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O Primeiro que Disse

publicado em:8/06/11 11:09 PM por: Kamila Azevedo Cinema

Por trás de uma família bastante caricatural, a comédia italiana “O Primeiro que Disse”, do diretor Ferzan Ozpetek, tem um conflito central que é bastante verdadeiro. Os pais sempre possuem expectativas enormes em relação aos seus filhos. Provavelmente, eles querem que suas crias sigam determinados caminhos na vida. Se esses planos não se concretizam, é inevitável o sentimento de decepção por parte deles. Porém, existe o outro lado: o dos filhos, que sabem que os pais são os pais deles, que eles sempre irão se preocupar com os filhos, mas, no fundo, existe aquele sentimento de que os pais devem amar suas crias e apoiá-las qualquer que seja a circunstância – mesmo naquela que não seja do agrado deles.

Tommaso Cantone (Riccardo Scamarcio) é produto de um ambiente como o retratado no primeiro parágrafo de nossa resenha crítica. Filho mais novo de um casal; herdeiro de uma indústria de macarrão; está sendo preparado pelo pai (Ennio Fantastichini) para assumir, junto do irmão mais velho (Alessandro Preziosi), o negócio familiar, apesar de sua vocação maior ser para a escrita. No decorrer dos 110 minutos de “O Primeiro que Disse”, não existem dúvidas de que a família Cantone é extremamente amorosa, entretanto o mundo que Tommaso conhece vai ser abalado quando Antonio revela ser gay – e essa opção sexual não vai ser bem aceita pelo pai, que chega a renegar o próprio filho.

Existe uma máxima de que os irmãos mais velhos sempre abrem caminho para os irmãos mais novos. Se Antonio foi “o primeiro que disse”, o grande conflito deste longa é o turbilhão interno de Tommaso para, num primeiro momento, esconder sua verdadeira opção sexual da família (acontece que ele também é gay e, após o ocorrido com Antonio, todas as expectativas dos Cantone são transferidas para ele e ele não consegue se abrir com ninguém); num segundo momento, tentar mostrar ao pai que não existe nada de errado em ser homossexual, de forma a ver Antonio de volta ao convívio familiar; e, num terceiro momento, o ganho de coragem dele para tomar as rédeas de sua vida, se assumir pelo que é e brigar pela sua felicidade – mesmo que correndo o risco de decepcionar o pai.

Chama a atenção em “O Primeiro que Disse” o fato de que uma trama tão complexa quanto essa é retratada de uma forma um tanto leve e divertida. O roteiro escrito por Ivan Cotroneo e Ferzan Ozpetek tem momentos cômicos que são utilizados justamente para reforçar o absurdo que é tentar viver uma vida de aparências ao esconder daqueles que você ama aquilo que você realmente é. Entretanto, é uma pena que o filme insista tanto em storylines paralelas, como a que revive o passado da avó de Tommaso, que pouco contribuem para o que realmente interessa para esta obra.

Cotação: 7,5

O Primeiro que Disse (Mine Vaganti, 2010)
Direção: Ferzan Ozpetek
Roteiro: Ivan Cotroneo e Ferzan Ozpetek
Elenco: Riccardo Scarmacio, Nicole Grimaudo, Alessandro Presiozi, Ennio Fantastichini, Lunetta Savino, Ilaria Occhini, Bianca Nappi, Carmine Recano, Massimiliano Gallo



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Comentários


Nossa, esse eu não conhecia mesmo. Confesso que o título diferente me deixou um tanto curioso. Ao que parece, uma história com uma temática densa, mas levada de maneira mais descontraída. Se houver a oportunidade, verei.

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Victor, exatamente.O filme tem uma temática densa, mas que é mostrada de uma forma um tanto leve e descontraída. É um bonito filme!

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Desde de Gomorra que eu não assisto um bom filme italiano.O último que assisti foi Baaría-A Porta do Vento de Giuseppe Tornatore e fiquei decepcionado.Um cineasta que entregou Cinema Paradiso que é uma obra prima(talvez a melhor declaração de amor ao cinema) e Malena(não tão magistral como Cinema Paradiso mas uma bela realização).Eu leio constantemente que o cinema italiano vive uma grande crise e Tornatore quando veio ao Brasil ano passado declarou no programa do jô que é a maior crise da história do cinema italiano.Vejo até a dificuldade dos filmes chegarem em DVD.Eu não conhecia “O Primeiro que Disse”,mas como Victor disse o titulo é bem inusitado para uma comédia.Se tiver a mesma qualidade que “Almoço em Agosto” aí deve ser uma boa comédia italiana Kamila.Beijos.

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Também não conhecia esse filme e fiquei curiosa, gosto da filmografia italiana em geral. Do diretor, acho bem interessante A Janela da Frente.

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Poxa, fui ver o filme é me decepcionei. Tinha gostado da sinopse mas algo no resultado não me deixou tão satisfeito. Acho que aquele desfecho poderia ter sido melhor.
Abraços.

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Paulo, eu gosto do cinema italiano e esse filme foi uma agradável surpresa. Assista, se puder. Beijos!

Amanda, não conhecia outro filme do diretor, mas anotei sua dica aqui! 🙂

Gabriel, eu gostei de todo o filme. Abraços!

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Interessante. Eu não conhecia o filme, mas me parece interessante.

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Bárbara, não sei onde você mora, mas espero que ele chegue na sua cidade logo.

Cassiano, como eu te disse lá: você, que é um apreciador de cinema italiano, vai adorar a obra.

Cleber, é interessante, sim!

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