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Um Lugar Qualquer

publicado em:16/06/11 11:14 PM por: Kamila Azevedo Cinema

É impossível não se lembrar de “Encontros e Desencontros” quando assistimos a “Um Lugar Qualquer”, filme mais recente da diretora e roteirista Sofia Coppola. Ambos os longas possuem vários elementos em comum, como: o protagonista saído do universo de Hollywood, os muitos vazios e silêncios presentes na trama e, para finalizar, a solidão extrema que as personagens principais compartilham. Não entendo por quê Sofia quis retornar a esse universo, mas a verdade é que, como filha de um dos diretores mais célebres da indústria cinematográfica hollywoodiana (Francis Ford Coppola), e como ela própria é uma habituée deste ambiente, este é um território o qual ela se sente mais que segura para abordar.

Johnny Marco (Stephen Dorff) é um famoso astro de filmes de ação. Você poderia pensar que ele tem o mundo aos pés dele, mas a verdade é que ele vive numa extrema solidão numa suíte do luxuoso hotel Chateau Marmont, em Hollywood. Ele é como se fosse a encarnação do personagem retratado por Roger Waters e David Gilmour na canção “Comfortably Numb”, do álbum “The Wall”, da banda inglesa Pink Floyd. Ou seja, a impressão que temos é a de que Johnny vive permanentemente entorpecido, inerte e completamente alheio ao mundo em que vive.

A única pessoa que parece penetrar – com muita dificuldade, uma vez que a garota tem plena certeza de que o pai está muito ausente de sua vida – a parede que Johnny colocou entre ele mesmo e o mundo é a sua única filha Cleo (Elle Fanning). É o relacionamento (ou o fiapo dele ou a ausência dele ou a vontade de ter uma conexão) entre Johnny e Cleo o elemento mais importante de “Um Lugar Qualquer”. Para citar mais uma vez uma outra música – dessa vez, “Vermelho”, de Marcelo Camelo – é como se Cleo chamasse o pai pro mundo e o fizesse sair do fundo de onde ele estava, de novo.

No papel, “Um Lugar Qualquer” parecia ser um filme perfeito, uma vez que ele tem uma premissa que permitia a Sofia Coppola uma abordagem muito interessante. Entretanto, é justamente a insistência dela nos silêncios (as únicas vezes em que Johnny esboça vontade de comunicação com as pessoas é com Cleo, com seu melhor amigo e com a sua agente) e nos vazios que fazem com que seu filme tenha um ritmo um tanto parado e lento. “Um Lugar Qualquer” nunca chega a decolar e nunca sai do seu marasmo – apesar dos esforços de Stephen Dorff, que, de longe, é a melhor coisa do longa, junto com o coadjuvante Chris Pontius, que dá a esse filme a vida que ele deveria ter.

Cotação: 4,0

Um Lugar Qualquer (Somewhere, 2010)
Direção: Sofia Coppola
Roteiro: Sofia Coppola
Elenco: Stephen Dorff, Elle Fanning, Chris Pontius, Michelle Monaghan



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Comentários


E pensar que Pontius, um dos astros de Jackass, iria tirar um elogio seu …
Mas o filme tem essa permanência de vazio tão difícil que não consegui passar dos primeiros minutos da fita.

Filmar um vazio é uma coisa … desenvolver a sensação de vazio é outra …

Beijos Milla.

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João, nem sabia que o Pontius era de “Jackass”, mas ele tá ótimo aqui! Adorei a participação dele. Eu concordo contigo. Passar a sensação de vazio é muito mais difícil que filmar vazio. E a Coppolinha não conseguiu isso aqui! Beijos!

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Esse filme é ruim demais Kamila, adoro a Sofia, mas nessa ela fez bobagens das grandes, o filme é mesmo um marasmo!

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Achei que foi até generosa com a nota. Coppola, a filha, tentou ser mais do que é em Somewhere. Muito silêncio, muita ambição e pouco resultado.

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Ah, Kamila, entendo o cansaço, mas eu devo dizer que gostei do filme. Foge do convencional, não há conflito a ser trabalhado, é um vazio incômodo, sim. Mas, foi a proposta dela, um experimento, que passa bem a sua visão do mundo artístico. Enfim. Mas, respeito e entendo sua opinião.

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Cassiano, eu acho a Sofia um tanto superestimada e concordo com você em relação ao filme.

Alexsandro, exatamente. Perfeito seu comentário!

Amanda, e eu respeito e entendo a sua! 🙂

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Assisti no cinema e olha, te contar que passei um raiva com esse filme… Respeito quem gosta e tudo mais, porém, ver um carro dando um monte de volta logo na cena inicial é coisa… de gente louca! Sério, não gostei de nada… Sofia não é pra mim! rs

[]s

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Raspante, eu também acho que o cinema dela não é pra mim. Dos filmes que ela realizou, só gosto mesmo de “Maria Antonieta”. Abraços!

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Não tem jeito de você gostar da Coppolinha, hein? Rs!
Mas, chegará um filme dela, num futuro próximo, que vai te fisgar de vez, verá! 😉

Beijo

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Primeiro:Eu sou fã do cinema de Sofia Coppola.Segundo:Eu entendo perfeitamente que não gosta dos filmes dela.Explico minha teoria.Cinema que o roteiro não é falado( na ordem narrativa)requer que o espectador sinta o que passa na mente dos personagens.Eu entendo a dor de Charlotte(Johansson)em Lost Tranlastion.Eu compreendo a decepção que o personagem de Bill Murray tem em passar dos 50 e ver a carreira naufragar e ter que ir pro Japão fazer um comercial de uísque.Eu entendo a dor dos personagens escritos por Sofia Coppola.Tudo no cinema de Sofia Coppola tem que ser “sentido” e não “falado”.Quando Johnny Marco(Stephen Dorff) olha com admiração Cleo(Elle Faning,tão talentosa como a irmã)patinando e deixa o celular de lado para admirar uma criação sua eu entendo o que passa na cabeça dele.Tudo na vida Johnny Marco é facil.Mulheres,carros de luxo,dinheiro e um conforto inestimavel.Mas o vazio interno é imenso,tudo na vida dele é igual e a filha muda a perspectiva dele.Repare Kamila que a primeira cena do filme é ele dando voltas em uma pista(se não me engano foram 4)e parando no mesmo lugar,a metafora que Coppola mostra é obvia:um sujeito que roda,roda,roda mas termina no mesmo lugar.A Mensagem é tão obvia que irrita quem não gosta do cinema da diretora,mas no meu caso foi uma forma de entender a vida de Johnny Marcco em uma cena.Você pode achar exagero da minha parte,mas no momento que ele liga para uma amiga e diz estar triste(uma das ultimas cenas do filme)e ela não da ouvidos a ele e logo após desligar o telefone ele chora de forma copiosa eu achei essa cena sublime.Delicada e muito bem dirigida.Nos extras de Um Lugar Qualquer Sofia Coppola diz que quando ela era criança tinha a visão parecida com a de Cleo e conta que o pai em uma viagem de lançamento de um filme em Cuba lhe apresentou Fidel Castro.Como a Coppolinha diz:imagina o que é isso na cabeça de uma criança?Sofia Coppola é Cleo.Ela foi criada em Hollywood.Pra ela é norma em uma festa ter vários astros de cinema e isso ela passa para o espectador.Outro detalhe que eu admiro no cinema dela:assim como na vida,os filmes de Coppola não tem resolução e nem final feliz.Bob não fica com Charlote e Johnny Marco não encontra a felicidade.O destino é assim e vai ser,como tudo na vida.Os erros do passado muitas vezes não tem como corrigir.A cena final de Encontros e Desencontros é linda e de uma delicadeza sem tamanho.Só pertence aos dois o que foi dito.A história é deles.E Um Lugar Qualquer é tão sublime como Encontros e Desencontros.Um dos melhores filmes do ano passado injustamente esquecido das premiações.

Alexsandro Vasconcelos:Cara eu acho que Sofia Coppola não foi ambiciosa nesse filme.Ao contrário de Maria Antonieta que tudo era muito estudado(direção de arte,figurino e a parte histórica) esse filme é quase uma obra experimental.Talvez por isso ele foi compreendido na itália onde ganhou o leão de ouro em Veneza.O cinema de Coppolinha muitas vezes lembra o de Wong Kar-Wai(vejo muitas semelhanças entre Amor à Flor da Pele e Encontros e Desencontros).Eu entendo sua colocação mas na minha opinião o que faz desse um grande filme é que ele não tem grandes ambições artisticas.É puramente autoral.Abs.

“Sentimentos que não cabe em palavras.Esse é o cinema de Sofia Coppola”

Paulo Ricardo

Beijos Kamila e só eu gostei do filme rss.Não tem ninguem para me ajudar a defender a Coppolinha não?

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Cristiano, vocês estão exagerando. Não é que eu não goste da Coppolinha. Só acho que, pro que ela fez até hoje, ela é um tanto superestimada… Beijo! E espero que ela me surpreenda positivamente, algum dia.

Kahlil, assista, sim!

Paulo, não foi só você que gostou do filme. Muitas outras pessoas gostaram e acredite já defenderam bastante a Sofia antes de eu postar esse texto aqui! rsrsrs Seu comentário tá muito bem escrito, mas não me faz mudar de opinião sobre este filme em particular. Concordamos, no entanto, que a Coppolinha escreve sobre aquilo que ela viveu e conhece bem. Beijos!

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O mais legal da sua crítica é que, tal qual Sofia Coppola, vc se esmera em músicas para justificar seus argumentos. Gostei dessa metalinguagem…
Bem, concordo em linhas gerais com sua avaliação, só não acho que Stephen Dorff seja a melhor coisa do filme…

Beijos

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Assino em baixo. Sofia Coppola me encantou com Encontros e Desencontros e até Maria Antonieta foi um bom filme pra mim, mas tudo segue a mesma linha. Esse hedonismo dela está tão presente nos pseudoexistencialistas e tediosos personagens de Um Lugar Qualquer que o filme, por mais que tenha uma ideia por trás disso tudo, acaba se tornando um exercício maçante.
Abraços.

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Com “Um Lugar Qualquer” eu, definitivamente, desisto da Sofia Coppola. Cansei de ver sempre os mesmos questionamentos em filmes praticamente iguais mas que só ficam ainda mais chatos!

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Reinaldo, obrigada! Essa foi a maneira que eu encontrei para tentar compreender esse filme, preencher esses vazios que ele tem. Beijos!

Gabriel, perfeito comentário! Abraços! Com a exceção de que eu gosto bastante de “Maria Antonieta”.

Matheus, assino embaixo do seu comentário!!!!

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Um brinde de Sofia Coppola, em um filme e vazio e ao mesmo tempo repleto de sentimento. O seu silêncio é a forma mais linda e perfeitamente de mostrar um homem e sua relação com a filha. É um passo mais próximo de ‘Encontros e Desencontros’ e mais longe de ‘Maria Antonieta’ ainda assim, acho esse o melhor de Sofia, tudo porque tem momentos únicos, bonitos, ternos e inesqueciveis 😉

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Otavio, PERFEITO! rsrsrsrs Beijos!

Cleber, eu discordo de você, mas entendo os fãs dela… Paciência! rsrsrss

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