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Cópia Fiel

publicado em:2/11/11 11:35 PM por: Kamila Azevedo Cinema

James Miller (William Shimell) está em um pequeno vilarejo da região da Toscana, na Itália, para uma evento de divulgação de seu último livro, que tem como tema: o valor da cópia quando comparado ao trabalho original de arte. Durante um evento, uma mulher chamada Elle (Juliette Binoche) lhe dá seu endereço. No dia seguinte, eles se encontram para um passeio no vilarejo com hora marcada para terminar, uma vez que, às 21h daquele mesmo dia, ele precisa estar na estação para pegar um trem rumo à sua cidade natal.

Analisando somente esta premissa, fica uma primeira impressão de que “Cópia Fiel”, filme escrito e dirigido por Abbas Kiarostami, tem um quê de “Antes do Amanhecer”, filme de Richard Linklater, que fala sobre o encontro entre dois seres que nunca tinham se visto antes, que passam um dia juntos e estabelecem entre si uma ligação única,  algo raro de se acontecer, especialmente em se tratando das circunstâncias que levaram ao encontro entre eles. Porém, não existe nada de romântico no encontro entre James e Elle. E muito menos o encontro entre essas pessoas é comum, como longas como esses querem reforçar para a gente.

A verdade é que, na medida em que a trama de “Cópia Fiel” avança, o público vai entrando em contato com a verdadeira natureza do relacionamento entre James e Elle – por meio de cenas que mostram conversas triviais, que vão desde a discussão das mais variadas formas de arte encontradas no vilarejo, passando pela fase difícil de pré-adolescência do único filho dela, até culminar naquilo que James e Elle estavam – provavelmente – tentando evitar de falar. O curioso nesse jogo de conversas, aparentemente, rotineiro é que Abbas Kiarostami desenha isso de uma forma que a gente não sabe se o que estamos assistindo, pra fazer um trocadilho com o título do longa, está sendo a cópia de uma realidade emprestada ou a fidelidade desta realidade.

Por ser um filme que se passa em espaços fechados, com o foco totalmente no roteiro e nos diálogos travados pelos dois atores que interpretam James e Elle, “Cópia Fiel” é um longa que possui características um tanto teatrais. O grande desafio da obra, aliás, está no trabalho de composição de James e Elle – especialmente na forma como as personalidades deles vão se desnudando pra gente. Está neste aspecto o ponto mais positivo deste trabalho do diretor e roteirista iraniano Abbas Kiarostami, bem como na performance premiada no Festival de Cinema de Cannes 2010 de Juliette Binoche. Um belíssimo trabalho de atuação da francesa, como uma mulher que vai da força à vulnerabilidade em questão de segundos.

Cotação: 7,0

Cópia Fiel (Copia Conforme, 2010)
Direção: Abbas Kiarostami
Roteiro: Abbas Kiarostami
Elenco: Juliette Binoche, William Shimell



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Comentários


achei um filme bem interessante, com uma atuação boa do casal e q rende algumas interpretações, não é uma obra de muitas soluções, mas mesmo assim se notabiliza como uma realização acima da media. Abs!

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Obra-prima! “Cópia Fiel” levanta diversos questionamentos, tanto de perspectiva artística quanto humana. É um filme riquíssimo, trabalhado em diálogos marcantes e detalhes que repercutem significados importante à história. O casal é exemplar, com detaque para Binoche, que transcende e entrega uma das melhores atuações femininas dos últimos anos. Acho que o filme revoga a teatralidade, é até dinâmico para essa estrutura. Kiarostami em um de seus melhores momentos. Filme inesquecível mesmo *.*

Bjs, Ka!

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Celo, concordo com seu comentário! Abraços!

Elton, gostei pra caramba do seu comentário e concordo com várias coisas que você escreveu! Beijos!

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Kamila você traduziu de forma brilhante esse belissimo filme.Não vou ser estraga prazer de revelar o motivo do encontro entre James e Elle(você não revelou,não vou ser deselegante.Mas quem tem experiencia em filmes já imagina o que é).Legal você fazer esse paralelo com “Antes do Amanhecer”.Antes de qualquer coisa um filme com um formato teatral(como voce citou) tem que ter um excelente roteiro.O roteiro não pode ter “barrigas” e o desempenho do filme depende principalmente dos atores(uma vez que esse tipo de filme não tem coadjuvantes).Sua nota 7,0 foi perfeita porque o filme tem um roteiro que muitas vezes sai do tema central da dupla de atores.O roteiro não é ruim,mas demora a chegar a uma conclusão.William Shimel não é um grande ator como Ethan Hanke,então fica dificil se identificar com os dilemas dele.Ele não convence,fica com a mesma cara o filme todo.Já Juliette Binoche…olha Kamila,a cada ano ela esta mais bonita,mais talentosa e tira o máximo de papéis mal escritos(Anti Heróis),não é vaidosa e “interage” com seu par em cena(Eu,Meu Irmão e a nossa Namorada e Caché) e sustenta um filme pelo seu carisma(Chocolate).Com tantos filmes mediocres “Cópia Fiel” se sobressai pelo talento de Juliette Binoche e Abbas Kiarostami(vou procurar outros filmes dele,esse foi o primeiro que eu vi).Beijos.

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Pra mim, um filme de atuações, já que a proposta parece funcionar melhor na teoria do que na prática. “Cópia Fiel” é meio maçante, mas as atuações compensaram: tanto a Binoche quanto o Shimell está maravilhosos!

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Cópia Fiel tem uma força nos diálogos e na direção, o que não impede o filme de ficar maçante como o Matheus aí em cima falou. Mas na metade eu acabei me ligando mais, me perguntei se o que eu estava assistindo estava lá por todo esse tempo ou se era apenas uma cópia fiel da realidade emprestada. E Juliette Binoche está assombrosa.
Abração!

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Paulo, eu não poderia ter dito melhor. Belo comentário!

Matheus, concordo. É um filme de atuações.

Gabriel, não achei que o filme fica maçante, pra ser bem sincera. Acho que, se existe isso, então é um problema de roteiro e de direção. Os atores são o grande destaque do filme. Abraço!

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Esse eu ainda não vi, mas adoro o trabalho da Juliette Binoche e me interessei. Gostei do texto.

Beijos!

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Gosto bastante da Juliette , acho ela uma grande atriz. Confesso que tive um pouco de dificuldade com este filme, devido a narrativa um pouco lenta demais – mas isto é irrelevante – pois o trabalho de Juliette e de Shimell é muito bom.

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queria ter visto no cinema, MAS o filme fez o favor de não aparecer nos cinemas de minha cidade. vou ver mais pela bicnoche, atriz que gosto bastante desde ‘a liberdade é azul’.

[]s

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João Linno, se você gosta da Juliette Binoche, então, vai amar o trabalho dela aqui! Beijos!

Flavio, eu também gosto da Juliette. E concordo com a segunda parte de seu comentário.

Raspante, uma pena que o filme não tenha aparecido nos cinemas daí, mas acho que ele já foi lançado em DVD. Depois procura. 😉 Abraços!

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Uma crítica comedida para um filme detentor de uma proposta das mais interessantes e uma execução, não diria das mais frustrantes, mas das mais triviais.

bjs

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Eu gostei desse filme, acho ele uma conversação digna … Binoche está muito boa, e eis que me pergunto onde é que as coisas de nossas vidas começaram dar errado, rs? Me encatei com os diálogos.

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Reinaldo, pois é… Esse seu comentário resume em poucas linhas o que esse filme é. Beijos!

Cleber, os diálogos são excelentes mesmo!

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Filmaço e um dos melhores do ano passado. Binoche é um encanto, e pra quem curte diálogos Cópia Fiel é um prato cheio. Lembra muito Antes do Pôr-do Sol.

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Andinhu, concordo com tudo que você disse, exceto sobre a parte de “Antes do Pôr-do-Sol”.

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Assisti ao filme ontem e, hoje, pesquisando as críticas na internet, li uma diversidade de opiniões: “filme para pedantes”, “maçante”, “obra prima” e por aí vai. Porém, a que mais me chamou a atenção foi uma que o crítico alegava que o casal, desconhecido, resolveu “brincar” de casados, após o engano da dona da cafeteria. Não concordo. Assisti três vezes seguidas para captar possíveis furos no roteiro ou indícios de que era encenação dois personagens e consegui chegar finalmente a uma conclusão, observando as seguintes cenas: Elle, quando esgota as possibilidades de manter o filho quieto na palestra, deixa um bilhete para James, onde “pode” conter a ideia de fantasiar serem desconhecidos um do outro, sentimento denunciado pela atuação da Juliette, que expressa corporalmente uma certa ansiedade criativa naquele momento; todas as cenas do filho indicam ciúme da mãe com aquele a quem denomina ” o escritor”, que é indício do distanciamento entre pai e filho, e o garoto transparece perceber a crise do casal, quando a questiona sobre ela estar “demonstrando interesse novamente pelo homem”; a casa da mulher possui uma saída externa que possibilitaria a simulação da visita do escritor à loja; a protagonista se irrita muito facilmente com James apenas porque ele incluiu uma dedicatória no livro da irmã, Marie, reação bastante estranha vindo de uma fã.
Poderia citar mais uma dúzia de indícios, porém não há necessidade, porque o que, na minha opinião, foi a prova final da existência do casamente de 15 anos, foi a cena da barba. Elle havia “inventado” para a cafeteira que o marido não fizera a barba no dia do casamento porque segundo ele mesmo, “só faz a barba de dois em dois dias”. Lá adiante, na cena da escadinha da pensão, ela se queixa da barba dele estar por fazer bem no dia do aniversário de casamento e qual a resposta dele? Então, como ele poderia saber da “invenção” da mulher, se ele estava lá fora da cafeteria falando no celular?

Para aqueles que gostaram do filme, tenham o prazer de revê-lo e para os que não gostaram, sinto muito.

Sandra

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Cristiano, sim, a premissa é bem interessante. Acho que você vai gostar do filme, quando o assistir. Beijos!

Sandra, perfeita a sua interpretação e acho que pode ser isso mesmo que você captou. Quando rever esse filme, tentarei vê-lo da sua perspectiva. Abraços!

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