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Reencontrando a Felicidade

publicado em:8/08/11 10:23 PM por: Kamila Azevedo Cinema

“Reencontrando a Felicidade”, título nacional da obra dirigida por John Cameron Mitchell, é uma tradução totalmente equivocada, uma vez que, no roteiro escrito por David Lindsay-Abaire com base na peça de sua autoria, o casal formado por Becca (Nicole Kidman, em atuação indicada ao Oscar 2011 de Melhor Atriz) e Howie (Aaron Eckhart) não procura a felicidade. Eles desejam colocar a vida da família nos eixos após a morte trágica – e inesperada – de seu único filho, atropelado aos quatro anos na porta da sua própria casa.

No decorrer dos 91 minutos de duração deste filme, um único sentimento permeia toda a ação de “Reencontrando a Felicidade”: o de que a vida é uma coisa absolutamente normal até que algo inesperado acontece e nos pega de guarda baixa. Quando a obra começa, encontramos Becca e Howie oito meses após a morte de seu filho Danny e ambos parecem estar em caminhos distintos: enquanto Howie se esforça para parecer que está dando continuidade à sua vida, Becca vive inerte, com um olhar perdido e se recusa a deixar as pessoas mais próximas – além do marido, a mãe Nat (Dianne Wiest) e a irmã Izzy (Tammy Blanchard) – a ajudarem a superar a perda que teve.

A verdade nos é revelada aos poucos pelo roteiro de David Lindsay-Abaire: Becca e Howie não estão em caminhos distintos. Cada um, a seu modo, entrou num estado de negação sobre tudo que aconteceu. E eles reagem à perda de um modo muito particular: Howie se prende à memória do filho assistindo escondido a vídeos de momentos vividos com Danny no celular e Becca se encontra escondido com o motorista do carro que atropelou seu filho. Ambos procuram respostas, mas isso não é o que interessa ao roteirista. O que ele quer nos mostrar é que é necessário uma boa dose de força – e de amor – para dar aquele primeiro passo que significa a retomada da vida após a passagem por uma situação tão traumática quanto a que esse casal viveu.

O que chama a atenção em “Reencontrando a Felicidade” é o fato de o diretor John Cameron Mitchell retratar uma trama que tem um potencial tão forte do ponto de vista dramático de uma forma um tanto contida. O filme é muito retraído, talvez para reforçar o sentimento de que estamos diante de pessoas em constante estado de negação. Os momentos de maior emoção são justamente aqueles em que temos um pouco de exagero – o que chega até a ser bem vindo, para a gente ver mesmo que, dentro de Becca e Howie, existe dor, existe vontade de viver.

Neste sentido, além do excelente roteiro de David Lindsay-Abaire, e, claro, da direção de John Cameron Mitchell, os elementos de destaque de “Reencontrando a Felicidade” acabam sendo a atuação de um elenco altamente consistente, que consegue passar com um realismo notável a sensação de que o peso da perda vai se dissipando aos poucos, uma vez que esta é uma dor que nunca passa. Mas, a gente segue em frente, especialmente porque tem uma vida toda a nos esperar, como bem mostra a linda cena que encerra este filme.

Cotação: 9,5

Reencontrando a Felicidade (Rabbit Hole, 2010)
Direção: John Cameron Mitchell
Roteiro: David Lindsay-Abaire (com base na peça de sua autoria)
Elenco: Nicole Kidman, Aaron Eckhart, Dianne Wiest, Tammy Blanchard, Sandra Oh, Giancarlo Esposito, Jon Tenney



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Comentários


Ótima crítica! É um filme muito bonito, que não subestima a inteligência do público. Mesmo sendo forte, em nenhum momento cai num dramalhão fácil. A cena filma é realmente a mensagem completa do filme, que ensina que deve-se seguir em frente e continuar o caminho, por mais duro que seja.

Preciso revê-lo com o tempo. =]

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Um filme belíssimo que segue em frente na sua busca por uma razão dos personagens. A cena final é realmente linda e me deixou boquiaberto, e Kidman e Eckhart tem atuações envolventes e cheias de motivações. Além disso, os diálogos do filme são um primor, clamando a todo momento por uma vida que parece ser inexistente após a perda.

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Também gostei muito desse filme por relatar com sensibilidade a dor e o luto de cada um, mostrando que lidamos com a falta e a força de voltar a normalidade de uma forma muito pessoal e única. Uma bela surpresa para quem já dirigiu o também o muito bom Hedwig. Ainda não vi Shortbus, o que me deixa com grande expectativa.

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Victor, obrigada! Concordo com seu comentário! E também quero muito rever essa obra.

Gabriel, concordo com seu comentário também!

Fabrício, eu não vi nem “Hedwig”, nem “Shortbus”, mas, sabendo do conteúdo dos dois filmes, também é uma surpresa ver o John Cameron Mitchell dirigindo um drama intimista da forma competente que fez. Muito bom e uma prova do enorme talento dele para a direção!

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Belo filme, real, bonito e, ainda assim, melancólico. Adoro a atuação de Kidman aqui, mas, sinceramente, Eckhart também merecia uma indicação ao Oscar. Um ator muito bom que não perde no quesito interpretação aqui. O filme é muito íntimo, parece que estamos conectados com a dor e necessidade de viver dos personagens.

Bom demais mesmo. Nota 9,5, com certeza!

bj

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Cristiano, o Eckhart está muito bem mesmo, poderia, sim, ter sido lembrado, até porque ele é sempre muito sólido em suas atuações. Beijo!

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Um filme forte, sensível e que nos transporta para o centro do conflito que o casal se encontra. Consigo lembrar de algumas cenas que me impactaram bastante no filme. Aquela em que Becca está no supermercado e discute com uma desconhecida é uma delas.

bjs.

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Um filmaço mesmo, Nicole Kidman consegue transparecer a dor de sua personagem de forma perfeita, sem passar por um melodrama John Cameron também dirigi perfeitamente, apesar do péssimo titulo nacional o filme acerta o tom e passa a mensagem de forma certa.

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Ótima crítica Ka. Só que discordo de vc em dois pontos. Não acho que o filme seja retraído e que Mitchell esteja contido. Concordo que poderia ser mais espetaculoso, mas acho que a mão pesa um pouco sim… o que não tira o brilho do ótimo elenco e a sensibilidade do excelente roteiro.
Bjs

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João Linno, essa cena do supermercado é uma das mais impactantes do filme, sem dúvida. Beijos!

Cleber, concordo!

Reinaldo, obrigada!! Eu acho que a mão pesa um pouco em algumas poucas cenas, em que acontece o exagero que eu falei, como a do supermercado e a que o Howie estoura com a Becca. Mas, não acho que isso tira o brilho do elenco e do roteiro, como você bem diz. Beijos!

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Repito … a cena do celular … frisson até dizer chega …

Agora entendes o texto que fiz do inicio do ano sobre ele e Inverno da Alma … uma musa (para alguns) volta provando que pode fazer a diferença em um filme simples, porém de uma emoção forte e verdadeira …

… pensava que iria rolar tapa naquela cena … uma prova de como um filme consegue envolver seu espectador de uma maneira sem igual.

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João, essa cena é uma das exageradas, que eu falei, mas eu entendo o exagero e a emoção naquele momento. Sim, entendo, sim, aquele teu texto. São emoções fortes e verdadeiras, sem dúvida alguma.

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Não pude conferir esse ainda, mas quando tiver oportunidade assistirei! Mais por ter minha amada Nicole Kidman do que qualquer outra coisa! rsrs

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Kamila desculpe-me por fugir do assunto, mas você poderia me responder quais são seus atores e atrizes favoritos?

agradeço desde já pela resposta.

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Eri, a Nicole está excelente aqui! Você irá gostar!

Luís Fernando, atores favoritos: Edward Norton, William Holden, James Stewart, Sean Penn, Selton Mello, Jim Caviezel, Wagner Moura, Ralph Fiennes. Atrizes favoritas: Audrey Hepburn, Judy Garland, Grace Kelly, Naomi Watts, Rachel Weisz, Julianne Moore, Claudia Abreu, Romola Garai, Nicole Kidman, Débora Fallabella.

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Me surpreendi com o tratamento que o roteiro faz do luto, sem nunca soar forçado ou mostrando pena de seus personagens. A própria Becca, nesse estado de inércia, luta muito para tentar sair disso, não existe um clima de depressão total por parte da personagem, embora para ela ainda seja difícil. Gosto muito também da relação dela com o jovem atropelador, pouco comum e revelador em alguns sentidos. E a Nicole Kidman renasceu das cinzas aqu, né. O desempenho dela é dos mais potentes, sem ser exagerado. Só não sei se entra na minha lsta de melhores atuações do ano porque esse ano a coisa tá muito acirrada para as atrizes.

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Rafael, também me surpreendi com o tratamento que o roteiro faz do luto. A Nicole totalmente renasceu das cinzas com esse filme. Uma atuação maravilhosa, que lembra aquele período áureo dela pós-separação do Tom Cruise.

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O que mais gosto no filme é o roteiro e a forma como ele vai nos contando aos poucos o que aconteceu. Apesar de as atuações serem mesmo muito boas. Já o título brasileiro é mesmo lamentável.

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Amanda, também adorei a falta de pressa do roteiro em desenvolver a trama, dando tempo ao tempo para as coisas acontecerem na hora certa.

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Pedro, não é que eu não goste da Kate Hepburn. Acho ela uma grande atriz, mas só não é uma das minhas favoritas…

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[…] Além do excelente roteiro de David Lindsay-Abaire, e, claro, da direção de John Cameron Mitchell, os elementos de destaque de “Reencontrando a Felicidade” acabam sendo a atuação de um elenco altamente consistente, que consegue passar com um realismo notável a sensação de que o peso da perda vai se dissipando aos poucos, uma vez que esta é uma dor que nunca passa. Mas, a gente segue em frente, especialmente porque tem uma vida toda a nos esperar, como bem mostra a linda cena que encerra este filme. (Crítica publicada em 08 de agosto de 2011) […]

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