoio (mesmo vindo à base de muito sofrimento e reflexão).

“Big Love” terminou no momento certo, em seguida a uma quarta temporada que foi quase que o beijo de morte do seriado, uma vez que o programa começou a seguir um rumo muito complicado e do qual quase não tinha mais volta – foram bastante noticiados, até, críticas da atriz Chloe Sevigny, nesse sentido (e olha que esse foi o melhor ano que ela teve no seriado, como atriz, chegando a vencer o Globo de Ouro de Melhor Atriz Coadjuvante). A partir dessa reviravolta, “Big Love” voltou à sua essência: a jornada de um homem pela compreensão daquilo que ele é e do que ele escolheu para si próprio. Talvez, por isso mesmo, a cena contendo o desfecho de Bill seja tão reveladora daquilo que é a sociedade atual, uma vez que temos muita intolerância dentro de nós mesmos e são vários os exemplos disso dentro do nosso dia a dia. Mais poderoso do que esse momento, só se for mesmo a cena final entre as três sister-wives, mulheres tão diferentes em personalidades, mas unidas por um mesmo propósito: o amor por um homem e pelos laços que todas elas firmaram com ele (e isso está muito bem representado pela linda música “God Only Knows”, do Beach Boys, que foi, por tanto tempo, a música de abertura do seriado). “Big Love”, com certeza, se redimiu. Pena que não há mais tempo para o reconhecimento em forma de prêmios…

Big Love (2006-2011)
Criação: Mark V. Olsen e Will Scheffer
Elenco: Bill Paxton, Jeanne Tripplehorn, Chloe Sevigny, Ginnifer Goodwin, Douglas Smith, Grace Zabriskie, Mary Kay Place, Matt Ross, Amanda Seyfried, Shawn Doyle, Melora Walters, Daveigh Chase, Bruce Dern, Harry Dean Stanton
Uma produção HBO



Jornalista e Publicitária


Comentários


Oi Kamila, tai um programa que parece bacana, mas infelizmente não vi. Gosto muito dos atores, especialmente a Ginnifer Goodwin, atriz aparentemente da mesma linda da Melanie Linksei , a eterna coadjuvante.

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Flavio, eu adoro a Ginnifer Goodwin também! E realmente o destino dela parece ser o de eterna coadjuvante.

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Aquela última cena do abraço e alguns ganchos em aberto foram perfeitos para uma série como Big Love. Terminou, como você disse, no momento exato e da forma adequada. É claro que minha admiração pela série surgiu mais por causa das sister-wifes do que o próprio Bill, mas achei o final tão ‘digno’ para ele, que gostei de verdade. Enfim, não entra no rol das minhas favoritas, mas com certeza é uma das mais regulares.

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Luís, do destino de Bill ao abraço, eu acho que as coisas foram muito corridas. Queria ter visto mais pra ser sincera…. Mas, terminou mesmo quando tinha que terminar. Eu gosto muito mais das sister-wives do que do Bill e acho que o destino dele foi o que tinha que ser mesmo.

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Não vi essa última temporada. Na verdade, parei na terceira. Mas o seu elogioso texto parece concatenado com a impressão geral da crítica acerca deste último ato da série. Para mim, Big Love já não era mais representativa,mas não deixa de ser agradável saber que a série se reencontrou no final.
Bjs

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Adoro seriados, mas acredita que nunca assisti um episódio de Big Love? Já pensei em assistir, ams já dou conta de muitas séries.

Está na minha lista para o futuro.

Beijos!!

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Quando estava terminando foi que me interessei pela série. Vou procurar os episódios que não assisti pra baixar. A trama realmente é ótima!

O que não coube no Jukebox (textos, poemas, matérias, pensamentos):
http://baudenotas.blogspot.com

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Reinaldo, a quarta temporada acabou com a série, para mim, mas a quinta meio que redimiu um pouco… Beijos!

Carissa, “Big Love” era bem legal, mas releve a quarta temporada. Beijos!

Roberto, a trama era ótima, sim!

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